Fluminense

Não acompanho o dia a dia do Fluminense. Não moro no Rio nem sou setorista do clube para ter tal possibilidade. Assim, assisto e comento o que acontece no Flu como um leigo, um observador. Acho importante fazer a distinção para estabelecer que não me acho o dono da verdade e que esses comentários não refletem nenhuma pretensão de adivinhar nada.

Mesmo com minhas limitações, não é difícil ver que o Fluminense continua sendo devorado em suas entranhas por uma bactéria gerada nos pequenos núcleos de poder. O poder é difuso no clube. O comportamento errático dos jogadores sugere que eles não sabem quem é que devem obedecer. Por exemplo: se o treinador dá uma ordem e eles não concordam, têm recursos interpessoais para contestar a ordem, como por exemplo, pedindo a um conselheiro que intervenha ou coisas assim.

Esse é um roteiro certo para o rebaixamento. Luiz Felipe Scolari é um baita treinador, mas tropeçou na falta de uma assessoria de imprensa capaz de lidar com a violência da mídia inglesa e da falta do poder “Total” que teve no Grêmio, no Palmeiras, no Cruzeiro, na Seleção e em Portugal. E hoje – e já há tempos – é nítido que os treinadores se submetem à vontade de eminências pardas (segundo dizem, o dono da patrocinadora do clube).

Um outro ponto é que o Fluminense é – já há tempos – supervalorizado em suas capacidades. Não, há, por exemplo, em todo o elenco defensivo do time, um jogador acima da média. E há vários abaixo dela. No meio-campo, Conca é o único que pode se sobressair e no ataque, Fred, excelente atacante, vem de uma experiência em Lyon onde seu caráter e profissionalismo foram duramente contestados publicamente pelo presidente do clube francês, Jean Michel Aulas.

Se o Fluminense não colocar ordem na casa – ou seja, determinar quem é que manda e deixar cada um cuidar de sua competência – vai ser rebaixado. O time não tem força espetacular em nenhum aspecto – técnico, tático, organizacional, psicológico, de união – e tem fraquezas sérias em cada um desses quesitos. Renato Gaúcho pode rebaixar seu segundo clube carioca em dois anos, caso não seja demitido antes. Ele não é mau técnico, ao contrário do que tudo indicava. Precisa ser esperto e corajoso para exigir poder total e expulsar os “come-dorme” do seu time e suas adjacências. Contratar mais meia dúzia de medalhões não vai adiantar nada.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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