Estava no ar

Esqueça todo o conversê que você possa ter ouvido sobre “mágoas de Kaká”, “frieza do Milan” ou “o clube precisa de dinheiro”. Kaká vai ao Real Madrid porque quer e também porque o Milan não é burro. Nenhum dos dois é inocente e como sempre, quem define o que rola é a grana. Kaká queria ir ao Manchester City sim. seu pai-procurador não fazia outro que negociar aumentos com a diretoria do Milan desde que ele ganhou a Bola de Ouro. Assim, elevou seu salário de €4.5 milhões para €7mi em dois anos – o maior do Milan de longe. O City era outra alçada. Uma proposta ridiculamente alta e Kaká sentiu-se tentado, mas sabia que entraria numa esfera “Robinho”, onde ganharia muito jogando Copa Uefa.

O Milan também não foi inocente e a conversa de Berlusconi de que queria manter Kaká era balela. Por €100 milhões, ele venderia a mãe e o pai. Uma proposta dessas era mesmo irrecusável, especialmente num momento em que com 20% disso se compra um titular de seleção importante.

Foi aí que entrou o protesto da torcida milanista. Os milhares de pessoas à frente da casa de Kaká em Milão botaram medo no clube e no jogador e seu pai. Ali teriam de assumir as responsabilidades de querer levar a coisa adiante porque queriam mais dinheiro – o que é absolutamente legítimo, mas não pega bem com torcedor. Kaká se deu conta que €7m por ano não era pouco e que o Real Madrid teria Florentino Perez e uma proposta parecida em junho. Como está acontecendo.

O negócio do Real é bom para Milan e Kaká. O “feeling” entre clube e jogador já se rompeu há tempos, desde que o pai de Kaká visita Milanello bimestralmente exigindo elevações de salário. Não ajuda o fato de a diretoria do Milan deixar claro que Kaká tem preço – ainda que alto. Com €80mi, o Milan poderá ir atrás de alternativas validíssimas a Kaká. Mesmo que ele seja um fora de série, joga numa posição que deixa-o difícil de ser escalado – o time tem de se adaptar. Kaká está vendido, jogará num grande time e ganhará muito dinheiro – assim como o Milan. Mas nenhum dos dois está sendo violentado para fazer a transação, assim como querem fazer parecer.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.

5 Comments

  1. Do Daily Mirror: Chelsea are still watching with interest after the midfielder's incredible financial wish-list left the Spanish giants reeling.

    Real thought the deal was virtually done with a £60million offer to AC Milan. But Kaka's father and agent Bosco Leite has now put the move in jeopardy with his list of extra want £10m commission for himself, a £10m signing-on fee for the player, plus a transfer and £1m signing-on fee for Kaka's brother Digao.

    Ok, a fonte não é lá das mais confiáveis, mas seria interessante o pai do Kaká começar a tomar mais cuidado… Os caras não inventaram isso do nado. Interessante, bem interessante.

    Ah, os grifos acima são meus.

  2. Também não acredito em inocentes nessa negociação. Qualquer pessoa minimamente inteligente percebe que todos possuem seus interesses e estão em pleno direito de lutar por eles. E concordo contigo que essa negociação parece já ter sido selada. Só discordo quanto ao motivo. Pode envolver a questão da imagem – não vamos esquecer que o capo do clube é um político -, mas Berlusconi sabe que é arriscado anunciar esse acordo sem ter um ou dois bons motivos para que ele tivesse sido realizado. E isso significa ao menos um jogador de bom nível contratado quando Kaká desembarcar em Madri. O próprio Berlusconi não tem nenhum interesse em uma desmobilização da torcida. Ele precisa vender os pacotes de pay-per-view da Mediaset Premium e carnês para a próxima temporada. Pobre Galliani. O relógio já está correndo…

  3. Ainda acho que Kaká queria permanecer no Milan e nunca escondeu isso.
    Mas a atitude de Berlusconi que se mostrou disposto a vendê-lo para qualquer um, meio que o obriga a aceitar o convite do Madrid, o que não deixa de ser uma ótima opção, claro.
    No fim, acho que se o Milan realmente quisesse a sua permanência bastaria anunciar isso.
    Por não se tratar de um Ibrahimovic da vida, ele cumpriria seu contrato sem reclamar e feliz da vida por atuar num gigante europeu onde se sente à vontade e é muito bem pago por isso.

  4. Kaká tem o direito de ir para onde quiser: só precisa assumior que ele, seu pai e o clubem querem mais dinheiro – todos os três. Nenhum deles é inocente ou vítima.

  5. Sempre tive a firme convicção de que o salário alheio não me diz respeito. E nesse caso não é diferente. Essa conversa fica restrita ao jogador, ao clube e, finalmente, ao fisco italiano. Naquilo que sempre foi o objeto da minha análise, a performance do atleta em campo, nunca existiu um único senão em relação ao Kaká em todo o período em que ele esteve em Milanello. Logo, não posso deixar de dizer que sou imensamente grato a tudo que ele fez em prol do clube ao longo desses seis anos. E já torço para que um dia possa retornar e marcar seu centásimo gol com a maglia rossonera. Agora é esperar que esse processo de limpeza do vestiário termine para que seja possível ter um quadro mais claro de como será a equipe na próxima temporada. Só espero que a fase de contratações não tenha início com o Amauri. Nada contra o cara, que saiu daqui sem nenhum reconhecimento e venceu onde vários fracassam. Mas existem muitas, mas muitas opções melhores que ele no mercado. O Inter quer negociar o Nilmar, Van Persie e Adebayor querem sair do Arsenal, Eto'o parece que vai ficar disponível no Barça etc. Se o clube negociou o Kaká é porque tinha ao menos um ótimo motivo para fazer isso. Mas espero que utilize esse dinheiro com inteligência. E na seção last but not least, não posso deixar de dizer que é salutar ver um atleta que não recorre aos empresários para resolver os próprios problemas. É inacreditável ver alguém delegar completamente os rumos da própria vida a outra pessoa. Depois o empresário faz alguma escolha infeliz e o atleta paga… Não são poucos os casos por aí.

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