Unificação – Por quê não rola II

Vamos tomar o Corinthians como exemplo: o time do Parque São Jorge é o maior campeão estadual de São Paulo. Pelas contas de Santos, Palmeiras e os participantes da campanha da unificação, os esforços desprendidos pelo Corinthians para conquistar cada um deles eram exatamente os mesmos que os dedicados para buscar a Taça Brasil.

Ou então: o título Brasileiro do São Paulo em 2008, com 38 jogos e vencido na última rodada tem o mesmo peso da Taça Brasil do Santos em 1961, com quatro partidas?

Ou ainda: o Brasileiro do Inter-RS em 1976 se equivale à “Copa dos Campeões”– esta sim um torneio muito parecido com a Taça Brasil – vencida pelo Palmeiras de Flavio Murtosa em 2000?

“Ah, não! A Copa dos Campeões era muito menos que a Taça Brasil”. Era? Por que? E o Rio-São Paulo, que tinha os maiores clubes do país até os anos 60? E a Taça Brasil de 1907? E o Torneio dos Campeões da CBD de 1968? E o Torneio dos Campeões de 1982? Por que razão estes torneios são menos valiosos do que a TB e o Robertão, em termos de “validade” como Campeonato Nacional?

A unificação dos títulos é uma demagogia oportunista. Os dirigentes desses clubes querem jogar para suas próprias torcidas. Para ganhar apoio, contam com uma característica típica do torcedor brasileiro: não saber perder. Sem saber aceitar a derrota (e a vitória alheia), qualquer recurso vale para se equiparar, mesmo que sem mérito. Lembra-se do Vasco comemorando a Taça João Havelange no dia da queda da arquibancada em São Januário? Então, é por aí.

E, se depois dessa discussão tola, motivada por uma ambição imbecil de se auto-afirmar, o que acontecerá? O Santos passará a ser o maior clube do país se tiver oito títulos, sendo seis conquistados no Tapetão? O Bahia comemorará o bicampeonato, assim como o Botafogo? Talvez. Tem gente que consegue se iludir com pouco – ou nada.

No caso dos dirigentes, eu entendo. Algum desses clubes estão fadados a não confirmarem seus status de clubes grandes nacionalmente. Você é um dirigente de um desses clubes. Você comanda um deles, um clube, que você (e diretorias antes de você) enterrou irremediavelmente em dívidas. Você não tem competência para reerguê-lo. Você sabe que as suas chances de vencer um Campeonato Brasileiro de novo, ou de lutar por isso regularmente, são mínimas. O que você faria? Teria uma atitude nobre e assumiria seus erros ou tentaria engalobar quem quisesse ser engalobado? Antes de responder, lembre-se que você é um cartola (não adianta pensar com os princípios de uma pessoa decente…).

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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