Mas então quem foi?

De todos os clássicos na Itália, nada é parecido com Lazio e Roma. Milan e Inter têm um clima de rivalidade, mas respeito; Juventus e Torino não são mais times do mesmo naipe para sustentar uma rivalidade tão acirrada. Sampdoria e Genoa, o mesmo. Mas entre Lazio e Roma é guerra. E é assim sempre.

Sempre uma das duas torcidas tem 70% do estádio (e sempre foi assim). Ou seja: o “visitante” tinha de respeitar o mandante, em muito maior número. Fora da Olímpico, a atmosfera de guerra civil está no ar , que pode-se cortar com uma faca. Torcedores brigam entre eles, com a polícia, e se pudessem brigar consigo mesmos, tipo “Clube da Luta”, o fariam.

Contudo, o derby romano de número 152, acabou de uma maneira insólita. Depois de um primeiro tempo relativamente normal (além dos confrontos entre torcedores e policiais fora do estádio), na volta do segundo tempo, um clima funesto dominava as arquibancadas. As duas torcidas juntas gritavam “assassinos” para os policiais. O motivo é que tinha se espalhado a notícia de que um carro de polícia tinha atropelado e matado um menino.

O árbitro Rosetti começou a confabular com os capitães das duas equipes, dirigentes de Lazio e Roma e agentes da segurança. As fontes oficiais garantiam que nada tinha acontecido, mas três líderes de torcida, aos berros, chamaram Totti e juravam que tinham visto o carro atingir o garoto, e exigia: “France(sco), não se pode jogar esta partida. Um telefonema para uma emissora de rádio corroborava a informação e alertava: “se o jogo continuar, vamos entrar em campo e parar tudo à força”. A tragédia se avizinhava.

Um silêncio incomum povoava o Olímpico, permeado por murmúrios. Totti discutia com Rosetti e Mihajlovic. Cassano não se conformava em parar a partida, mas a maioria dos jogadores sentia o bafo da torcida na garganta. O locutor do estádio anunciou para a torcida que a morte da criança era boato. Um aplauso tímido e mais tensão. Um telefone celular começou a passar de mão em mão (saber-se-ia depois que era o presidente da Lega Calcio, Adriano Galliani). Depois de falar com Rosetti, Fabio Capello, Totti e com o agente de segurança, todos dando o mesmo parecer (pela interrupção do jogo), Galliani decidiu: suspenda-se o jogo. O medo de uma invasão de marginais disfarçados de torcedores venceu.

Mas afinal, o que aconteceu? Aventou-se uma possibilidade de que tudo era um “complô” do Milan para prejudicar os times romanos (hipótese, salvo provas em contrário, para dementes acreditarem); as forças de segurança já deram uma possibilidade mais cabível: torcedores organizados teriam orquestrado a farsa para dar uma mostra de força. O fato é que agora, um inquérito vai determinar o que aconteceu.

O surreal de toda a situação é que uma das maiores partidas de futebol da Europa foi suspensa por uma mentira, somada por um clima de delinqüência que domina os dias que antecedem os clássicos. Uma lei draconiana é necessária para jogar na masmorra mais gélida todos os marginais que criam um clima de guerra antes de um jogo de futebol. Ou então, se quisermos voltar às competições romanas de dois mil anos atrás, façamos estádios onde as pessoas possam se matar à vontade, mas sem colocar em risco que só quer ver futebol.

Baggio joga contra a Espanha. E depois?

A Itália já está comemorando a decisão. É que o CT da “Azzurra”, Giovanni Trappatoni, vai convocar Roberto Baggio para um “amistoso de despedida” da Seleção. Uma justa homenagem para aquele que é o maior craque do futebol italiano nos últimos 20 anos, e que anunciou o fim da sua carreira para junho próximo.

A justiça da decisão de Trappatoni tem, no entanto, um risco sério. Não é nada difícil (aliás é bem provável), que Baggio entre no jogo, acabe com a partida, e reacenda o desejo popular por sua presença no time que vai disputar o Europeu. E aí, meu amigo. Segura, que a pressão é grande.

O caso de Baggio não é o mesmo de Romário. Baggio, aos 37 anos, ainda joga muita bola. Sofre com lesões nos tornozelos, é verdade, mas aceita ficar no banco como “arma secreta”. E quando entra em campo, não raro, inventa alguma que arrasa os adversários.

Tudo estaria bem se o grupo de jogadores da seleção italiana (praticamente formado na cabeça de Trappatoni) não gostaria muito de ter Baggio indo para Portugal. Primeiro, porque a briga por um posto no ataque já é muito acirrada (Inzaghi, Del Piero, Vieri, Delvecchio, Corradi, Miccoli, Cassano, todos para prováveis quatro vagas).

Segundo porque Baggio transforma todos, mas todos mesmo, em coadjuvantes. A popularidade do “Codino” é infinitamente maior do que a de todo o resto, e ficaria ainda mais acentuada caso, numa partida, entrasse e realizasse uma de suas magias. Como sabemos, o pecado capital da vaidade é um dos prediletos dos jogadores.

Para a Itália, como seleção, seria ótimo. Uma opção como Baggio no banco é daquelas que todo técnico são quer. Tudo depende de como ele jogar nesse amistoso. Se ele jogar metade do que sabe. ‘Trap’ terá arrumado uma baita sarna para se coçar.
Copa Itália: a pá de cal na Juve de Lippi

O primeiro jogo da final da Copa Itália, que terminou 2 a 0 para a Lazio, foi a terceira derrota consecutiva da Juventus bicampeã italiana. Também foi o momento que marcou o nocaute juventino numa temporada em que partiu como uma das favoritas, mas que foi se traindo com pequenos erros.

O rescaldo é radical. A Juve deve mudar de treinador, com Marcello Lippi torcendo para Trappatoni não fazer uma campanha tão legal assim com a Itália na Eurocopa. Candidatos? Cesare Prandelli, do Parma, ex-jogador da Juve, Luigi Del Néri, do Chievo, e Didier Deschamps, outro ex-jogador da Juve, atualmente no Monaco.

As pistas levam a acreditar em chances maiores para Deschamps. Por que? Porque a Juve já teria acertado a contratação do meia-atacante Olivier Kapo, do Auxerre, estaria acertando também com Phillipe Mexes (também do Auxerre), Benoit Pedretti (do Sochaux) e Sébastién Squilacci (nada a ver com o artilheiro italiano da Copa de 90).

Dirigentes da Juve já admitiram que estão tendo contatos freqüentes com Deschamps, e que estão mesmo atrás dos reforços citados acima. Além do mais, a Juve foi aconselhada a contratar Mexes e Kapo pelo próprio Guy Roux, treinador do Auxerre desde que recebeu o comando do reino franco das mãos de Pepino, o Breve.

Além das novas aquisições (que terão um apoio financeiro da família Agnelli), tornarão à Juve jogadores como Matteo Brighi (emprestado ao Brescia), Manuele Blasi (outro meio-campista emprestado, mas ao Parma, e que recentemente foi punido pelo uso de doping). Ainda são alvos preferenciais da Juve o atacante do Ajax, Zlatan Ibrahimovic, e os zagueiros Ferrari e Bonera, do Parma. Nomes das divisões de base como Bartolucci, Palladino, Paro, Chiumiento e Boudianski ou serão agregados ao elenco principal, ou serão emprestados para ganhar experiência.

A defesa deve ser o setor com maior número de mudanças. Com partida provável estão Lílian Thuram, Igor Tudor, Mark Iuliano, e, talvez, Paolo Montero, ale, do volante Antonio Conte. De acordo com o diário espanhol “As”, está vendido para o Barcelona por 27 milhões de euros, e Pavel Nedved, caso receba uma oferta infamemente alta do Chelsea, como se comenta, também seria liberado.

Certos mesmo estão o capitão Alex Del Piero, o goleiro Buffon, o zagueiro Legrottaglie, o meia-defensor Zambrotta e o meio-campista Maresca. Outros, como Tacchinardi, Miccoli, Pessotto, Birindelli, Appiah e Di Vaio, estariam com a situação bem incerta. Curioso é imaginar que tal revolução possa acontecer no time que é o atual bicampeão italiano e vice-campeão da Liga dos Campeões.

Curtas

Depois de Baggio ter chegado aos seu 200º gol, outro veterano italiano vai se aproximando da marca

Beppe Signori, marcou, pelo Bologna, seu gol de número de 187

Paolo Maldini já é o sexto jogador com mais presenças na Série A italiana, com 527 jogos

Maldini chegou à mesma marca de outro mito milanista, Gianni Rivera

O Perugia, nas últimas cinco rodadas, comseguiu fazer onze pontos, sendo superado somente pelo Milan, que venceu todas

A média de gols por partida desta temporada é praticamente igual à da temporada passada, com 2,58, contra os 2,57 do último certame

Com seu 19º gol no campeonato (seu 112º com a camisa milanista), Shevchenko segue sendo o terceiro melhor artilheiro do Milan, na média de gols por partida

Na frente dele, ninguém menos que Gunnar Nordahl (0,824), do lendário trio Gre-No-Li (com Gren e Liedholm) e Marco Van Basten (0,612)

Sheva tem uma impressionante média de 0,597 gols por partida da Série A

Logo atrás de Sheva, vem o brasileiro Altafini, que tem a média 0,585

Eis a seleção Trivela desta rodada no Italiano

Antonioli (Sampdoria); Cafu (Milan), Natali (Bologna), Maldini (Milan) e Pancaro (Milan); Nervo (Bologna), Brienza (Perugia), Gattuso (Milan) e Kaká (Milan); Tomasson (Milan) e Di Michele (Reggina).

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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