Me engana que eu gosto

Pouco mais de um ano atrás, a Itália conquistou uma vitória diante da forte seleção inglesa, no estádio de Elland Road, em Leeds. Os 2 a 1 do time de Trappatoni que rumava para a Coréia do Sul foram conseguidos no segundo tempo, quando a Inglaterra colocou onze reservas em campo, poupando os jogadores mais importantes, todos envolvidos em disputas cruciais para seus clubes.

O jogo foi ruim, e não é necessário dizer que a Inglaterra do segundo tempo foi um fantasma. Mesmo assim, Giovanni Trapattoni deu uma entrevista na sala de imprensa de Elland Road como se tivesse batido o Ajax de Cruyff. “È duríssimo vencer aqui e isso nos enche de orgulho”. Começava ali o fiasco italiano na Copa, que, é verdade, foi causado por uma série de problemas, mas nenhum tão grave como a arrogância da Itália, que acreditava ter em Totti e Vieri, dois monstros do futebol mundial. Deu no que deu.

Parece que a lição de nada serviu. Depois da vitória de 2 a 0 sobre a Finlândia, em Palermo, no último sábado, a imprensa italiana alçou a seleção ‘azzurra’ aos céus, e colocou Totti e Vieri na condição de deuses inatacáveis. É bem verdade que a Itália jogou bem e que o resultado coloca os italianos no páreo novamente para lutar por uma vaga na Eurocopa, mas a Finlândia, por mais que tenha evoluído, ainda é uma força menor do futebol europeu.

Totti é incensado como se fosse um mágico, uma espécie de Zidane, enquanto Vieri é tratado como se fosse um Gerd Muller, um atacante impossível de ser marcado. Mesmo sendo ótimos jogadores, seria conveniente que a Itália abaixasse a bola, e só comemorasse depois de uma lição de futebol num jogo importante contra um selecionado realmente forte. Caso contrário, passará novos vexames, como aquele da Ásia.

O fato mais importante a ser comemorado é o de que a Itália encontrou opções de jogo pelas alas. O ítalo-argentino Mauro Camoranesi, da Juventus, junto com Marco Delvecchio, da Roma, finalmente abriram o leque de possibilidades do ataque italiano, agregando velocidade e profundidade ao jogo italiano, antes dependente das jogadas de bola parada.

Outra boa nova foi mais uma prestação satisfatória de Gianluca Zambrotta como ‘terzino sinistro’, nome dado na Itália ao nosso lateral-esquerdo (mas que lá tem funções defensivas). Zambrotta pode se consolidar na posição que foi de Paolo Maldini, comprovando uma grande versatilidade, já que pode cobrir todas as funções de meio-campo, além das laterais da defesa.

Trapattoni deu uma boa golfada de ar ao vencer a Finlândia, pois ainda pode chegar à Euro 2004, mesmo que não vença o grupo 9, liderado pelo País de Gales, com 12 pontos, cinco a mais que a Itália. Numa eventual repescagem (não inédita para os italianos), a vaga estaria ao alcance das mãos. Tudo possível, desde que ‘Trap’ e seu grupo se dêem conta de que têm limites.

Del Piero é um problema. De novo

A relação de Alessandro Del Piero com a seleção italiana é bastante conflituosa. Em 1998, ‘Ale’ era o titular do time, mas a torcida pedia enlouquecidamente Baggio, Del Piero minguou, e junto com ele, o futebol da ‘Azzurra’, batida pela França nos pênaltis. Em 2000, fragilizado pela doença terminal de seu pai, jogou um Europeu pífio, e foi culpado por outra derrota, desta vez na final, onde perdeu um gol incrível segundos antes do empate da França.

Na Copa de 2002, fechou o pau com o técnico Giovanni Trapattoni porque não aceitou ser reserva de Francesco Totti, como meia-atacante atrás dos atacantes. “Sou um segundo atacante”, disse Del Piero, consciente de que jamais seria titular no banco de Totti, mas poderia morder a vaga de Inzaghi ou Montella e fazer dupla com Vieri. Sem Del Piero, mais uma vez, a Itália soçobrou, e nem sua boa participação contra Portugal pôde salvar o time da tragédia coreana.

Seguindo a linha dos que não aprendem jamais, novamente Alessandro Del Piero é colocado como um problema para a seleção. “Mas vamos tirar quem?”, pergunta-se Trapattoni, que indubiamente não quer mexer na sua defesa a quatro, ainda que improvisada.

A Itália venceu a Finlândia com um 4-4-2 clássico, onde Panucci e Zambrotta eram os defensores externos, Cannavaro e Nesta os centrais, Delvecchio e Camoranesi os alas, Perrotta e Zanetti os volantes e Totti e Vieri os atacantes. Levando-se em conta que Vieri e Totti são intocáveis, neste módulo, definitivamente não há espaço para Del Piero.

Contudo, a lógica pede que a defesa jogue com três homens (Cannavaro, Nesta e Bonera, por exemplo), e o meio-campo mantenha Perrotta (ou Fiore) e Zanetti como volantes, Zambrotta e Camoranesi alas, e Totti atrás de Vieri e Del Piero atacantes. O módulo é mais frágil na defesa e obrigaria um esforço de Del Piero e Totti na marcação.

Assim, a Itália não se privaria de seu jogador mais talentoso. Pode-se dizer que Totti seja mais badalado, mas Del Piero tem sido determinante para a Juventus e para a Itália, enquanto Totti brilha, mas não carrega seu time consigo. Tratar Del Piero como problema é burrice pura. Ele é um problema sim, mas para os adversários.

Inter enfrenta Real Madrid por Beckham

Configura-se no horizonte uma briga de titãs monetários. Real Madrid e Inter de Milão devem travar, no próximo verão europeu, uma luta para arrancar David Beckham do Manchester United. O valor de largada é US$ 45 milhões, cifra fixada pelo clube de Old Trafford para liberar seu jogador mais prestigioso.

O divórcio inglês parece certo, ainda mais depois do incidente do vestiário do Manchester, quando o técnico Ferguson acertou uma chuteirada na cara de Beckham (sem querer), e não pediu desculpas. A fixação do valor de venda é um sinal inequívoco disto. Mas a saída ou não de Beckham do Manchester é assunto para Tomaz Alves.

Como se sabe, na lista de compradores, o Real Madrid está na primeira fila, como sempre. Não que Beckham seja o mlehor do mundo, mas certamente é o jogador mais famoso do mundo fora do Real Madrid. Logo, é alvo de mercado do clube ‘blanco’. Se uma banqueta fosse o jogador mais famoso do mundo fora do Real Madrid, o clube espanhol estaria atrás da banqueta.

Porém, o Real Madrid não vai ter a moleza do ano passado, onde aliciou Ronaldo sem concorrência. A Inter de Milão quer Beckham, e se o Real Madrid é rico, o petroleiro Massimo Moratti, dono do clube de Appiano Gentile, é mais. Logo, dinheiro não vai faltar na horta do Manchester United.

A favor da Inter está o fato de que diz-se que Beckham gostaria de ir jogar em Milão, para agradar sua esposa Victoria Adams, que adora o cenário da moda milanesa. Entre os dois clubes, empatados, ‘Becksie’ iria para a Lombardia. O que emperra a assinatura do contrato é o valor do salário do inglês, US$ 7 milhões anuais, o que forçaria reajustes nos salários de Vieri e Crespo, e explodiria a folha salarial da Inter.

O Milan também gostaria de ter Beckham, mas mais por um luxo de Silvio Berlusconi, admirador do inglês. Berlusconi gostaria também de usar Beckham e sua mulher como garotos-propaganda. Mas o salário é impagável para o rígido ‘salary cap’ milanista, onde o maior salário é de ‘somente’ US$ 4,5 milhões anuais.

Mezzogiorno afundando de vez

Uma rápida olhada na tabela da Série B explica tudo sem mais detalhes. Os cinco últimos times da Série B italiana são da região sul da Itália, o ‘Mezzogiorno’, revelando a falência completa do futebol da região, onde os clubes estão enterrados em dívidas e com seus clubes aos pedaços.

Napoli, Catania, Cosenza, Salernitana e Bari são os cinco últimos da tabela, e três deles (Napoli, Salernitana e Bari) passaram pela Série A pelo menos há três temporadas. Uma lástima, já que a torcida do sul da Itália é fervorosíssima, e sente a derrocada de seus times como uma verdadeira ópera.

Na ponta da tabela, a tendência é a mesma. Dos cinco líderes, somente o Lecce se infiltra como clube meridional, no desafio por uma vaga na divisão máxima do futebol italiano. Sampdoria, Siena, Ancona, Lecce e Triestina são os favoritos para as quatro vagas, com Vicenza e Ternana ainda vivos, mas por aparelhos. Fato curioso: a Ternana foi rebaixada à Série C na última temporada, e só está na Série B graças à falência da Fiorentina, que caiu da Série B para a série C2A por problemas financeiros, deixando uma vaga na Série B aberta, e que o regulamento deu ao clube de Terni.

Mais um ponto a ser notado é o do fracasso de times tradicionais da Série A em voltar ao ‘top flight’ do futebol peninsular. Entre Bari, Napoli, Genoa, Verona, Vicenza e Sampdoria, somente a Samp parece ter a sua vaga garantida para o ano que vem, comandada pelo promissor técnico Walter Novellino.

A única novidade boa da semana foi a vitória do Napoli por 2 a 1, nesta segunda-feira, sopbre o Vicenza. Pela primeira vez desde o início da temporada, o clube campano saiu da área de rebaixamento, e ao que tudo indica, o elenco, junto com o técnico Franco Colomba (que foi demitido e recontratado), vão manter a vaga na base da garra. Bem como a torcida da cidade gosta.

Rivaldo está ainda mais melancólico do que sempre esteve

Se divorciou da mulher, e seu astral está a zero

Maldini renovou seu contrato com o Milan até 2005

Se jogar até lá, deixará o clube com 37 anos, após 21 temporadas com a malha milanista

Tudo certo: Fabrizio Miccoli, revelação italiana da temporada, jogará na Juventus no ano que vem

O clube de Turim é dono de seu passe

Marca histórica nesta semana

O legendário “Domenica Sportiva”, esportivo dominical da RAI italiana, completou a sua edição de número 2500!

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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