Champions League: Wolfsburg 2×0 Real Madrid – o duelo tático.

Na última quarta-feira, o Real Madrid acabou desastrosamente surpreendido pelo alemão VfL Wolfsburg, em partida de ida das quartas de final da Champions League. Jogando nos domínios dos lobos alemães, os galácticos foram derrotados por 2×0, por uma equipe alviverde aplicada e competente.

Wolfsburg

O tradicional Wolfsburg nunca foi favorito ao título da CL. A equipe ocupa a oitava colocação da Bundesliga alemã, não possuindo porém tradição continental. Embora fundado em 1945, suas maiores conquistas ostentadas são recentes, a Bundesliga 2008/2009 e o atual título da DFB Pokal (Copa da Alemanha) 2014/2015.

A equipe tem bons valores como o atacante alemão Andre Schürrle (tetracampeão alemão no Mundial 2014) e o meia Julian Draxler, jogador importante do atual Nationalelf germânico. No início da temporada, o Wolfsburg disputou Draxler com outros grandes times que também queriam levá-lo do Schalke 04. O Schalke chegou a rejeitar uma oferta da italiana Juventus.

Ademais, o plantel tem atletas baratos que o clube tenta valorizar para fazer caixa. São os casos do lateral-esquerdo suíço Ricardo Rodríguez (filho de pai espanhol e mãe chilena), do meia-atacante brasileiro Bruno Henrique (ex-Cruzeiro e Goiás), ou do volante francês Guilavogui (emprestado pelo Atlético de Madrid).

Mais além, o elenco tem jogadores rodados no futebol alemão, brasileiros hoje tidos como “refugos”, Naldo (zagueiro, ex-Werder Bremen) e os ex-FC Bayern, Dante e Luiz Gustavo.

Contra os blancos

O técnico Dieter Hecking escalou o Wolfsburg num 4-2-3-1 padrão. O formação inicial teve Benaglio, Vieirinha, Naldo, Dante e Ricardo Rodríguez. Guilavogui, Luiz Gustavo. Bruno Henrique, Arnold e Draxler. Schürrle. Os volantes à frente da defesa (Guilavogui/Gustavo) são fisicamente vigorosos, garantindo consistência defensiva.

A movimentação dos 3 meias ofensivos (Henrique/Arnold/Draxler) é letal, levando-se em consideração que Schürrle pode atuar aberto pelo lado esquerdo. Noutras palavras, o ex-atacante do Chelsea cumpre função de “falso centroavante” com grande desenvoltura, o que confunde os zagueiros centrais adversários.

A permuta entre os atletas ofensivos permite reorganizações do desenho tático em 4-3-3 e em caso da perca da posse de bola, em 4-4-2 ou 4-5-1. Com apenas 21 anos o meia Maximilian Arnold é uma promessa, cria da base do Wolfsburg já tendo atuado por todas as seleções de base da Alemanha.

O Wolfsburg ostentou apenas 40% do tempo total de posse de bola e precisou de apenas sete minutos para construir o placar. Aos 17 min, Rodríguez fez o primeiro gol cobrando penalti sofrido por Schürrle. Porém, o lance do segundo gol anotado por Arnold definiu bem a partida.

Schürrle, Arnold e Draxler podem atuar pelo lado esquerdo do ataque. Arnold ou Draxler podem centralizar se necessário, atuando como meia de ligação. Ambos fizeram do confronto uma das piores apresentações da carreira do lateral brasileiro Danilo, do Real Madrid.

Draxler iniciou a jogada pela esquerda e inverteu para a direita, onde Bruno Henrique surgia aberto, nas costas de Marcelo. Henrique cruzou e Arnold ampliou para os lobos aos 24 min. O técnico Dieter Hecking controlou o jogo preenchendo os espaços deixados pelos laterais blancos (Danilo/Marcelo), o que obrigava Cristiano Ronaldo e Gareth Bale a se preocuparem com encargos defensivos.

Com o meio campo “povoado” quando não se tinha a posse de bola, o Wolfsburg tornava inútil a dupla Kroos/Modrić. Benzema não era municiado.

Real Madrid

Zinedine Zidane escalou o time com Navas, Danilo, Sergio Ramos, Pepe e Marcelo. Casemiro, Kroos, Modrić e Bale. Cristiano Ronaldo e Benzema. A única alteração em relação ao clássico vencido sobre o Barcelona, por La Liga no fim de semana, foi a saída de Carvajal para a entrada de Danilo. Foi o erro crucial de Zizou.

Segundo o periódico espanhol El País, Zidane queria um lateral mais ofensivo, ao invés de optar por Carvajal, eficiente no trabalho defensivo. O setor de Danilo, visivelmente perdido em campo, foi por onde o ataque do Wolfsburg encontrou os maiores espaços.

A deficiência defensiva do brasileiro Marcelo também criou problemas para a equipe de Zizou. 78% das jogadas ofensivas do Wolfsburg aconteceram pelos lados do campo, (39% pelo lado esquerdo, 39% pelo lado direito), segundo levantamento feito pelo El País.

A partida comprovou a ingenuidade tática do jovem treinador Zinedine Zidane. Seu time foi derrotado por uma equipe que soube jogar sem bola, enquanto os blancos ostentaram a posse do esférico por 60% do tempo total de bola em jogo.

Real Madrid e Wolfsburg fazem a partida de volta na próxima terça-feira, em Madrid (Espanha).

Imagem de Draxler (a esquerda) e Casemiro: Odd Andersen – AFP

Alexandre Kazuo
Alexandre Kazuo é blogueiro de futebol há mais de 10 anos. Ex-colaborador do Trivela (2006-2010) e ex-blogueiro do ESPN FC Brasil (Lyon). É mestre em filosofia contemporânea e também procura por cultura pop, punk/rock/metal. Twitter - @Immortal_Kazuo
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