Eliminatórias sul-americanas: inquestionável Chile.

Embora não seja exatamente líder das Eliminatórias sul-americanas para o Mundial 2018, o Chile está entre os três times ostentando seis pontos com duas vitórias obtidas nas duas primeiras rodadas. O Chile é o terceiro colocado no critério de desempate, atrás de Uruguai (primeiro) e Equador (segundo).

Mais do que o êxito de resultados, exalta-se o grande futebol jogado pelos chilenos. O time liderado pelo treinador argentino Jorge Sampaoli obteve uma vitória maiúscula em termos táticos, contra o Brasil (2×0) em Santiago. E outra vitória suada obtida na última terça-feira, (4×3) contra o Peru em Lima (Peru). Os chilenos atuaram de forma convincente, como atuais campeões de fato, da última Copa América.

Ciclo maiúsculo de Sampaoli.

Se contabilizados os resultados das Eliminatórias para o Mundial 2014, o Chile de Sampaoli venceu sete das últimas oito partidas disputadas pelo torneio, segundo levantou o periódico espanhol El País. A “não vitória” foi um empate contra a Colômbia em Barranquilla, em 2013.

O ciclo do treinador iniciou-se nas Eliminatórias para o Mundial 2014 e segundo o levantamento do El País, o Chile sob seu comando foi derrotado apenas duas vezes. Perdeu para o Peru, na estreia do técnico em março de 2013, e durante a fase de grupos do Mundial 2014, perdeu para a Holanda (2×0). Vale lembrar que o Chile não perdeu para o Brasil nas oitavas de final. Foi eliminado nos penaltis, após empate no tempo normal/prorrogação.

Voltando ao presente, no confronto contra o Brasil na semana passada, a alternância tática do Chile durante o primeiro tempo da partida foi algo que sobressaiu. Sampaoli dispôs um time em 3-5-2, com a linha dos três defensores adiantada. Sem Neymar suspenso, Dunga se valeu de Douglas Costa, pelo lado esquerdo. Sampaoli precisou neutralizar o meia-atacante do FC Bayern, mais físico e veloz que Neymar.

Sampaoli sacou um dos três zagueiros (Silva) e postou um meio-campista (Mark González). Isla inicialmente adiantado pelo lado externo direito, foi recuado assim compondo uma linha de quatro defensores chilenos. O time se desenhou num 4-4-2, que por sua vez poderia variar para o 4-3-3/4-3-1-2 tipicamente sul-americano, dependendo das circunstâncias.

O esquema com quatro defensores se fez ofensivamente efetivo, com a saída de Valdívia na segunda etapa para a entrada de Matias Fernandez, um “enganche” pleno (o “1” do 4-3-1-2). Dos pés do meia da Fiorentina (líder da Série A italiana), saiu a jogada do primeiro gol anotado por Vargas.

Na Itália, Mati pode atuar como trequartista lançando, distribuindo, contendo a posse de bola e cadenciando o jogo. Com um “enganche” passando com eficiência, o ataque chileno formado por Vargas e Alexis Sánchez (autor do segundo gol) em fase esplendorosa, é letalíssimo. Sampaoli proporcionou um “nó tático” à Dunga.

A rivalidade para com os peruanos.

Contra o Peru na última terça-feira, sublinhou-se a rivalidade entre chilenos e peruanos. O El País ressaltou as vaias e provocações proporcionadas pela torcida, já durante a execução do hino chileno no Estádio Nacional de Lima.

A rivalidade entre peruanos e chilenos desconhecida para os brasileiros, remonta ao século XIX. Peru e Chile se envolveram na chamada Guerra do Pacífico, conflito que marcou historicamente as relações civis e diplomáticas de ambos os países.

Somada a rispidez psicológica a partida tinha tudo para ser um confronto emocionante, se fosse disputado normalmente em 11 contra 11. O Chile saiu na frente com Alexis, mas os peruanos empataram e viraram ainda na primeira etapa. Porém, o time treinado pelo também argentino Ricardo Gareca, teve o volante Cuevas expulso antes do intervalo.

Os peruanos não se renderam, mas não conseguiram evitar a derrota por 4×3. Alexis Sánchez participou dos quatro gols, anotando dois tentos na totalidade (Vargas anotou os outros dois). Com 31 gols pela seleção, Alexis já superou Carlos Caszely na artilharia histórica do Chile e agora persegue Zamorano e Marcelo Salas, os últimos grandes atacantes do futebol chileno.

Ao fim o goleiro Claudio Bravo (que atua pelo Barcelona), reiterou a vitória de sua equipe, afirmando que os peruanos “falaram muito às vésperas do confronto”. Foi além ressaltando que os chilenos aplicaram-lhes “uma lição de como se joga uma Eliminatória e como se chega um Mundial”.

Professor Sampaoli.

Jorge Sampaoli dá prosseguimento à uma filosofia de jogo iniciada no ciclo para o Mundial 2010, quando o Chile contou com os serviços do técnico argentino Marcelo “el loco” Bielsa. O Chile atual herda consigo a intensidade ofensiva, somada à permutas de posicionamento, características impostas por Bielsa aos times que treina.

Por outro lado, o El País ressalta a presença do espanhol Juanma Lillo na comissão técnica chilena. Convém lembrarmos que uma das declarações de Sampaoli, ainda durante a Copa América, anunciava que o Chile seria “menos Bielsa” e “mais Guardiola”.

Os jogos das Eliminatórias sul-americanas, voltam a ser disputados ao fim da primeira quinzena de novembro.

Imagem de Jorge Sampaoli contra o Brasil: Martin Bernetti – AFP

Alexandre Kazuo
Alexandre Kazuo é blogueiro de futebol há mais de 10 anos. Ex-colaborador do Trivela (2006-2010) e ex-blogueiro do ESPN FC Brasil (Lyon). É mestre em filosofia contemporânea e também procura por cultura pop, punk/rock/metal. Twitter - @Immortal_Kazuo
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