Sem-vergonhice culturalmente arraigada

Li a manchete desta matéria que saiu no UOL a respeito da oferta do prefeito de Duque de Caxias ao Flamengo para construir um estádio na cidade. Fui ver com interesse. Afinal, o Flamengo, assim como o Corinthians, também é um clube que surpreende por ainda não ter um estádio.

Vi, estupefato, que o terreno NÃO pertence ao Flamengo nem à cidade de Duque de Caxias, nem ao próprio prefeito (claro). Veja este trecho:

“Espero que no futuro, Duque de Caxias possa se orgulhar de ter o estádio do Flamengo e formar craques rubro-negros”, disse o prefeito, que minimizou o fato de o terreno pertencer à Marinha do Brasil.’

Ou seja: o cara não só está cogitando doar um bem público ao clube como um bem que não pertence à sua esfera de poder. Continua o prefeito Zito, cuja argumentação que deveria fazer corar cada peessedebista do país.

“É uma área da Marinha, Federal, mas que será requisitada por todos os governos, e não vejo problemas para que possa ser cedida sem custos”. Disse.

Será que a debilidade mental tornou-se um vírus que devasta a mente das pessoas? Não há mais limite para o descaramento? Como um prefeito eleito vem a público fazer uma proposta estapafúrdia dessas? Só não é pior porque a Marinha, pelo menos aparentemente, ainda mantém algum resquício de decência e se prontificou a negar qualquer acordo.

O que eu temia na proposta asquerosa da construção do estádio corintiano por parte de uma empreiteira – que obviamente cobrará seus serviços de algum modo, uma vez que não se trata de uma entidade assistencial – era exatamente esse estímulo, essa carta branca para que políticos achassem que a festa da uva com o dinheiro público estava liberada. Pelo que parece, vai virar moda.

Agradeço muito caso alguém tenha uma luz que me mostre que, na verdade, me enganei…

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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