Cheiro de cartola de antigamente

Sinto que as últimas semanas do futebol paulista trouxeram um cheiro de antigamente. Nada de bom resgatado por lá, no entanto. Leco, Palaia e Andrés Sanches representam o que há de mais atrasado e nefasto na gerência do futebol e suas perpetuações indicam qual é a verdadeira chaga do futebol brasileiro: os estatutos dos clubes.

Por partes: no São Paulo, Leco, que já conseguira demitir o técnico tricampeão do clube simplesmente para provar sua síndrome de pequeno poder, novamente arremessou o clube numa crise de fragilidade política. Sua compreensão de futebol, dada a política de reforços que contrata Carlinhos e Marcelinho Paraíba, Cléber Santana e afins, é notoriamente limitada. E depois de fracassar na gestão do futebol há alguns anos, retorna no mesmo cargo tendo o presidente como refém. Qual a razão em se testar novamente o já deu errado antes? Coisas que só a política pode explicar.

E o Palmeiras? Há figura mais diametralmente oposta à da seriedade de Luiz Gonzaga Belluzzo do que a de Hugo Palaia? Até sua imagem de óculos escuros na apresentação de Valdivia parece ter sido retirada de uma edição da Gazeta Esportiva da década de 70. Assim como Leco, é outro que se arvora em seus relacionamentos na política mofada do Parque Antártica para seguir na ribalta da política do clube.

Dos três, o pior é o corintiano Sanches. Não faltam defensores entre as fileiras corintianas e não corintianas para o presidente do Timão, mas seu comportamento é o de um folclórico cartola dos anos 60, com todas as bravatas, frases de efeitos e erros de português típicos do personagem. Promete estádios, reforços, títulos, copas do mundo e só entrega o que dá. Sanches envolve o Corinthians com o que há de pior no futebol brasileiro para posar de messias alvinegro e dá ao clube o que ele é fadado a ter dada a sua grandeza mastodôntica.

Antes que alguém pergunte por que o presidente do Santos não está na lista, respondo: o chefe da Vila Belmiro ganhou as manchetes na última semana, sim, mas  fazendo o que é correto: proibindo que empresários sem compromisso com nada além do dinheiro tirem do clube seus maiores ativos, Neymar e Ganso. Mas mesmo ele não escapa, tendo negociado com, Kia para levar Robinho à Baixada e tendo apoiado o candidato da CBF no Clube dos 13, ele também se aliou com o que há de mais nocivo na política do futebol brasileiro.

Assim como Sanches, Luís Álvaro de Oliveira Ribeiro também viu sua lealdade à CBF render frutos. Coincidentemente, o primeiro emplacou um técnico com um currículo modesto na Seleção (assim como um jogador absolutamente obscuro internacionalmente) enquanto o segundo viu vários de seus meninos na vitrine. Não é uma relação de toma lá dá cá e que fique claro, não há nenhum indício que a CBF tenha negociado nada com os dois, mas as mesmas coincidências não acontecem com inimigos políticos de Ricardo Teixeira e assim, a dúvida é pertinente. O que cabe é perguntar, mesmo aos torcedores santistas e corintianos, se as benesses da Seleção e do teixeirismo valem a pena, se não fazem parte da herança maldita do caráter do brasileiro de aprovar a indecência se ela trouxer benefícios particulares. Palmeirenses e sãopaulinos nem isso podem questionar, porque alguns de seus cartolas são tão incompetentes que não precisam de inimigos.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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