O desértico cenário dos técnicos ingleses – I

O fracasso da Inglaterra (assim como de qualquer país que tenha preponderância no futebol) desperta a discussão sobre quem deveria ser o próximo treinador, com suas respectivas argumentações. Os ingleses adicionam, contudo, um outro fator que é a nacionalidade do mesmo e por que razão o técnico deveria ser inglês. Mas por que não há técnicos ingleses bons?

A resposta é longa e tem raízes que remontam á propria insularidade do país no que dis respeito ao esporte. Devemos nos lembrar que até a metade do século passado, a Inglaterra não jogava com seleções não-britânicas porque se achava muito superior às demais. É uma postura que tem ecos no passado imperial dominante, na gênese do esporte naquele país e até na falta de intercâmbio com outras culturas. O viés com que os ingleses continuaram a ver futebol depois disso seguiu preconceituoso, mesmo com os sucessos rareando. No futebol a coisa ganhou um ranço extra, o que os boleiros de qualquer lugar têm de achar que são mais preparados para lidar com futebol do que os que nunca jogaram bola, um argumento que tem a tosquidão de suas capacidades intelectuais, ou como dizia Arrigo Sacchi, “para ser um bom jóquei, você não tem de ter sido um cavalo”.

Este caldo cultural que privilegia uma pseudoaristocracia (assim autodenominada, diga-se) que observa tudo de cima. Não vamos malhar muito. Nós brasileiros também somos assim. Um amigo me disse que um comentarista durante um jogo do Brasil desmereceu um chute de longe por julga-lo “muito pretensioso para fazer um gol no Júlio César”. Nada que não aconteça em outros países também.

O ponto é que na Inglaterra, o reacionarismo á invasão estrangeira sitiou os técnicos que não procuraram uma integração com os profissionais que chegavam de fora. Jogadores que foram se aposentando e passando para a única função que tinham alguma credencial para exercer (a de técnico), como Paul Ince, Tony Adams e Glenn Hoddle, refugiavam-se nos seus bunkers, onde podiam crer que tinham todo o conhecimento necessário com o pedigree inglês. Retroalimentavam-se de um substrato técnico datado de 50 anos e não absorviam nada do que vinha de fora do binômio “Futebol+Inglaterra”.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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