As parcerias

Na temporada passada, a Traffic, empresa de marketing esportivo, anunciou parceria com o Palmeiras. Houve festa nas arquibancadas. Craques chegariam. As lembranças dos saudosos anos da Parmalat tilintaram os copos dos palmeirenses que começaram a sonhar com títulos.

Era uma expectativa justificada. Nenhum clube, na temporada passada, contratou os jogadores que quis como o Palmeiras. Diego Souza, Kléber, Henrique. Todo mundo dava o Palmeiras como barbada para o título, especialmente pela presença de Vanderlei Luxemburgo no banco – também cortesia da Traffic. Até colaboradores de luxo como os técnicos Carlos Alberto Parreira e Darío Pereyra engrossaram as filas.

O fim da história já se sabe: as contratações foram boas para a Traffic, mas não para o Palmeiras que, por exemplo, perdeu seu melhor zagueiro, de muito longe (Henrique) com alguns meses. E o toque de Midas de Luxemburgo – outrora técnico, hoje com mais preocupações gerenciais do que de campo – também se foi.

A lição daí é clara: se um time quer ganhar títulos e uma empresa quer ganhar dinheiro, ambos sairão felizes só em poucas oportunidades, quando combinarem as circunstâncias para as duas coisas. Em todas as outras vezes, se dará bem quem mandar, ou seja, quem tem dinheiro e quer mais (dica: não é o clube).

Então por que cargas d’água as “parcerias” continuam ganhando adeptos? E como explicar que um clube seja parceiro de uma empresa que é parceira também de um rival? Será que dá, mesmo numa mente infantil e de capacidade de raciocínio visivelmente embotada, para acreditar que se trata de um bom negócio para o clube?
Hoje, a torcida do Palmeiras já sabe o que significa a “parceria” e externa sua revolta, mas no ano passado, na expectativa de ver o time se dar bem, comemorou.

Assim como fizeram os corintianos quando Tévez chegou, mesmo que até uma porta via que a MSI era uma empresa enterrada até o pescoço em tramóias e sombras. Vários clubes do Brasil estão abraçando a política das parcerias (especialmente aqueles com diretorias particularmente incapazes). É muito provável que quebrem a cara, mesmo que haja sucessos efêmeros de saída. Com certeza, mas certeza mesmo, só dá para dizer uma coisa: as empresas “parceiras” vão encher o rabo de dinheiro.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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