O desértico cenário dos técnicos ingleses – II

Voltando á questão dos técnicos ingleses, o ponto é que essa ética malcheirosa que só aceita ex-praticantes faz com que o mercado inglês seja uma “reserva” de ignorantes formados por ignorantes. Clubes pequenos só contratam ex-jogadores e esses clubes pequenos são os lugares nos quais os profissionais poderiam se colocar á mostra. O círculo é vicioso e por conta de todas as peculiaridades, ficou pior na Inglaterra, onde assim como no Brasil, os técnicos têm formação nula além das preleções. No resto da Europa, a formação do técnico vai um pouco avante e em vários lugares (como no Brasil) os cargos mais técnicos como fisioterapia e preparação física são quase que somente ocupados por profissionais estudados.

Na Inglaterra, a ausência de treinadores decentes culmina na atual “safra” que orbita em cima da carniça de uma demanda por técnicos ingleses. Além do malfadado Redknapp, há também Sam Allardyces, Iain Dowies e Sammy Lees. Nada que saia do antigo “hit and run”. Os dois melhores treinadores britânicos da atualidade, que estão milhas à frente de seus oponentes, são Alex Ferguson (escocês) e Martin O’Neill (norte-irlandês). O primeiro, por seu background escocês, herdou uma sabedoria e conhecimento que predilige um futebol ofensivo e técnico, características primitivas do futebol da Escócia (lembremos que os escoceses foram os primeiros a jogar o futebol “bonito”). Aém disso, Ferguson não treina sozinho e se cerca dos melhores assistentes da Europa (Steve McClaren, Dick Jol, Carlos Queiroz, Francisco Filho, Walter Smith, entre outros, o assistiram na tarefa de “gerenciar” o clube). O segundo é um pupilo de Brian Clough, mítico treinador bicampeão europeu, provavelmente o último realmente grande técnico inglês e que privilegiava o jogo limpo, ofensivo e coletivo.

A discussão da Inglaterra e seu técnico é uma briga psiquiátrica sobre uma cultura em negação contrra o fato de que não aprendeu a tirar dos estrangeiros o que eles têm a oferecer de melhor (como por exemplo fizeram alemães e franceses). Capello deve continuar na seleção (pelo menos esse é o caminho menos insano a se seguir), mas as malas pedindo Redknapps e Allardyces seguirão, por causa da velha filosofia “só é bom quem é igual a mim” dos boleiros e ex-boleiros britânicos. Alguém há de perguntar: “Mas o que os técnicos ingleses têm a menos em termos de preparação em relação a novos treinadores brasileiros como Renato Gaúcho, por exemplo?”. Pois é. Nada.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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