Monaco: Oh captaine, mon captaine

“O Captain! my Captain! our fearful trip is done,
The ship has weather’d every rack, the prize we sought is won,
The port is near, the bells I hear, the people all exulting,
While follow eyes the steady keel, the vessel grim and daring;”

(“Oh Captain, My Captain” – Walt Whitman)

Na última sexta-feira (11 de janeiro) o Monaco enfim anunciou oficialmente a contratação do meia espanhol e multi-campeão Cesc Fàbregas. Clube e jogador se reuniram no Principado de Mônaco no último domingo, tal qual informamos aqui no 90 Minutos. A imprensa francesa mostrava certeza do acerto, que acabou por acontecer quase uma semana depois.

Ao contrário do que se pressupunha, não houve pagamento do valor de 10 milhões de libras solicitado pelo inglês Chelsea. Segundo o L’Équipe podem ter sido incluídas no contrato do meia, metas que se cumpridas renderão valores aos blues. O vínculo de Fábregas é de três anos e meio.

O L´Équipe ainda ressaltou os 15 títulos obtidos em 15 anos de carreira, por parte do atleta que só não venceu a Champions League. A imprensa francesa mostrou grande interesse na chegada de Fàbregas à Ligue 1, desde as primeiras notas mencionando rumores de uma aproximação para com o Monaco.

É bem verdade que os principais títulos de Fàbregas junto a seleção da Espanha (Copa 2010 e EURO 2008 e 2012) e Barcelona (Mundial de Clubes 2011 e La Liga 12/13) não foram obtidos com ele sendo protagonista. Por outro lado, Fàbregas está muito longe de ser alguma coisa “super estimada”, tal qual é descrito por alguns brasileiros.

Por que o Monaco optou Fàbregas?

Vivendo momento minimamente desesperador (penúltimo colocado da Ligue 1), o Monaco com certeza viu em Fàbregas, além de apoteose para seu próprio torcedor comparecer ao jogos, sua boa convivência no passado com o atual treinador do clube Thierry Henry.

(Imagem: site oficial do Monaco)
(Imagem: site oficial do Monaco)

O espanhol e o técnico francês ainda quando atleta, atuaram juntos no inglês Arsenal entre 2003 e 2007. Henry foi capitão gunner entre 1999 e 2007 mais o mês e meio de empréstimo do New York Red Bulls (EUA) aos gunners entre janeiro e fevereiro de 2012. Henry é alguém que recebeu uma estátua no Emirates Stadium de Londres (Inglaterra).

No aspecto técnico o Monaco precisa de um meia armador para suprir as saídas de Lemar e João Moutinho, ocorridas no último verão. Fora de campo Fàbregas corresponde à figura de atleta profissional exemplar. Temos afirmado aqui no 90 Minutos que o Monaco não esconde que seu objetivo é revelar e projetar bons jogadores para fechar o caixa. A última safra do período do título francês 16/17 trouxe Kylian M’bappé.

Logo não é interessante contaminar os vestiários povoados por atletas de baixa faixa etária, com “medalhões” pouco profissionais. Num todo Fàbregas ainda será o “escoteiro” de Henry dentro de campo.

Repassando a carreira de Fàbregas

A 17 de maio de 2006, Fàbregas pisou em solo francês, mais exatamente no Stade de France em Saint Dennis (Paris/França), para disputar a final da Champions League 05/06, atuando pelo Arsenal que tinha Henry como liderança técnica. A equipe dos gunners acabou derrotada pelo Barcelona (2×1), curiosamente a equipe catalã que revelou o próprio meia espanhol.

A partir dali o mundo passou a observar Fàbregas com olhos diferenciados, valendo ressaltar que naquela temporada 05/06, o atleta disputou 50 partidas (5 gols e 6 assistências). O jogador foi escalado pelo então treinador Arsène Wenger (outro ex-Monaco) como titular na final da UCL, ostentando apenas 19 anos.

Wenger levou Fàbregas para Londres em 2003, tirando-o das canteras do Barcelona sub-17. Na equipe culé o meia teria dificuldade de protagonismo, num setor ocupado de forma absoluta por Xavi Hernández e por Andrés Iniesta, que por sua vez despontou no Camp Nou exatamente na temporada 05/06.

Um não protagonismo de Fàbregas no ciclo de ouro da seleção espanhola entre 2008 e 2012, também se deu pela coexistência com a dupla Xavi/Iniesta. Mais precisamente no período do Mundial de 2010 na África do Sul, Fàbregas conviveu com problemas físicos. Num comparativo com Henry, há quem diga que se caso técnico do Monaco não tivesse convivido com Zinédine Zidane na seleção francesa, ele Henry é quem teria sido o número 1.

No Arsenal entre 2003 e 2011 mesmo sem títulos expressivos (apenas uma FA Cup em 2005) Cesc Fàbregas elencou 306 partidas, 59 gols e 92 assistências. O atleta tornou-se obsessão do Barcelona após a final da UCL em 2006, a ponto de levá-lo para a Catalunha em 2011. No Camp Nou, Fàbregas atendeu apenas o desejo do avô que queria vê-lo em campo pelo Barcelona.

Em três temporadas, Fàbregas seguiu ofuscado pela dupla Xavi/Iniesta, atuando pelo clube que lhe deu a primeira oportunidade, exatamente na lacuna sem títulos de UCL entre as conquistas de 10/11 e 14/15. O meia deixou o clube no verão de 2014 para vê-lo finalista vencedor da UCL ao fim da temporada que se iniciaria.

Fàbregas retornou à Londres, vinculando-se ao Chelsea. Segundo consta, à época Wenger acabou por não recontrata-lo mesmo tendo cláusula contratual de preferência, por já ter em seu elenco o alemão Mesut Özil. Até o último fim de semana, Fàbregas participou de dois títulos de Premier League (13/14 e 16/17), elencando 198 partidas, 22 gols e 57 assistências pelo clube de Stamford Bridge.

Mais aura de ídolo no futebol da Inglaterra e rashtag #fabregasismagic propagada nas redes sociais, após sua saída de campo no último sabado, no confronto entre Chelsea e Nottingham Forest pela FA Cup.

Tendo se classificado para as semifinais da Copa da Liga francesa no último meio de semana, o Monaco volta a campo neste domingo pela rodada 20 da Ligue 1.

Os monagescos visitarão o Vélodrome para clássico contra o Olympique Marselha as 18 horas. Fica expectativa para a estreia ou não de Fàbregas.

Imagem de Henry e Fàbregas: AFP

Sortie de but

– Na última quarta-feira o Monaco venceu o Rennes nos pênaltis após empate em 1×1, na partida válida pelas quartas de final da Copa da Liga francesa. O alento foi o retorno do meia-atacante luso-brasileiro Rony Lopes, finalmente recuperado de problema físico que o acometeu nas primeiras rodadas da presente Ligue 1. Rony anotou o gol do Monaco no tempo normal.

– Os confrontos das semifinais da Copa da Liga francesa se darão nos dias 29 e 30 de janeiro (jogos únicos). No dia 29 teremos o tradicional Racing Strasbourg enfrentando o Bordeaux. O Monaco entrará em campo no dia seguinte contra o Guingamp.

– Pouco antes do anúncio da contratação de Fàbregas o Monaco havia confirmado a contratação do lateral Fodé Ballo-Touré, agora ex-Lille. Por outro lado o empréstimo do meia William Vainqueaur (do turco Antalyaspor) não se confirmou, devido a reprovação nos exames médicos.

– Em entrevista coletiva Henry ainda mencionou interesse do clube do Principado no belga Michy Batshuayi. O treinador e o atacante trabalharam juntos na seleção da Bélgica, inclusive durante o Mundial 2018.

– Batshuayi (25 anos) tem os direitos federativos pertencentes ao Chelsea, que o emprestou ao espanhol Valencia no início da atual temporada. O atacante já atuou no futebol francês entre 2014 e 2016 vestindo a camisa do Olympique Marselha.

– O título desde post faz menção à expressão “Oh captain, my captain”, popularizada pelo filme “Sociedade dos Poetas Mortos” e estrelado pelo já falecido ator Robin Williams. A expressão é título de um poema do escritor norte-americano Walt Whitman. Apenas tomamos a liberdade de traduzi-la para o francês.

– Rejeitamos e terminantemente não intencionamos quaisquer relações ou intertextualidades de cunho político com esse texto. O capitão em questão aqui é Thierry Henry.

Alexandre Kazuo
Alexandre Kazuo é blogueiro de futebol há mais de 10 anos. Ex-colaborador do Trivela (2006-2010) e ex-blogueiro do ESPN FC Brasil (Lyon). É mestre em filosofia contemporânea e também procura por cultura pop, punk/rock/metal. Twitter - @Immortal_Kazuo
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