Manchester City: e agora Josep?

No último domingo o Manchester City sofreu uma derrota inquestionável para o Everton, que conseguiu impôr improvável goleada por 4×0 em jogo válido pela Premier League. O treinador citzen Josep “Pep” Guardiola via-se em meio a “saias justas” proporcionadas pela imprensa inglesa, e os maus resultados agora tornam-se outro problema.

Em campo há uma explicação lúcida para o ocorrido. Os principais volantes do elenco, Fernandinho/Gündogan se veem indisponíveis. O primeiro cumpre suspensão referente à expulsão na partida da rodada anterior, diante do Burnley. O segundo se vê fora de ação devido a grave lesão que praticamente já o tirou da temporada.

Contra o Everton em específico, Pep Guardiola armou a equipe com Yaya Touré e Pablo Zabaleta, à frente da linha defensiva, valendo ressaltar que o segundo é lateral-direito de origem. O ataque dos tofees de Liverpool não encontrou resistência para ultrapassar a defesa dos citzens.

A equipe azul de Liverpool comandada pelo holandês Ronald Koeman, antigo ídolo do Barcelona, transformou os 71% de posse de bola dos citzens em tempo inútil de bola rolando (dados segundo o The Guardian).

The Guardiola way

Após a partida Guardiola afirmou publicamente que o título da Premier League tornou-se difícil, com a equipe azul de Manchester agora no quinto lugar na tabela (42 pontos). Mais além a repercussão negativa foi inevitável, escancarando todas as fragilidades do Guardiola way, como diz a imprensa britânica nomeando o modus operandi do treinador catalão.

Jamie Jackson do Guardian colocou que, caso Guardiola se propusesse a realizar um jogo previsível contra o Everton, o dano talvez tivesse sido menor. Ser previsível implicaria em tocar a bola a partir da defesa e designar uma trajetória “em U”, com os jogadores de lado de campo usando os flancos para propôr o jogo ofensivo.

A trajetória “em U” é ressaltada por Martí Perarnau no livro “Guardiola Confidencial” (ed. Grande Área), enquanto algo que o treinador renega desde os tempos em que era o primeiro homem de meio-campo do Barcelona. Para o catalão é preciso ter a posse e jogar verticalmente em direção ao gol. Em contraparte é necessário um sistema defensivo. E os problemas defensivos do City foram todos enfatizados pela imprensa.

Jackson deu margem a observação acerca da dispensa do goleiro e ídolo Joe Hart (agora no italiano Torino), preterido por Cláudio Bravo inferior como goleiro, mas superior no jogo com os pés. A ESPN brasileira ressaltou os 26 gols sofridos em toda da Premier League até agora (21 jogos), o que coloca o City enquanto detentor da pior defesa entre os 6 primeiros colocados na tabela.

Sem volantes

Ex-volante, Guardiola mostra-se refém dos volantes indisponíveis acima citados. Merece crédito como gestor de grupo por ter reabilitado Yaya Touré, a princípio fora dos planos. Mas o volante marfinense em fim de carreira, está longe dos seus melhores dias. Por quê o brasileiro Fernando não foi relacionado para o confronto contra o Everton, não se sabe. Era o único atleta nato do setor no plantel, deixado de lado em nome de um Zabaleta improvisado.

Desde o início da temporada Guardiola tem proposto “revoluções esquisitas” sendo que até o lateral-esquerdo Aleksandar Kolarov chegou a atuar na quarta zaga, durante a primeira metade da temporada. O catalão proporcionou esse tipo de situação em inúmeras oportunidades no FC Bayern, herdado por Carlo Ancelotti que por sua vez, lida com defensores desacostumados às suas funções de origem.

O ofensivismo pretendido por Guardiola também acarreta num time que pouco desarma, como ressaltou a ESPN Brasil. Dentre os 98 times das cinco grandes ligas europeias, os citzens conseguem obter 48% de desarmes certos. É a única equipe que fica abaixo de 50%, um dado negativo considerável.

A grande verdade é a de que o Guardiola way não terá exito imediato na Premier League, o que por um lado consumirá muito o obcecado Pep, mas ao mesmo tempo deve criar algum alívio, uma vez que os fatos podem fazê-lo sentir-se “mais normal”. Como Jamie Jackson ressaltou, valer-se do “senso comum” futebolístico não é demérito.

Quando venceu a Champions League 2008/2009 com o Barcelona, Guardiola lançou mão de zagueiros de área na zaga (Puyol/Piqué) e um volante à frente da defesa (o citado Touré). Quando o fez no êxito blaugrena de 2010/2011 tinha três defensores, dois natos (Piqué/Abidal) e um volante recuado (Mascherano), além do volante à frente da defesa (Busquets). Quando faz o óbvio, Guardiola ainda é o melhor treinador do mundo.

O Manchester City retornará a campo no próximo sábado para receber o vice-líder Tottenham Hotspur. Foram os spurs que quebraram a sequência inicial de seis vitórias em seis rodadas da Premier League, obtida pelo City no primeiro turno.

Imagem de Guardiola na último domingo: Michael Regan/Getty

Alexandre Kazuo
Alexandre Kazuo é blogueiro de futebol há mais de 10 anos. Ex-colaborador do Trivela (2006-2010) e ex-blogueiro do ESPN FC Brasil (Lyon). É mestre em filosofia contemporânea e também procura por cultura pop, punk/rock/metal. Twitter - @Immortal_Kazuo
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