Copa do Brasil – final – ida: Atlético 1×3 Grêmio – o duelo tático

Na última quarta-feira, Atlético/MG e Grêmio porto alegrense fizeram a primeira partida da final da Copa do Brasil 2016 no Mineirão (Belo Horizonte/MG). Os gremistas surpreenderam a ofensiva equipe do Galo, construindo uma vitória categórica por 3×1.

Os gaúchos obtiveram as vantagens do empate sem gols e derrota por apenas um gol de diferença, para o jogo de volta. Pelo lado atleticano, o time alvinegro precisa vencer por 3×0 para obter o título, ou ao menos impôr um placar de 2×0, para levar a decisão para os pênaltis.

É preciso ressaltar que na Copa do Brasil, o regulamento determina que não há vantagem do gol qualificado.

Atlético/MG

O técnico Marcelo Oliveira mandou a campo o alinhamento inicial com Victor, Carlos César, Erazo, Gabriel e Fabio Santos. Junior Urso, Leandro Donizete, Maicosuel e Cazares. Lucas Pratto e Robinho. O desenho tático possível é um 4-2-4, vulnerável uma vez que na América do Sul, os laterais avançam muito, desprendendo-se da linha de 4 defensores.

O Galo acabou surpreendido pela rígida postura defensiva do Grêmio, sendo que o time gaúcho precisou de apenas 29 min para abrir o placar. Marcelo Oliveira não tem à sua disposição meio-campistas que possibilitem contenção de posse de bola. Seus meias de ataque (Maicosuel/Cazares) são jogadores de condução e transição, que atuam pelos lados do campo.

Noutras palavras, o Atlético é um time que não consegue atuar sem a posse de bola, o que é curioso pelo citado fato de seu elenco estar desprovido de meias que contenham o esférico. O gol atleticano saiu em lance de escanteio aos 36 min da segunda etapa, quando a equipe já perdia por 2×0 e tinha um homem a mais, após a expulsão do gremista Pedro Rocha.

A base atleticana ainda está alicerçada em jogadores do ciclo 2013/2014, em que o time venceu a Taça Libertadores 2013 e a Copa do Brasil 2014. Porém, comparado ao time de 2013, o elenco atual não tem jogadores similares ao volante Josué e ao meia Ronaldinho Gaúcho. Josué era um meio-campista que recuperava a bola e concedia o primeiro passe.

R10 era o responsável por municiar homens de frente, dando o último passe, além de possibilitar passes verticais e bola longa. O volante que tem feito a diferença no elenco do Galo atualmente é Rafael Carioca, lesionado. Já o atleta do elenco alvinegro que mais se aproxima do perfil de meia atacante convencional, é o contestado argentino Jesus Dátolo que sequer foi relacionado.

O lance do terceiro gol imposto pelo Grêmio, lembrou muito o lance do terceiro gol que o Atlético sofreu contra o marroquino Raja Casablanca, na semifinal do Mundial de Clubes 2013. A equipe mineira mais uma vez se viu postada toda à frente, buscando um resultado em desespero e também perdendo por 2×1.

Grêmio porto alegrense

O time gaúcho do treinador Renato “Gaúcho” Portaluppi foi a campo com Marcelo Grohe, Edílson, Pedro Geromel, Kannemann e Marcelo Oliveira. Maicon, Ramiro, Walace e Douglas. Pedro Rocha e Luan. A equipe se desenhava num 4-4-2 convencional, quando detinha a posse de bola.

Seus laterais na linha defensiva (Edílson/Marcelo Oliveira) se portam de forma mais fixa, como wing backs do futebol europeu (noutras palavras, laterais que não avançam). O veterano Edílson (33 anos) é um atleta rodado no futebol do sul do Brasil (tradicionalmente mais defensivo), comportando-se praticamente como um terceiro zagueiro.

Em caso de possibilidade de avanço de Marcelo Oliveira, o time pode se re-organizar no 3-6-1 característico, que Renato Gaúcho utilizava no passado à frente do Vasco da Gama e Fluminense. À frente Luan é o atacante de lado de campo que recompõe, enquanto sexto homem do meio-campo.

Com Douglas e Maicon centralizados, o Grêmio explorou bolas longas verticais pelo chão, à procura de Pedro Rocha que também centralizado, movimentava-se pelas linhas atleticanas de meio-campo/defesa. Aos 29 min, Maicon iniciou jogada passando para Douglas que encontrou Pedro Rocha, movimentando-se do centro para a direita da defesa atleticana. O atacante se livrou do marcador e bateu com categoria.

Já na segunda etapa Douglas cobrou falta praticamente no circulo central, passando-a de forma longa e rasteira para Pedro Rocha aberto pela esquerda. O atacante avançou sem muitos problemas e finalizou, assim impondo o segundo gol aos 09 min. Pedro Rocha recebeu um cartão amarelo por tirar a camisa na comemoração. O ato lhe rendeu um segundo cartão aos 21 min, após falta no adversário e consequente expulsão.

Com um homem a menos, o Grêmio tentou administrar a vantagem se fechando. Sofreu o gol de Gabriel, que entrou livre na área gremista aos 36 min, durante jogada de escanteio. Mas o tricolor ainda ampliou aos 45 min. O zagueiro Pedro Geromel avançou pela direita como um lateral, cruzando de forma magistral para Everton (que substituiu Douglas), fazer o terceiro gol.

No aspecto tático, a supremacia gremista se deu pela sagacidade de Renato Gaúcho, em sua proposta de preenchimento de espaços. O time explorou bolas longas rasteiras, buscando jogadas verticais em velocidade; em detrimento da exploração de jogadas aéreas.

Menções honrosas

Douglas, Maicon e Pedro Geromel merecem ser enaltecidos. Ex-Corinthians, Douglas é um meio-campista por muitas vezes ridicularizado no eixo RJ/SP. Sua trajetória no Grêmio está se asseemelhando à de jogadores como Tcheco e Palhinha.

Já o capitão Maicon foi um dos muitos casos de atletas, injusta e covardemente escorraçados pela torcida do São Paulo Futebol Clube. Após ser perseguido no Morumbi, Maicon foi contratado pelo Grêmio em 2015, onde se firmou.

Por fim o veterano e pouco conhecido zagueiro Pedro Geromel (31 anos), fez toda sua carreira no futebol europeu, onde atuou por quase 15 anos, jogando por Vitória de Guimarães (Portugal), FC Köln (ou Colônia por seis temporadas/Alemanha) e Real Mallorca (Espanha). O zagueiro esteve presente na primeira convocação de Tite, para a seleção brasileira.

Grêmio e Atlético farão a partida de volta da final da Copa do Brasil, na Arena Grêmio (Porto Alegre/RS), já na próxima quarta-feira 30/11.

Imagem: globoesporte.com

Alexandre Kazuo
Alexandre Kazuo é blogueiro de futebol há mais de 10 anos. Ex-colaborador do Trivela (2006-2010) e ex-blogueiro do ESPN FC Brasil (Lyon). É mestre em filosofia contemporânea e também procura por cultura pop, punk/rock/metal. Twitter - @Immortal_Kazuo
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