Champions League: Atlético Madrid 2×0 Barcelona – o duelo tático.

Na última quarta-feira o Atlético de Madrid venceu o Barcelona por 2×0, em partida de volta válida pelas quartas de final da Champions League. Com o resultado de 2×1 para o Barça no jogo de ida, os colchoneros se classificaram para as semifinais. O “Atléti” protagonizou 90 min tão convincentes quanto os primeiros 45 min, da partida de ida.

Atlético de Madrid

No confronto de ida, a estratégia do técnico Diego Simeone deu certo durante a primeira etapa e posteriormente tornou-se um revés, devido a expulsão do atacante Fernando Torres pelo segundo cartão amarelo. Um “ferrolho” defensivo contra o Barcelona raramente funciona, tendo-se um jogador a menos.

Na última quarta Simeone alinhou de início Oblak, Juanfran, Godín, Lucas e Filipe Luís. Gabi, Augusto, Koke e Saúl, Carrasco e Griezmann. A disposição possibilitava o módulo tático habitual do 4-2-3-1/4-1-4-1, podendo designar um 4-5-1 convencional, sobretudo quando os 10 jogadores de linha, se postavam em seu próprio campo.

Mais uma vez, o belga Yannick Carrasco meia que atua pelo lado externo, se deslocava ao ataque como um segundo atacante, desde que o time ostentasse a posse de bola. Sem a bola Carrasco é mais um meio-campista.

Griezmann era o homem referência único, literalmente atuando como “falso centroavante”. O francês não é um centroavante de ofício. A diferença em relação à partida de ida, é que Simeone abandonou o módulo tático que permitia um 4-3-3, em nome do 4-5-1.

Sem Torres suspenso, Simeone abriu mão de um atacante de ofício mesmo necessitando de um único gol para se classificar. Sem “el niño” Torres, “cholo” dispôs o nada badalado Augusto Fernández, meio-campista de força física, que formou uma segura dupla de volantes junto a Gabi, os dois à frente da linha defensiva. Assim, o “Atléti” teve uma defesa intransponível já no onze inicial.

A jogada dos dois gols surgiram pelas extremidades direita e esquerda, da defesa do Barcelona. A jogada de Saúl que resultou no primeiro gol de Griezmann, saiu no setor que deveria ser guardado pelo culé Jordi Alba. A jogada que resultou no penalti convertido por Griezmann, começou com Filipe Luís, no corredor direito da defesa do Barcelona.

Segundo levantamento do jornal El País, 52% das jogadas ofensivas do Atlético ocorreram pelo lado direito, esquerdo da defesa do Barça. É o setor culé mais desguarnecido, onde Busquets se sobrecarregava na cobertura de Alba, uma vez que Neymar não contribui na parte defensiva. O “Atléti” venceu ostentando apenas 24% do tempo total de posse de bola.

A regra do futebol não proíbe time algum de jogar defensivamente. O Atlético se portou de forma muito parecida com o Milan de Carlo Ancelotti, campeão da CL 2006/2007. Naquela temporada, Carletto solucionou a perda do artilheiro Shevchenko negociado com o Chelsea, dispondo um Ambrosini a mais em campo.

Barcelona

O empate em 0x0 classificaria o Barcelona para as semifinais, sem muitos problemas. A questão é que seus atletas de defesa não parecem preparados para jogar de maneira em que a prioridade seja não sofrer gols. Luís Enrique alinhou Ter Stegen, Daniel Alves, Piqué, Mascherano e Alba. Busquets, Rakitić e Iniesta. Messi, Neymar e Suárez.

Com a vantagem Enrique poderia ter priorizado um lateral marcador ao invés de Alves ou Alba, e/ou ter deixado Neymar no banco de reservas, em nome de um meio-campista a mais. Enquanto Messi era focalizado na linha que corta o campo ao meio dando combate nos espaços deixados por Daniel Alves, Neymar dava pontapés em adversários caídos, em jogadas perdidas na linha de fundo.

Na realidade, Luís Enrique até percebeu a situação aqui citada por volta dos 60 min (o “Atléti” abriu o placar aos 35 min), quando sacou Alves e Rakitić, dispondo Sergi e Arda Turan. O Barça poderia abrir mão de um atacante e ter entrado desde início com Turan, meia de maior força física.

O turco ofereceria maior auxílio na marcação no jogo sem bola, além de conhecer melhor os jogadores adversários, por ter jogado no Atlético. O penalti patético cometido pelo gênio Andrés Iniesta denunciou ao menos, algum esgotamento físico dos atletas de defesa culé. Não era obrigação de Iniesta estar dentro de sua própria área, desarmando atacantes adversários.

A temporada seguinte a uma conquista blaugrena de CL.

Desde o êxito da CL 2008/2009, o Barcelona não tem o mesmo desempenho na edição seguinte do torneio. Com certeza o desgaste físico da temporada de êxito cobra seu preço na temporada posterior. Jogadores não são máquinas.

Na temporada 2009/2010, o Barça de Guardiola defendendo o título foi eliminado nas semifinais pela Internazionale de José Mourinho, finalista vencedora daquela edição. Após vencer a CL 2010/2011, o Barça ainda comandado por Guardiola na edição seguinte 11/12, foi mais uma vez às semifinais.

Naquela ocasião acabou eliminado pelo Chelsea (campeão daquela edição), que se classificou heroicamente. Os blues venceram por 1×0 em Londres e ostentaram um empate em 2×2 na Catalunha. No jogo de volta, o Chelsea atuou com 10 jogadores em 53 min do tempo total de jogo, uma vez que o zagueiro/capitão John Terry acabou expulso.

Nas duas ocasiões, Internazionale e Chelsea simbolizaram um estilo de jogo rigidamente defensivo. No aspecto mental, derrotar um Barcelona defendendo o título também reforça a confiança.

Imagem de Mascherano (de amarelo) e Griezmann: AFP – Getty Images

Alexandre Kazuo
Alexandre Kazuo é blogueiro de futebol há mais de 10 anos. Ex-colaborador do Trivela (2006-2010) e ex-blogueiro do ESPN FC Brasil (Lyon). É mestre em filosofia contemporânea e também procura por cultura pop, punk/rock/metal. Twitter - @Immortal_Kazuo
Top