“e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?”
(Carlos Drummond de Andrade)
A data FIFA para jogos amistosos/eliminatórios de seleções trás um “ganho de tempo” para o treinador lusitano José Mourinho, responsável pelo Chelsea Football Club. No último fim de semana os blues voltaram a perder, desta vez por 3×1 para o Southampton, fora de casa. O clube londrino contabiliza quatro derrotas em oito partidas e apenas oito pontos, numa décima-sexta colocação da Premier League.
Na véspera da partida ocorrida no último sábado, Mourinho já convivia com questionamentos da imprensa, acerca de um possível pedido de demissão. Mou afirmou frontalmente “estar no pior momento de sua carreira”, ao passo que ecoou a certificação de que ele não será punido em relação ao caso Eva Carneiro.
A FA recebeu uma denúncia de um torcedor, que ostentava supostas imagens filmadas num celular, nas quais Mourinho ofendia a médica do Chelsea de forma sexista. Isso na ocasião da primeira rodada da Premier League, quando os blues empataram em 2×2 contra o Swansea City, com Mou destituindo Eva e o fisioterapeuta John Fearn do banco de reservas, logo após. A investigação não deu em nada.
Voltando às consequências da derrota para o Southampton, Mou bradou aos jornalistas: “Se o Chelsea quiser de demitir, que me demita”, afirmando na sequência que não pedirá para sair. Foi além descrevendo que o clube vive um “momento crucial”. E ainda se auto-afirmou dizendo que se for demitido, quem sai demitido “é o melhor treinador da história do clube”.
O atual vínculo de Mourinho estende-se até 2019 mas não há indícios de que Roman Abramovich, realmente queira se livrar do treinador. Mou retornou a Stamford Bridge na metade de 2013, após ser demitido do Real Madrid, posteriormente a uma turbulenta temporada. Mourinho dizia que queria voltar para um lugar onde realmente “o amassem”.
Na contramão, o periódico espanhol El País aponta que este é o pior início de temporada do Chelsea desde a temporada 1978/1979, a qual culminou em queda para a segunda divisão. O El País ainda frisou que nenhum time com oito pontos em oito rodadas, conseguiu ultrapassar a quinta colocação, em toda a história da Premier League.
A terceira temporada.
Curiosamente o momento turbulento em meio à primeira metade da temporada 2015/2016, lembra muito o panorama do mesmo período, nas duas temporadas em que os blues conseguiram ser finalistas da Champions League. Na temporada 2006/2007, Mourinho foi demitido por Abramovich, após má estreia na fase de grupos do torneio continental.
Ainda em seus primeiros anos como dirigente de clube, Abramovich promoveu um ato nitidamente imaturo, ao passo que os blues avançaram à final da CL sob comando do interino Avant Grant. Foram derrotados pelo Manchester United. Na temporada 11/12, a turbulência interna em Cobham era intensa, com o treinador Andre Villas Boas sendo demitido em meio a indicios de complô, encabeçado por alguns lideres do grupo (Cech/Drogba/Terry). O Chelsea acabou imprevisivelmente campeão da CL 11/12.
Voltando à temporada 2006/2007, Mourinho caiu no iniciar da terceira temporada, de sua primeira passagem por Stamford Bridge. Em seus anos de Real Madrid, entre 2010 e 2013, a última temporada terminou sem conquistas, permeada de desavenças frontais com diversos atletas do elenco merengue. O relacionamento de Mou para com seus elencos indiscutivelmente se deteriora a longa prazo.
Na última terça-feira os apresentadores do programa “4 em campo” (rádio CBN), ressaltaram uma declaração do veterano técnico italiano Fabio Capello, junto à imprensa italiana. Também enaltecido pelo estilo “linha dura”, Capello afirmou que Mourinho costuma “queimar” seus atletas, com o decorrer do tempo.
Por incrível que pareça, o panorama do Chelsea para a sequência de Premier League é o de manter-se na zona de classificação para as competições europeias. Mais do que isso a equipe psicologicamente perturbada, precisa voltar a mostrar boas atuações.
Em contra-parte, a obrigação de uma caminhada convincente na Champions League, pode levar a uma redenção que Mourinho com certeza almeja. O time se vê no terceiro posto (3 pontos) do grupo G da CL, em plenas condições de superar FC Porto, Dynamo Kiev e Maccabi Tel-Aviv.
Os blues voltam a campo pela nona rodada da Premier League após o término da data FIFA. O time enfrenta o Aston Villa em Londres, no dia 17/10.
Imagem de Mourinho contra o Southampton: Justin Tallis – AFP