Com falência decretada no último mês de junho, o tradicional time italiano do Parma disputa atualmente a série D, divisão chamada na Itália enquanto “Regional”. A equipe ostenta 12 pontos em 12 possíveis ou seja, mantem 100% de aproveitamento, tendo vencido os quatro jogos até agora disputados. É o líder da série D.
Devido às formalidades decorrentes da quebra administrativa, o clube precisou ser refundado e renomeado Parma Calcio 1913. Oficialmente a nomenclatura Parma Foot Ball Club acabou extinta. Ostentando o antigo nome, o clube foi tricampeão da Coppa Itália, vice-campeão italiano (1996/1997) e bi-campeão da Taça UEFA (atual Europa League), nas temporadas 1994/1995 e 1998/1999
Ao findar da última edição da Série A italiana (primeira divisão), ninguém se interessou em assumir as dividas e reconduzir o clube à elite. Se algo tivesse acontecido, o time apenas cairia para a Série B. Uma vez que precisou ser refundado, a agremiação automaticamente se viu obrigada a re-iniciar tudo do zero, inscrevendo-se na série D.
O renascimento do Parma se vê atrelado ao retorno de seu antigo treinador Nevio Scala. Hoje com 67 anos, Scala assumiu a presidência do novo Parma, tendo no passado comandado o clube em seu grande período nos anos 90. O agora presidente foi o responsável pelo time nas conquistas da Coppa Itália 1991/1992 e Taça UEFA 1994/1995.
Scala foi técnico do Parma entre 1989 e 1996, período em que o clube teve aporte financeiro da extinta multinacional Parmalat. Para se ter uma ideia por volta de 1995, o clube adquiriu o craque búlgaro Hristo Stoichkov junto ao Barcelona, numa operação de comparativos inimagináveis nos dias atuais. Seria equivalente se Napoli ou Roma hoje, contratassem Lionel Messi.
Parma Calcio 1913.
A equipe continua atuando em seu estádio Ennio Tardini, na cidade de Parma. O público varia entre 9 e 10 mil torcedores, algo que contabiliza um número recorde na série D. Sua liderança técnica dentro de campo é o atacante Alessandro Lucarelli, único remanescente do plantel do antigo Parma e hoje ostentando 38 anos.
Segundo informa o periódico espanhol El País, oito industriais locais decidiram investir no clube agora presidido por Nevio Scala. A SKY italiana adquiriu os direitos totais de transmissão televisiva dos jogos do Parma, algo que demonstra o interesse do público e que também gerou receitas. Scala falou ao El País afirmando que não desejava “se envolver” com o clube.
O atual presidente estava vivendo em Padova, cuidando de uma empresa agrícola especialista em cultivo de produtos 100% naturais. Foi procurado pelos empresários que injetaram os recursos financeiros, sob o argumento de não deixar o Parma “sumir do mapa”. Mais além, o intento era de fazê-lo de forma “limpa”, sem loucuras financeiras.
Lucarelli por sua vez afirmou que após oito anos atuando no Parma, deveria prosseguir ao invés de “abandonar o barco”. O atleta esteve jogando no Parma nos últimos meses sem receber vencimentos. O atacante se diz feliz e que agora respira um “ar fresco e limpo”. Relata que ao atuar no Ennio Tardini, nada é muito diferente da Série A.
As diferenças surgem quando a equipe viaja para jogar contra agremiações menores do interior da Itália. Lucarelli relata que quando o time viajou para Borgo San Lorenzo (província de Florença, região da Toscana), os jogadores deixaram o ônibus com as mochilas nas costas, caminhando um longo trecho a pé para poder chegar aos vestiários do campo adversário.
Lucarelli afirma que isso também é “bonito”, e que voltou a sentir as mesmas emoções de quando ainda era um atleta juvenil.
Scala e os velhos homens de confiança.
Os atletas ainda treinam na cidade desportiva de Collechio, que segundo informa o El País, em março passado sequer ostentava seus funcionários internos. Todos haviam sido demitidos. O local se vê penhorado mas Lucarelli confirma que os atletas e comissão técnica tem autorização para utilizar o lugar, até que surja um comprador.
O atual treinador é Luigi Apolloni, zagueiro do Parma dos anos 90 e hoje com 48 anos. Scala chamou-o pessoalmente, sendo que o ex-defensor recusou propostas para treinar outros clubes. Ex-seleção italiana, Apolloni participou das duas conquistas do Parma na Taça UEFA. Outros ex-comandados de Scala também ressurgiram. Lorenzo Minotti é o auxiliar técnico e Fausto Pizzi, treinador das categorias de base.
“A escolha não foi casual, eram meus homens”, afirma Nevio Scala. Apolloni afirma que ainda procura “mister” Scala para pedir conselhos. O ex-treinador e atual presidente sempre foi chamado de “mister” pelos torcedores crociati. Scala enfatiza a emoção de fazer um clube “renascer”, frisando que não há promessas megalomaníacas. A meta é retornar à Série A em três anos. Mas a meta não é uma obsessão.
O capitão Lucarelli diz que nada o faz mais feliz “do que a alegria da torcida” crociati. Enfatiza “a paixão do futebol provinciano”, onde todos tem vontade de “voltar a obter conquistas mas fazendo-o de forma limpa”.
Foto do ex-zagueiro e atual técnico do Parma, Luigi Apolloni (ao centro) sendo ovacionado pela torcida: Getty