Copa do Mundo feminina: de igual para igual

No último domingo, o Brasil feminino acabou subitamente derrotado pela seleção da Austrália, por 1×0. A partida valeu pelas oitavas de final do Mundial de futebol feminino, que acontece no Canadá. A seleção brasileira feminina que vinha fazendo campanha excelente, infelizmente está eliminada do torneio.

Em campo a equipe manteve o mesmo nível de intensidade física dos três jogos da primeira fase. O duelo tático foi bastante espelhado, frente a uma equipe australiana dotada de forte imposição física. O técnico Vadão mandou a campo a equipe titular disposta num 4-2-3-1, onde a ocupação territorial no meio-campo era o intento maior.

O tempo chuvoso contribuiu para um jogo de poucos espaços ser permeado por finalizações a longa distância. O Brasil feminino controlava a partida e o aspecto pragmático apontava para um desfecho, que surgiria quando um dos times cometesse o primeiro erro, o qual poderia ser fatal.

A escalação com Luciana, Fabiana, Mônica, Rafaelle e Tamires. Andressa, Formiga, Thais e Marta, Andressa Alves e Cristiane, deixou sobressair a grande apresentação da veterana volante Formiga. A meio-campista levou perigo em chutes a longa distância além de cabecear uma bola na trave, aos 18 min da segunda etapa, em jogada de escanteio.

Variação tática e o minuto fatal

A equipe variava o 4-2-3-1 para o 4-3-1-2, tipicamente sul-americano. No segundo desenho tático, Thais ficava centralizada a frente da linha das 4 defensoras, tendo Formiga e Andressa pelos lados, na trinca de meio-campistas. Marta se adiantava, como a “enganche” (o 1 do desenho), tendo Andressa Alves e Cristiane adiantadas. O maior mérito de Vadão foi dar padrão tático ao time, que se posiciona de maneira exemplar, com e sem a posse de bola.

Aos 34 min da etapa complementar, as australianas cobraram rápido falta marcada a favor delas mesmas, em seu próprio campo de defesa. No contra-golpe a defesa brasileira adiantada acompanhou a movimentação da atacante australiana que avançava pela direita e finalizou. A goleira Luciana rebateu a bola úmida que acabou nos pés da australiana Simons, que por sua vez finalizou obtendo o gol da vitória. A praticamente dez minutos do fim, não havia muito o que fazer.

Equipe e comissão técnica não serão desfeitas, sendo que a delegação se apresentará novamente no Canadá, no próximo mês para a disputa dos jogos Pan Americanos. Uma vez que o torneio não pertence o calendário FIFA, os clubes não são obrigados a liberar as atletas. São os casos de Beatriz do coreano Hyundai Steel Red Angels, Rafaela do Boston Breakers, que disputa a MLS feminina norte-americana. E Marta, do sueco Rosengaard.

Nos jogos Pan Americanos de 2007, o Brasil feminino obteve medalha de ouro, batendo a poderosa seleção norte-americana por homéricos 5×0, dentro do velho Maracanã (Rio de Janeiro/RJ). Vencer o torneio novamente não é impossível, mesmo não tendo Marta no elenco.

O pior adversário é a seleção dos EUA, uma vez que times europeus como Alemanha e Suécia, não disputam esta competição. Além do ouro em 2007, o Brasil feminino obteve medalha de ouro nos jogos Pan Americanos de 2003 e prata em 2011.

Reflexão final

Em entrevista concedida à CBF tv, o técnico Vadão elogiou as atletas e afirmou que tudo o que havia sido prometido pela entidade fora cumprido. É preciso lembrar que as atletas que atuam no Brasil onde não há liga feminina profissional, foram contratadas pela CBF e estão treinando juntas desde o início de 2015.

Algo que só agregou nos quesitos entrosamento e possibilidade de variação tática. O time valeu-se de desenhos táticos diferenciados, nas quatro partidas disputadas neste Mundial (3 vitórias/1 derrota/4 gols marcados/1 gol sofrido). Com certeza o custo da manutenção continua da estrutura, é muito menos oneroso do que o valor da manutenção anual de um clube da primeira divisão masculina.

Mais além o custo para manter elenco e comissão técnica do Brasil feminino é muito provavelmente ínfimo, se observado toda a quantia de propinas e valores de amistosos da seleção masculina, que a CBF recebeu nos últimos 20 anos.

Voltando a Vadão, o treinador afirmou que pela primeira vez a comissão técnica conseguiu condicionar a equipe sem defasagem, em relação às outras seleções no quesito físico. Vadão afirmou que a seleção da Austrália resolvia as suas partidas anotando gols dentro dos primeiro 20 min de jogo, valendo-se da marcação alta e imposição física.

Anular este detalhe foi algo realizado com êxito, uma vez que as australianas obtiveram o gol aos 79 min de jogo. Mais além, a veterana Formiga (37 anos, 6 Mundias disputados pela seleção), afirmou que foi o primeiro mundial que ela disputou em pé de igualdade com as outras seleções.

Uma medalha de ouro nos jogos Olímpicos de 2016 é um horizonte possível.

Imagem da lateral Fabiana ao lado das australianas: Gazetapress

Alexandre Kazuo
Alexandre Kazuo é blogueiro de futebol há mais de 10 anos. Ex-colaborador do Trivela (2006-2010) e ex-blogueiro do ESPN FC Brasil (Lyon). É mestre em filosofia contemporânea e também procura por cultura pop, punk/rock/metal. Twitter - @Immortal_Kazuo
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