Calcio: Internazionale, Milan e o incerto.

O periódico espanhol El País deu destaque às incertezas que possivelmente os clubes italianos Milan e Internazionale, continuarão vivendo na nova temporada. Há isenção na forma como os espanhóis observam o calcio italiano, mas há também alguma rivalidade histórica, acerca de quem detém o torneio nacional mais glamuroso.

Nos anos 1990 os holofotes pendiam plenamente para a Série A italiana, mas nos dias atuais, o derby municipal madrilenho entre Atlético de Madrid e Real Madrid é muito mais relevante do que o Inter x Milan milanês. Isso para citar apenas um detalhe que reflita a decadência do calcio.

O El País aponta a ausência tanto de Inter quanto de Milan na Champions League, isso desde a temporada 2014/2015, que já se encerrou. Ambos são os clubes italianos que detém o maior número de conquistas da CL, três interistas e sete milanistas. O Milan é o segundo maior vencedor do torneio, atrás apenas do Real Madrid, dez vezes campeão.

A última participação da Inter se deu na temporada 2011/2012. A última participação do Milan, na temporada 2012/2013. O vazio maior se dará ao findar da CL 2015/2016, cuja final será decidida exatamente no San Siro (ou Giuseppe Meaza), em Milão (Itália). O estádio municipal é mantido em conjunto por Inter e Milan e sua capacidade de quase 82 mil pessoas, tem tido dificuldade de ser preenchida nas últimas temporadas.

Na encerrada temporada 14/15 o San Siro teve pouco mais de 78 mil pessoas no confronto entre Milan e Juventus da terceira rodada da Série A, sua maior ocupação da última edição da liga italiana. Nos derbis entre Milan x Inter a ocupação foi de 79.173 no primeiro turno e pouco mais de 74 mil no segundo turno. A média (baixíssima) de público do San Siro na temporada foi de 35.507 pessoas para Inter, e 36.856 para o Milan.

O El País ressalta o prejuízo dos clubes nas vendas de carnês anuais comprados antecipadamente. Em 2009 o Milan vendeu quase 45 mil e no último verão, obteve apenas 19.333 carnês vendidos. Não muito diferente, a Inter teve 35.166 sócios comprando o carnê anual antecipado em 2012, contra 22.500 no último verão. Os clubes não estão lucrando com o que pode ser angariado pela audiência dos próprios jogos.

Investidores asiáticos e mais incerteza.

O El País trouxe as palavras de Gianni Mura do periódico italiano La Reppublica. Mura afirma categoricamente que Milan e Inter não podem fazer o que Real Madrid, FC Bayern, Barcelona ou Manchester United fazem em termos financeiros. Precisam se contentar em fazer o que a também italiana Juventus, tem racionalmente feito nos últimos anos.

Segundo Mura, os times italianos tem menos dinheiro atualmente que os grandes tradicionais de outros países. Mas Inter e Milan em específico tem menos dinheiro e menos ideias também. Já Paolo Condó do periódico esportivo italiano Gazzeta Dello Sport, aponta algo comum no futebol brasileiro enquanto problema dos dois times de Milão.

Ambos passaram muitos anos nas mãos de apenas um dirigente outrora muito rico. Porém não se atentou para o futuro, ou para investimentos que poderiam lhe dar alternativas caso investidores mais ricos, surgissem amparando outros clubes. A Inter já foi passada por Massimo Moratti às mãos de Eric Thohir, magnata indonésio, isso no outono de 2013.

A imprensa italiana tem especulado a origem da fortuna de Thohir, supostamente oriunda de sociedades fantasmas nas ilhas Caimán e em Hong Kong. A Inter fez contratações expressivas na última janela de transferências, adquirindo o meia Shaqiri e o atacante Podolski. Já anunciou Kondogbia e deve anunciar o zagueiro brasileiro Miranda.

Pelo lado rossonero, Silvio Berlusconi tem causado alarde sobre o interesse do tailandês Bee Teachaubol, que estaria disposto a comprar 48% do Milan. Porém o El País ressalta que Bee ainda não depositou um centavo dos 500 milhões de Euros previstos. O prazo para negociação se concretizar expira no início de agosto.

O Milan que dava como certa a contratação do colombiano Jackson Martínez (FC Porto) por 35 milhões de Euros, deve perdê-lo para o Atlético de Madrid. Até agora a equipe anunciou apenas o treinador sérvio Sinisa Mihajlovic, ex-Sampdoria.

Além de atletas pouco interessados em atuar em clubes que não disputam a CL, Gianni Mura aponta para a escassez de atletas/bandeiras, lideranças como Baresi ou Maldini no passado recente do Milan. Ou Javier Zanetti no passado recente interista.

Em vestiários atualmente incontroláveis, “há poucos dispostos a morrer por uma camisa”, afirma Mura sobre os elencos pouco competitivos dos dois clubes.

Alexandre Kazuo
Alexandre Kazuo é blogueiro de futebol há mais de 10 anos. Ex-colaborador do Trivela (2006-2010) e ex-blogueiro do ESPN FC Brasil (Lyon). É mestre em filosofia contemporânea e também procura por cultura pop, punk/rock/metal. Twitter - @Immortal_Kazuo
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