FIFA: sob os escombros sul-americanos da casa que caiu.

A imprensa mundial segue repercutindo as consequências das prisões, de agora oito dirigentes ligados à FIFA, entidade máxima do futebol mundial. A ação combinada entre o FBI norte-americano e a justiça suíça deflagrada na última quarta-feira visou o agrupamento dos lideres das confederações ligadas à FIFA, reunidas em Zurique (Suiça).

Aguarda-se o pleito que pode re-eleger o presidente da instituição Joseph Blatter, o qual deve acontecer nesta sexta. A rede corrupta que atua valendo-se de subornos, atos de lavagem de dinheiro envolvendo escolhas de sedes para competições futebolísticas e venda de transmissão de jogos, se estabelece pela América Latina.

A Concacaf cuja sede está nos EUA e que representa o futebol da América do Norte e Central engloba países periféricos como Panamá, Nicarágua ou Haiti, por exemplo. No entanto, o coração negro da rede está na América do Sul, entrelaçado às federações futebolisticas brasileira e argentina, dentre outros membros da Conmebol, entidade que representa o futebol sul-americano.

Datisa e a Copa América.

A procura agora se dá em relação a ligações da empresa Datisa, comandada por gestores argentinos. A mesma negocia a organização da Copa América cuja próxima edição acontece no Chile agora em junho. O periódico espanhol El País aponta que a fiscal norte-americana Loretta Lynch frisa atos ilícitos envolvendo a Datisa que negociou a realização das próximas quatro edições da Copa América.

A Datisa se responsabilizou por um acordo de 100 milhões de dólares pagos a funcionários da Conmebol e da FIFA, em nome da realização desta nova edição da Copa América. O acordo feito em 2013 se estendia para as quatro edições subsequentes do torneio e incluia mais 20 milhões de dólares pelo contrato firmado, e mais outros 20 milhões a serem pagos por cada uma das quatro edições.

Os EUA se viram subitamente interessados pela questão, uma vez que a edição especial de centenário da Copa América a ser realizada no ano que vem, deve ser sediada exatamente em território yankee. As outras acontecem no Brasil em 2019 e no Equador em 2023. O torneio ocorre a cada quatro anos, a exceção da edição centenária de 2016.

A Datisa tem como donos os argentinos Alejandro Burzaco, Hugo e o filho Mariano Jinkis, mais o norte-americano Aaron Davidson. É a mesma Datisa que tem sido relacionada pela imprensa brasileira ao empresário brasileiro J.Hawilla (dono da empresa Traffic), também investigado e atualmente residindo nos EUA. A justiça argentina já procura por Burzaco e pelos Jinkis. O intento yankee é o de que eles sejam extraditados.

O El País afirma que Eugenio Figueredo, outrora vice-presidente da Conmebol recebeu 15 milhões de dólares das cifras acima cogitadas. Figueredo é um dos oito detidos na Suíça, acusado de estar envolvido com subornos que favoreceram a realização das copas de 2018 na Rússia e 2022 no Catar.

José Maria Marin enquanto presidente da CBF, também receberia valor similar, tal qual Julio Grondona falecido ex-presidente da AFA argentina. Outros 7,5 milhões caberiam aos presidentes das federações do Paraguai, Equador, Chile, Bolívia, Peru e Venezuela. O responsável pela federação venezuelana Rafael Esquivel, é um dos oito detidos em Zurique.

No Brasil.

Uma nova CPI da CBF deve ser instaurada provavelmente em caráter “misto”. A mesma surge encabeçada pelo senador Romário (tetracampeão, ex-jogador de Flamengo, Vasco, Barcelona e seleção brasileira). Pode haver interesse da oposição política ao governo atual, uma vez que o processo que culminou no Mundial 2014 realizado no Brasil, começou no segundo mandato do presidente Luís Inácio Lula da Silva.

A candidatura das sedes África do Sul (2010), Rússia (2018) e Catar (2022) foram colocadas em questão pela investigação yankee. Impreterivelmente surgirão informações (possivelmente nefastas), sobre o processo iniciado por Lula e Ricardo Teixeira (então presidente da CBF), em nome do Mundial que só foi realizado no Brasil em 2014, com o país já sob gestão de Dilma Roussef.

Caso hajam contratempos que prejudiquem intentos do partido da situação, os defensores destes intentos devem se amparar aos parlamentares da chamada “bancada da bola”, que defende o interesse das agremiações falidas do futebol brasileiro. Em entrevista concedida a José Luís Datena (Band) nesta noite de quinta-feira, Romário afirmou que a “bancada da bola” já inviabilizou diversas tentativas suas, no intento de esclarecer as entrelinhas da realização do Mundial 2014.

Imagem de Romário: R7

Alexandre Kazuo
Alexandre Kazuo é blogueiro de futebol há mais de 10 anos. Ex-colaborador do Trivela (2006-2010) e ex-blogueiro do ESPN FC Brasil (Lyon). É mestre em filosofia contemporânea e também procura por cultura pop, punk/rock/metal. Twitter - @Immortal_Kazuo
Top