A partir de uma análise mais próxima do Atlético de Madrid, temos observado um crescimento das forças médias do futebol europeu, sobretudo em La Liga espanhola. O bom êxito sem dispôr de valores vultuosos, mostra que é possível para clubes tradicionais mas não bilionários, manterem-se em disputas frequentes, atuando em duas ou três competições simultâneas.
O Atlético em especial personificou esta tendência ao fim da última temporada, vencendo a própria liga espanhola e obtendo um vice-campeonato da Champions League. No entanto Sevilla, Valencia, Villarreal e Deportivo La Coruña também tem conseguido se equilibrar.
O Sevilla venceu a última Europa League sendo inegável que houve um domínio espanhol no continente europeu na temporada 2013/2014. O clube da Andaluzia tem um perfil não muito distinto do Atlético, ambos valendo-se de menos da metade daquilo que o campeão da CL Real Madrid, dispõe.
Atualmente em terceiro lugar na tabela de La Liga, o Atlético de Madrid não esconde que sua briga é com os adversários médios, por uma vaga na próxima Champions League. A disputa é tanto futebolística quanto financeira. O clube colchonero oficializou a poucos meses a entrada de um investidor chinês Wang Jianlim. Opção similar à da qual se vale o Valencia, que obteve o apoio do magnata Peter Lim, de Cingapura.
Dentre outros aspectos, o fair play financeiro imposto pela UEFA nos últimos anos, já começa a render possibilidades para as forças médias. Uma vez que esta medida limita os investimentos dos clubes milionários. O periódico espanhol El País chamou a atenção para os times médios da Espanha, na última terça-feira. Valencia, Atlético e Deportivo passaram por maus momentos a poucos anos, os dois últimos chegando a frequentar a segunda divisão.
Isso após aquilo que o periódico enfatiza enquanto o instante posterior ao advento da “Lei Bosman”, decretada na temporada 1996/1997. A mesma determinava a maneira como os contratos dos atletas vigoram até os dias atuais, situação que privilegiou o mercantilismo futebolístico e o futebol milionário do fim dos anos 1990.
O modelo do Villarreal.
Num primeiro momento o Villarreal se sobressaiu sem se valer de cifras astronômicas, tendo nos anos 2000 chegado a disputar frequentemente a UEFA Champions League. Isso à sombra da primeira gestão de Florentino Pérez no Real Madrid. Na temporada 2005/2006, a equipe comandada pelo treinador Manuel Pellegrini (hoje no Manchester City), chegou às semifinais do torneio sendo eliminada pelo Arsenal. O time inglês foi o vice-campeão daquela edição.
Já naquele período o Villarreal destoava, valendo-se de uma mentalidade administrativa realista. Na primeira metade dos anos 2000, o submarino amarillo se valia de jogadores argentinos, então menos onerosos que os atletas brasileiros, em alta devido à conquista do Mundial 2002. Aquele Villarreal 2006 fora montado em torno de Juan Riquelme, “refugo” do Barcelona que por sua vez ostentava o jovem Ronaldinho Gaúcho.
O atual Villarreal disputa a sua primeira semifinal de Copa Del Rey, estando ainda classificado para as oitavas de final da Europa League. O El País ressalta a mentalidade administrativa do clube do Madrigal, que inicialmente se valia do patrimônio da família Roig.
O periódico grifa um lema gravado “nas entranhas do clube” que assevera: “comprar bem e vender melhor ou vice-versa, conforme as circunstâncias.” Sobre o atual elenco do submarino amarillo, o El País assinala quatro aspectos levados em conta: o uso das categorias de base, procura por jogadores não aproveitados pelos clubes maiores (Real Madrid, Barcelona). Além da busca por jogadores low profile dentro do âmbito espanhol e por fim, atletas de pouco renome de fora da Espanha.
O presente time base do Villarreal trás sete atletas de suas categorias inferiores. Dentre os trazidos das canteras dos clubes maiores, tem-se os irmãos Jonathan e Giovani dos Santos, mexicanos de ascendência brasileira, ambos ex-Barcelona. Além de Cheryhev, ex-Real Madrid. Já Vietto e Gabriel foram trazidos do inglês Arsenal por pouco menos de 20 milhões de Euros.
A contraparte do atual fair play financeiro imposto pela UEFA obriga por exemplo, o Real Madrid a sofrer com as ausências de Modrić e James Rodriguez por lesão física. Honrar salários altos de Cristiano Ronaldo e Gareth Bale, pode obrigar o clube a ser comedido na obtenção de peças de reposição, ostentando elencos muito enxutos.
A visão de que o futebol espanhol pauta-se pelo “duopólio” Real Madrid/Barcelona, é uma perspectiva de dez anos atrás. A atual liga espanhola tem um equilíbrio maior do que a Bundesliga alemã, onde impera a supremacia financeira do FC Bayern. Na Espanha é possível competir.
Foto de Giovani dos Santos do Villarreal passando por Toni Kroos do Real Madrid, no último domingo: Dani Pozo – AFP