Atlético de Madrid: pés no chão sem loucuras administrativas.

Na semana que se encerrou, o Atlético de Madrid, atual campeão espanhol e vice-campeão europeu, anunciou a entrada do investidor chinês Wang Jianlin. O magnata chinês, “mecenas” do futebol em seu país comprou 20% das ações do clube colchonero. Jianlin agora é sócio majoritário do Atlético, junto ao principal acionista Miguel Angel Gil Marin e ao presidente do clube, Enrique Cerezo. O Atlético tem mostrado pés no chão, planejamento e decisões administrativas acertadas.

Neste momento o fair play financeiro imposto pela UEFA, obriga os clubes europeus milionários a ficarem atentos aos valores que gastam nas contratações de atletas renomados. São os casos dos tradicionais Real Madrid, Barcelona e FC Bayern. E também dos “novos” ricos que contam com valores vultuosos de investidores árabes ou do leste europeu. Ou seja Manchester City, PSG e o Chelsea, este último há quase onze anos sob gestão de Roman Abramovich. Irregularidades podem acarretar na proibição do time em participar da UEFA Champions League.

Porém nas últimas duas temporadas, vimos dois times tradicionais em seus países mas não milionários, conseguirem ser vice-campeões da CL. O alemão Borussia Dortmund e o próprio Atlético chegaram à final da competição em 2013 e 2014 respectivamente. Possivelmente valendo-se de 30, 40% do orçamento gasto por Bayern e Real Madrid, respectivos campeões nos últimos dois anos. Planejamento e gestões administrativas conscientes estão fazendo a diferença entre os clubes médios da Europa.

Para disputar regularmente a Champions League.

Voltando especificamente ao Atlético, a entrada de Jianlin no clube renderá cerca de 45 milhões de Euros de imediato. Os rojiblancos visam a expansão da sua marca no mercado futebolístico chinês, este em desenvolvimento. O aspecto financeiro do futebol da China independe de seu aspecto técnico, ainda rudimentar. O fato dos clubes chineses estarem levando muitos atletas que foram destaque no último campeonato brasileiro, no Brasil por exemplo, não é por acaso.

Com um saldo devedor atual de 540 milhões de Euros, o Atlético pretende a médio/longo prazo amortizar esta dívida e torná-la num saldo positivo pouco maior do que 200 milhões de Euros. Há a aposta de risco que depende das premiações decorrentes dos torneios que a equipe disputa nesta temporada, detalhe válido para todas as grandes equipes. Num planejamento de antemão, não se sabe que torneio poderá acabar em êxito e consequente premiação financeira.

A entrada de Jianlin, porém visa atrair patrocinadores asiáticos, sendo que a Huawei, que já ostenta sua marca nas mangas da camisa do clube colchonero, é uma multinacional chinesa das telecomunicações. A Huawei foi patrocinador master do Atlético na temporada 2011/2012 e seu vinculo se estende até 2016. Estes valores que podem ser explorados, se somarão ao que o clube recebe de transmissões televisivas.

O Atlético tem plena consciência de que não pode fazer o que Real Madrid e Barcelona fazem em termos financeiros. O desafio colchonero é disputar frequentemente a UEFA Champions League, que rende as maiores premiações e direitos televisivos. Grosso modo, os clubes recebem valores a medida que vão avançando as etapas do torneio, desde o playoff eliminatório que rateia as últimas vagas para a fase de grupos, passando pelas fases do mata-mata, até a decisão final.

Há clubes que conjugam pagamentos de salários a valores que podem receber em caso de avanço da fase de grupos para as oitavas de final. Se o êxito não acontece, a agremiação pode ir a bancarrota. Para se ter uma ideia, a último colocado da Champions League recebe em torno de 7 milhões de Euros. O campeão da Taça Libertadores sul-americana recebe em torno de 6 milhões de dólares.

O caminho do Atlético de Madrid nos últimos anos é de regularidade, ostentando um título a cada temporada desde 2012. Os colchoneros venceram a Europa League na temporada 2011/2012, a Copa Del Rey na temporada 2012/2013 e a liga espanhola na temporada 2013/2014. Disputar a Champions League frequentemente é sim um mundo possível para os rojiblancos.

Continua.

Alexandre Kazuo
Alexandre Kazuo é blogueiro de futebol há mais de 10 anos. Ex-colaborador do Trivela (2006-2010) e ex-blogueiro do ESPN FC Brasil (Lyon). É mestre em filosofia contemporânea e também procura por cultura pop, punk/rock/metal. Twitter - @Immortal_Kazuo
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