A Colômbia do professor Pekerman, estágio 2 (parte II).

Voltando oito anos atrás, José Pekerman comandou a seleção albiceleste no Mundial de 2006 na Alemanha, o primeiro disputado pelo então jovem Lionel Messi, ainda coadjuvante no Barcelona. A Colômbia da copa 2014 foi bastante similar a Argentina de Pekerman com uma flutuação que permitia o time se desenhar em 3-5-2 e 4-4-2.

A Argentina 2005/2006 tinha Juan Pablo Sorin (hoje comentarista da ESPN), flutuando entre a lateral esquerda e o meio campo. A defesa tinha Coloccini, Ayala e Heinze, mais Sorin flutuando numa linha que variava de três para quatro defensores. Sorin poderia ser o quinto homem na faixa central de campo.

Pelos lados da faixa central de meio campo havia Kily Gonzalez (ou Maxi Rodriguez) na esquerda, e Lucho Gonzalez na direita. Mascherano era o primeiro volante e Riquelme o meia de ligação, “enganche” como chamam os sul-americanos. No bom portugues brasileiro, o típico camisa 10.

Essa formação fez uma grande apresentação em Buenos Aires, no returno das Eliminatórias no começo de 2005. A Argentina bateu o Brasil por 3×1 no Monumental de Nuñez em noite inspirada de Riquelme e do artilheiro Hernan Crespo. Em relação ao time que foi ao Mundial de 2006, só houve a efetivação de Maxi Rodriguez, no lugar de Kily Gonzalez. Na Alemanha, os hermanos foram eliminados nas quartas de final pela dona da casa, nos penaltis. De forma bem mais digna que o Brasil, desclassificado na mesma fase pela França.

Pekerman e a Colômbia.

O time colombiano de Pekerman mostrou na última copa, disciplina tática nunca antes vista, numa seleção anteriormente lembrada por seus tipos indolentes como Higuita, Valderrama, Rincón e Asprilla. Na derrota de 2×1 para o Brasil, na copa, Pablo Armero motivo de piada em seus tempos de Palmeiras, manteve-se preso a linha dos quatro defensores praticamente durante toda a partida. Armero nunca foi um marcador e arrancava risos na época de Palestra Itália, por correr muito à linha de fundo e cruzar de forma bisonha.

No futebol italiano a mais de três temporadas, Armero (agora no Milan) é utilizado de forma ofensiva. Particularmente, já vi Armero ser utilizado até na ponta direita em jogos da Udinese, fazendo gols (!!!) em chutes de longa distância. O lateral chegouà Itália contratado pela Udinese que o levou para a Série A em 2010, depois que o Palmeiras comandado por Felipão, o encostou. O problema de Armero estava nele mesmo ou na forma como ele era conduzido no futebol brasileiro?

A disciplina defensiva aprendida na Itália foi aproveitada também por Pekerman para compor sua dupla de zaga, Yepes/Zapata que ainda teve Juan Zuñiga pelo lado direito. O veterano Yepes (38 anos, ex-Chievo Verona e Milan, agora aposentado da seleção) fez as vezes de stopper, ao passo que Zapata (titular do Milan) sai no primeiro combate.
Zuñiga também atua na Itália, sendo lateral direito do Napoli desde 2009. Infelizmente ele agora será lembrado mais pela joelhada em Neymar, do que por sua força na marcação. Quando Armero avança a linha de três é composta por Zuñiga/Yepes/Zapata. Em relação a Argentina de Pekerman, Armero é a peça que faz a função que era realizada por Sorín.

A frente da linha defensiva temos Freddy Guarin, fixo na cabeça de área. Ao lado esquerdo de Guarín, Ivan Cuadrado, se projeta pelo lado externo, podendo atuar também como segundo atacante. Quando Armero avança como quarto homem de meio campo, Cuadrado pode se projetar formando um trio ofensivo e dispondo a Colômbia em 3-4-3. Na Argentina de Pekerman, tanto Kily Gonzalez quando Maxi Rodriguez também atuavam abertos pelos lados, lançando-se ao ataque.

O “enganche”.

James Rodriguez foi lapidado por Pekerman, que delineou o colômbiano de forma muito similar ao argentino Juan Roman Riquelme. James tem bom aproveitamento de passes, tanto longos quanto curtos, a ponto de ter sido o líder de assistências da Ligue 1 francêsa, atuando pelo Monaco na última temporada.

Requisitos de passe, similares ao que Roman possuia, assim como a capacidade de finalizar a longa distância e bom aproveitamento da bola parada. James é um “enganche” perfeito, enfim.
Se James se movimenta de forma muito parecida com Roman, Falcao Garcia tem uma forma de atuar muito similar a de Hernán Crespo, fixo a área mas posicionando-se bem entre os zagueiros, aproveitando ainda as jogadas aereas. Finalizando bem e sabendo se deslocar das linhas de impedimento. Ambos não foram/é exatamente atacantes de vigor fisico avantajado.

Crespo fez fama na Serie A italiana tendo atuado por Lazio, Internazionale, Milan, Genoa e Parma. Falcao Garcia teria sido um ótimo reforço para clubes italianos.

A atual base da Colômbia deve estar no próximo Mundial em 2018.

Alexandre Kazuo
Alexandre Kazuo é blogueiro de futebol há mais de 10 anos. Ex-colaborador do Trivela (2006-2010) e ex-blogueiro do ESPN FC Brasil (Lyon). É mestre em filosofia contemporânea e também procura por cultura pop, punk/rock/metal. Twitter - @Immortal_Kazuo
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