Classificação do Brasil – parte II: o fator Fernandinho

Na vitória do Brasil contra Camarões por 4×1, pela última rodada da fase de grupos do Mundial 2014, o time brasileiro parece ter encontrado sua melhor forma de jogar, só no segundo tempo. O técnico Felipão não parece ter todo o âmbito tático sob controle. Na estreia contra a Croácia o time se valeu do talento individual de Oscar e Neymar, dois dos jogadores que atuam em grandes clubes da Europa, tendo obrigação de protagonismo. Hulk, Daniel Alves, Marcelo, Paulinho e até Fred sentiram “o peso da camisa” na estreia. O problema foi também, psicológico. Na partida contra o México, o 0x0 mostrou uma superioridade defensiva do adversário, algo que denunciou a imaturidade de alguns dos jogadores-protagonistas do Brasil. Voltando a segunda etapa da partida contra Camarões, o meia Fernandinho entrou em campo no lugar do “fantasma” Paulinho.

Há muito tempo jogando na Europa, Fernandinho (29 anos) foi revelado pelo Atlético/PR e atuou por muitos anos no futebol ucraniano do Shakhtar Donetsk. No início da última temporada, Fernandinho foi contratado a uma cifra elevada pelo inglês Manchester City.

Sob a batuta do competente técnico chileno Manuel Pellegrini, o City declaradamente passou a atuar no 4-2-3-1, após 2 ou 3 temporadas valendo-se de um futebol feio proporcionado pelo técnico italiano Roberto Mancini.

O fator Fernandinho

A dupla de volantes atrás da linha de 3 meias ofensivos citzens foi composta na última temporada pelo marfinense Yayá Touré e Fernandinho. Yayá atua mais pela esquerda e Fernandinho pela direita, tendo o vigoroso meia inglês James Milner sobressalente no elenco. É responsabilidade da dupla Yayá/Fernandinho a marcação no setor de meio de campo, mas ambos podem sair em direção ao ataque quando detém a posse de bola.

Yayá fez muitos gols na última temporada avançando para chutar de fora da área. Fernandinho tem características de transição rápida em velocidade, com a bola nos pés. Os flancos da linha de 3 meias ofensivos do City, eram geralmente ocupados pelos espanhóis David Silva (ou Samir Nasri) na esquerda e Jesus Navas, na direita.

O argentino Agüero atua centralizado nesta linha. Quando Alvaro Negredo está em campo, o City pode jogar em função dele, pois o espanhol atua de forma mais fixa à área do que Edin Dzeko. Lembrando que nesta formação do 4-2-3-1, os três meias e o homem referência, podem se revezar dentro da área adversária, sendo que os três meias podem atuar como “falsos centroavantes”. O City valeu-se deste artifício para vencer a última Copa da Liga inglêsa e a última Premier League.

De todos os meio-campistas a disposição de Felipão, Fernandinho é o que, na posição de volante, mais se adequa ao 4-2-3-1. Com ele em campo, a linha de três meias ofensivos (Hulk/Oscar/Neymar) passou a funcionar melhor, quando Fernandinho recebia a bola e avançava rumo ao ataque de forma centralizada e verticalizada.

E se cabe a Fred atuar “enfiado” esperando a bola, a postura de Fernandinho é análoga à sua postura no City, procurando por Negredo, quando este atua fixo. O gol de Fred saiu em jogada iniciada por Fernandinho. O gol do próprio Fernandinho saiu em jogada em que o próprio roubou a bola ainda no campo de ataque, tabelando com Fred. Com Fernandinho em campo até Fred se tornou mais útil.

Na seleção, Luiz Gustavo é o volante a esquerda, de forma bastante similar ao posicionamento de Yayá Touré no Manchester City. O gol anotado por Fernandinho, o quarto dos 4×1, foi apenas a “cereja do bolo”. Paulinho, há apenas uma temporada num discreto (e também britânico) Tottenham Hotspur, perdeu a posição de titular.

Alexandre Kazuo
Alexandre Kazuo é blogueiro de futebol há mais de 10 anos. Ex-colaborador do Trivela (2006-2010) e ex-blogueiro do ESPN FC Brasil (Lyon). É mestre em filosofia contemporânea e também procura por cultura pop, punk/rock/metal. Twitter - @Immortal_Kazuo
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