E no último sábado, 24/05 o Real Madrid conseguiu obter sua décima Champions League batendo o Atlético de Madrid por 4×1. A exemplo do Borussia Dortmund na última temporada, o Atlético de Madrid ganhou diversos torcedores/secadores de ocasião, sobretudo no Brasil. Os colchoneros estão de parabéns, assim como seu treinador (e promissor) Diego Simeone. Mesmo sem a CL, o Atlético terminou esta temporada 2013/2014 com um terceiro título em três temporadas seguidas (Europe League em 2012, Copa Del Rey em 2013 e La Liga agora em 2014).
A “diversão” que os grandes investidores árabes e/ou do leste europeu deviam levar adiante gerindo clubes europeus, deveria tomar exemplo tanto de Dortmund quanto de Atlético. Ou seja, montar times competitivos sim, mas valendo-se de elencos bons e baratos e o objetivo a curtíssimo prazo é colocar seus clubes única e exclusivamente na final da CL.
A premiação do vice-campeão somado a supervalorização de seu elenco ao fim de uma derrota, já garante um lucro razoável. Aliás é uma tendência que times tradicionais de ligas menos ricas como Porto e Benfica já seguem e que um Milan por exemplo, deveria começar a seguir.
La décima.
Os torcedores/secadores de ocasião com certeza se pintaram de rojiblancos no último sábado e obviamente expressaram o quanto odeiam Cristiano Ronaldo. Verdade seja dita, CR7 terminou a CL como artilheiro e maior artilheiro de todos os tempos numa única edição do torneio, com seus 17 gols anotados.
O lusitano se esforçou muito para no mínimo se arrastar em campo na final, já que suas condições físicas estavam bem abaixo do normal. Algo já nítido na partida de ida da semifinal, vencida por 1×0 sobre o FC Bayern.
Sem CR7 o Real Madrid não teria feito a temporada que fez, nem vencido sua décima Champions League. CR7 foi o “homem a mais” do elenco blanco e foi muito mais importante nesta conquista da CL, do que naquela em que ele fez parte do grupo vencedor do Manchester United, na temporada 2007/2008. O atual Real Madrid é Cristiano Ronaldo + 10, sim!
Por outro lado, o plantel que formava os 10 junto a CR7 mostrou uma evolução e uma superação improvável, num grupo de poucos “galácticos”, o que denunciou uma forma bem diferente de pensar, por parte de Florentino Pérez. Não que Pérez tenha se omitido em relação à “gastanças”, como em sua primeira gestão, no começo dos anos 2000. Aquela que também culminou no título da CL 2001/2002, o último vencido até o último sábado.
Gareth Bale, o homem de 90 milhões de Euros teve um custo benefício mais bem aproveitado do que o de Neymar/Barcelona. Bale foi decisivo nas finais da Copa Del Rey e da CL, anotou gols em ambas as decisões e custou um pouco menos que o brasileiro. Em campo Bale, que no Tottenham atuava pelo lado esquerdo, adequou-se tranquilamente ao lado direito, o que não alterou a forma de CR7 e Di Maria atuarem, mantidos pela faixa esquerda de campo.
Bale rendeu dois títulos expressivos ao Real Madrid, Neymar rendeu só uma Supercopa da Espanha, ao Barça. Porém a diferença crucial no planejamento do Real Madrid em relação ao feito pelo Barcelona, foi a aposta num treinador realmente vitorioso em Champions League, Carlo Ancelotti.
O fator Carletto.
Carlo Ancelotti obteve seu terceiro título de CL como treinador e sua confiança depositada em “operários” do meio-campo para trás, não era diferente daquela entregue aos atletas menos badalados de seu Milan, campeão da CL em 2002/2003 e 2006/2007. O Milan de 2003 tinha na defesa, Roque Jr. e Kaladze sobressalentes aos titãs Nesta e Maldini. A exemplo do atual “Real Madrid CR7+10”, o Milan 2007 tinha Kaká + um time formado por Oddo, Jankulovski, Ambrosini e Gattuso. Esses quatro últimos não são melhores nem piores que Carvajal, Coentrão e Pepe.
Um dia Paolo Maldini afirmou que se o Milan fosse contratar um substituto para si, que este fosse Sergio Ramos. O zagueiro/lateral espanhol, não é mais do que alguma coisa superestimada, principalmente para nós brasileiros. Ramos no entanto, justificou tudo o que Maldini disse, naqueles dois gols dos 4×0 impostos sobre o FC Bayern, na semifinal. E no gol salvador de empate já nos acréscimos da final contra o Atlético, algo que decretou a prorrogação.
Ancelotti (Foto: AFP)
A forma como Carletto gerenciou as peças no meio-campo, setor onde foi bi-campeão da CL como atleta também pelo Milan, também demostrou grande perícia. No fim de 2013 Ancelotti precisou sanar a ausência de Khedira, após grave lesão sofrida em novembro último. Xabi Alonso era um interditor único e inclusive insubstituível. Modrić se viu bem acomodado ao seu lado e encontrou pela primeira vez, uma razão de ser desde que chegou ao elenco do Real Madrid. O croata foi postado como lowplaymaker, como um dia Ancelotti foi e como um dia Ancelotti sugeriu ao então segundo atacante, Andrea Pirlo.
Na final, Xabi suspenso não tinha suplente. Ancelotti colocou Khedira em campo, recuperado mas que se muito, teria condições de atuar 60 minutos, no máximo. Era preferível isso do que atirar os promissores Isco e Ilarramendi na “fogueira”. Precisando do gol do empate, já na segunda etapa, Isco foi a campo, tendo sido outrora um dos principais vértices do Málaga, que quase eliminou o Borussia Dortmund nas quartas de final da CL 2012/2013. Com a decrepitude de Xavi e Iniesta, a Espanha não tem o que temer em relação a peças de reposição.
Renascidos.
No início da temporada 2013/2014, o Real Madrid mostrou que não havia problemas em seu grupo, a não ser, pela presença de José Mourinho. A forma como o grupo atuou contra o Chelsea no torneio de pré-temporada Guiness Cup, nos EUA, vencendo-os blues na final, não deixava dúvidas. O problema era o português, por mais vitorioso que ele fosse, e ainda é.
O título da décima CL apaga por completo a imagem pomposa de “galácticos”, da metade dos anos 2000, quando a primeira gestão de Florentino Pérez começou a ruir. Onde haviam técnicos inexpressivos para gerenciar vestiário povoado por egos inflados. O Real Madrid renasceu, como time competitivo e tradicional, dependendo de treinadores vitoriosos e competentes. Como um time que sempre é lembrado por grandes craques de setor ofensivo, mas que não pode desprezar bons marcadores e defensores. Hala Madrid!