Barcelona tem um dilema, mas ainda é um mar de talento

Vamos imaginar que saia Villa. Vamos pensar também na possibilidade de que deixem o Nou Camp Sanchez, Victor Valdés, Puyol (aposentando-se), Adriano e Abidal. Ainda assim, o Barcelona teria o elenco mais talentoso da Europa. Falar em queda barcelonista agora é obra de profeta do acontecido. O caminho da dominação catalã ainda está todo pavimentado na Europa. Depois de 7 a 0 no passivo, nem é anormal imaginar que o Barcelona fosse contestado, mas seria bom um pouco de razoabilidade.

O Barça não acabou. Somente um de seus principais jogadores se machucou ou está com idade avançada. Basta olhar. Messi (25), Iniesta (28), Daniel Alves (29), Piqué (26), Fàbregas (25), Mascherano (28). Somente Xavi (33) é quem certamente poderia abrir um buraco, porque ele é insubstituível. Além disso, O Barça tem uma segunda linha respeitabilíssima, com Pedro, Busquets e Alba, entre outros. Com a nota de que o time deve ter pelo menos quatro reforços (um por setor), e finito, um Barça devastador em setembro é mais que viável.

De todas as notícias pós-derrota que vi, somente uma me preocupou – a de que Thiago Alcântara teria evitado a zona mista (dando uma demosntração de um comportamento bebetiano diante da derrota) e não dado entrevista. Aparentemente, Song também o fez, mas o camaronês é menos promissor do que o filho de Mazinho. De resto, até mesmo a ausência de Messi – uma proteção inteligente de um gênio lesionado – me pareceu normal.

Os críticos do Barcelona não analisam o fator mais importante no tombo de 2013. O Barça está estafado. há três anos, o time não descansa e é obrigado a dar show duas vezes por semana. Messi jogou 163 vezes pelo clube, fazendo a fantasiosa cifra de 184 gols. Não bastasse o estresse físico e emocional em campo, ainda teve de lidar com dois casos de câncer no grupo – do defensor Abidal e do técnico Vilanova.

Entre todos os clubes europeus, somente o Bayern (que juntará um elenco novo e talentoso a um treinador brilhante e um cofre cheio), tem tantas chances quanto o Barcelona de abrir um ciclo de dominação. Mesmo o time alemão não tem um elenco com tanto talento (apesar de ter muito e ainda muita aplicação). E para completar, não tem Messi, um jogador que aparece a cada vez que o cometa de Halley visita a Terra.

O grande problema do Barcelona é estar nas mãos de um presidente dado a mutretas futebolísticas e por isso, eventualmente, pode não tomar as melhores decisões para o time. O clube precisa, agora, não só de dois ou três reforços em posições-chave (gol, lateral-esquerda, cabeça da área) como um treinador que aglutine o talento do time. Tanto poderia ser um novo talento como Jürgen Klöpp quanto um experiente como Arséne Wenger. A efetivação de Vilanova foi uma solução ditada pela emoção, de indicar uma pessoa querida, mas jogadores de futebol precisam de uma ascendência moral como a que tinha Guardiola.

Surpreendo-me por ninguém mais falar de como o time precisa de um volante forte e hábil. Quando Ronaldinho chegou ao clube, o time patinou furiosamente com Cocu e van Bronckhorst tentando dar volume ao meio-campo. Nos seis meses em que Edgar Davids atuou, o time se acertou e Ronaldinho entendeu o seu papel. Mais importante que isso, o time compreendeu que para compensar Ronaldinho, precisava de mais físico por todo o campo. Começava a nascer o primeiro ciclo campeão do Barcelona no século XXI.0+barcelona+malaga+team+celebrations

Força física é importante num jogo técnico como o do Barcelona, Na Holanda mítica de 74, o jogador que Rinus Michels considerava o mais importante era – surpresa para muitos – Neeskens. Cruyff era sem dúvida o gênio daquele time, mas Neeskens argumentava que era Neeskens o responsável por manter o equilíbrio na fluidez do time. Muito forte, Neeskens cobria cada espaço do campo, fazendo Cruyff ter liberdade para ativar as jogadas em qualquer canto do campo.

Esse Barça poderia se aproveitar de um nome assim. Num meio-campo com Fàbregas, Xavi e Iniesta, a inserção de um holding midfielder faria Messi jogar ainda mais perto do gol. Bons volantes não faltam na Europa – Bayern e Dortmund que o digam. Dinheiro, parece, não falta ao Barcelona. Assim, uma vez escolhido um treinador à altura, o transtorno seria a escolha do nome.

É certo que esse Barca voltará aos seus níveis? Não, não é. Tecnicamente, não há nenhum empecilho – o elenco ainda é o melhor do mundo. Xavi e Iniesta seriam os melhores de qualquer outro clube do mundo, assim como Piqué e Dani Alves. Isso, naturalmente, para não falar o óbvio do camisa 10 do time. Esse Barça só decai se quiser. Cronistas de terreno baldio e urubus de plantão, conformem-se: enquanto houver Messi, o Barça será sempre o favorito.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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