O Brasileiraço, seus craques velhotes e um Palmeiras lusificado

Não é novidade, né? Ano após ano, o Brasileirão é mais e mais disputado. Líderes perdem para lanternas, times “grandes” caem (e agora teremos a primeira queda de um “grande” pela segunda vez consecutiva), “craques” que não conseguem mais jogar em nenhum clube europeu arrasam nos gramados (a ponto de uma emissora fazer um “especial investigativo” procurando as causas para o ‘sucesso dos veteranos”. Embora seja difícil apontar quem será, é fato que este ano teremos, mais uma vez, um campeão medíocre. Como consolação, podemos nos contentar que os quatro rebaixados, num dia bom (como mostrou o Atlético-GO), podem bater o líder. Para quem gosta de “emoção” o torneio é um prato cheio.

Mais dois rápidos comentários: primeiro, sobre o Palmeiras. O clube paulista está para fazer o check-in na reserva que fez para a Série B quando manteve Scolari à frente de um time muito, muito ruim e muito, muito caro. A máxima de que clube grande não cai é obviamente falaciosa, assim como a que considera que temos “12 grandes” no Brasil. O palmeirense deve se preocupar não com a eventual “grandeza” do clube, mas com uma “lusificação” de seu futebol. Está virando uma Portuguesa, administrativamente. Senhores à beira da senilidade, depois de passarem o dia em seus armazéns e açougues, vão ao Palestra deliberar sobre um assunto que desconhecem completamente – administração de futebol. Enquanto isso, sanguessugas que têm em seus cartões de visitas a função de “agente de jogador” arrancam muito dinheiro do clube. Para piorar, a cobrança vem de torcidas organizadas combatidas pelo Ministério Público e que têm o clube como refém. O palmeirense comum devia refletir e imaginar um jeito de começar a fazer parte da vida do Palmeiras. O segundo rebaixamento não é mais um aviso – é um sinal de que a bancarrota está se criando raízes.

Sobre os “craques” veteranos. É surpreendente a negação do brasileiro quanto ao próprio futebol. Todos os nomes além dos 30 que fizeram sucesso nos últimos anos no campeonato foram ejetados pelo futebol europeu. Alguns tiveram história lá – Ronaldos, “Sidão” Seedorf, Luis Fabiano, Zé Roberto – enquanto outros, nem isso, como o quase medíocre Emerson “Sheik”. Aqui, fazem miséria. De algum modo, o brasileiro consegue criar uma explicação ilógica para acreditar que isso não é sinal do nível do campeonato. Há até alguns anos, tínhamos clubes  solidificando uma cultura profissional que acabou com o golpe de Ricardo Teixeira e Andrés Sanches. Curiosamente, todos seus parceiros “ponta firme” vão mal no torneio – Flamengo, Palmeiras, Corinthians, Santos. – e o campeonato é disputado por dois “rivais”, o Galo e o Flu. Mas é uma coincidência. Nenhum clube comandado pelo Abel Braga pode ser elogiado de boa gestão.

 

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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