Ontem, ao saber do resultado do massacre sofrido pelo Palmeiras, me lembrei de uma imagem sintomática: a do Parque Antártica semidemolido, com o mato campeando e todos os fantasmas da história palmeirense arrastando suas correntes nuam das áreas mais nobres de São Paulo. O palmeirense tem por que chorar: sua diretoria tem a competência de um aglomerado de moluscos, seu patrimônio está jogado às traças e todo tipo de sanguessuga (incluindo as “oficiais”) estão arrancando a vida do Verdão.
O time tem um elenco fraquíssimo e depende de um jogador (Valdivia) que é tão craque quanto qualquer outro homem adulto com mais de 12 e menos de 60 anos; o clube conseguiu realizar o sonho dos corintianos mais neuróticos – o de demolir o próprio estádio sem ter dinheiro para construir um novo – tem torcidas organizadas como voz ativa no processo decisório (o que não dá certo em nenhum lugar) e conselheiros que quando Zaratustra falou pela primeira vez, já estavam entrando na velhice. Marcos, Luis Felipe Scolari e mais uns abnegados não mereciam tamanho sofrimento.
Não há nenhum sinal de “turning point” para o Palmeiras. Não há dinheiro em caixa, a situação do estádio é extremamente delicada (porque realmente parece que a construtora encarregada da obra tem uma musculatura bem menor do que a que anuncia), a diretoria conseguiu expurgar o único dirigente com algum tipo de credibilidade junto à sociedade constituída (o ex-presidente Belluzzo) e Scolari, hoje, o maior patrimônio técnico do Palmeiras, parece ter mais inimigos dentro do clube do que fora dele.
Não acompanho a política palmeirense a fundo o suficiente para saber se há alguém preocupado mais com o clube do que com seus próprios ganhos. Sim, sei que há gente como Palaia e Mustafá, que visivelmente topam um trade-off com o demônio se houver vantagens. Sei que há uma torcida organizada que indiscutivelmente tem mais lucros com o clube do que o contrário, mas não sei se não há realmente ninguém dentro da estrutura social que não dê a mínima. Se há, por favor, mobilizem-se. Não acreditem na lega-lenga que de o clube é grande demais, de que “dá-se um jeito”, etc. Lembrem-se que na luta por estádios na Copa do Mundo, eleições municipais, vagas em ministérios corruptos e transações de jogadores, não falta gente disposta a fazer o Palmeiras sangrar para tirar um lucrinho. Nas grandes tragédias, as pessoas de bem também colaboram quando não fazem nada. É hora de fazer alguma coisa.
Fica muito mais difícil fazer alguma coisa quando a mídia silencia em torno dos desmandos da diretoria. Que são particularmente intensos no Palmeiras, mas que estão presentes em qualquer outro grande (se é que alguns dos que assim se consideram realmente o são).
Foi uma derrota vergonhosa em todos os sentidos. E a “diretoria” do Palmeiras tem uma enorme parcela nessa derrota…