A decepção com Tiago Leifert

Eu não me lembro do aparecimento de um apresentador tão interessante no esporte brasileiro como Tiago Leifert. Ele não é só inteligente e talentoso: ele parece antenado com o que acontece e pouco afeito a manter tradições e costumes da TV que é uma mídia sessentona que tem medo de mudar. Por isso, minha decepção com o episódio da CPI-Twitter que o envolveu .

Um preâmbulo: antes de se criticar o apresentador, vamos evitar a hipocrisia e assumir que não se trabalha num meio de comunicação de massa sem se exercer o lado político. O poder exige concessões de princípio mas dá a possibilidade de fazer mudanças relevantes (FHC e Lula certamente sabem disso, por exemplo). Uma denúncia moderada na Globo tem uma reverberação ridiculamente maior do que um alerta escandaloso em uma concorrente. Logo, Leifert não deve ser desmerecido simplesmente porque trabalha numa emissora cuja postura jornalística é questionável.

Contudo, por mais que saiba que ele trabalha numa empresa imensa (da qual seu pai é diretor de relações com o mercado), achei que ele lidou muito, mas muito mal toda a questão envolvendo a (óbvia) pressão das pessoas pela CPI da CBF. Se as pessoas o estivessem hostilizando por uma razão fútil (digamos, o lixo do Big Brother), eu entenderia a frustração dele. Mas a motivação pela pressão é justa e, em muitos dos casos, não foi feita sem educação. Tiago é mais jovem e muito mais talentoso que Galvão Bueno. Perdeu a chance de também ser mais inteligente que o narrador (cuja postura de submissão xiita é notória) ao ceder sem resistir ao sistemático jogo do poder – especialmente porque ele é mais do que um simples funcionário na emissora. Seu maior mérito numa carreira meteórica foi o de estar conectado ao que as pessoas pensam e dizem. No episódio, fez exatamente o contrário.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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