O Salvador

Na semana passada, eu ia escrever sobre a eleição no Palmeiras, mas o tempo foi escasso. Na realidade, eu ia escrever é sobre Salvador Hugo Palaia, cujo primeiro nome é uma ironia para com o clube. O resultado da eleição, sinceramente, não importava. A vitória já estava decidida e o derrotado, certo, qualquer que fosse o resultado. Era o clube.

Política é quase que por definição, uma gestão de mesquinharia e interesses. No futebol, que não pode ser submetido a controles da sociedade, o tom é ainda pior. O cheiro é pior. Não há um clube no Brasil no qual a política mereça algum tipo de elogio. Há os menos piores, os piores e os muito piores.

Por exemplo: que clube forçaria seu maior ídolo a abandonar o cargo de diretor por conta de ciúmes e medo de perda de poder, como fez o Flamengo com Zico? Nem acho que Zico seja, como técnico ou diretor, uma sombra do que representou como atleta. Contudo, é até embaraçoso tentar explicar porque ele merecia ter sido mais respeitado pela presidente Patricia Amorim e pelos conselheiros. “Conselheiros”. Não é engraçado que um cara que mande Zico embora do Flamengo tenha o título de “conselheiro”?

Palaia, ao meu ver, tipifica o Palmeiras entre os clubes da terceira classificação. Dono de uma figura caricata, o cartola palmeirense definiu a sorte da política do clube. Rachou a situação porque chegou num acordo de poder com a oposição a quem, absurdamente, elogiava durante a campanha. Não que a situação da gestão de Belluzzo merecesse grandes elogios. Trata-se de princípios. A traição palaiana foi um exemplo cristalino de como a política é exclusivamente gerida pelo interesse individual dentro dos clubes.

Sua “gestão” no Palmeiras, como presidente semigolpista, foi equivalente à sua figura de personagem de comédia italiana ao sair da CBF com óculos escuros e carregando troféus doados pela entidade. Palaia retornou o clube ao grupo de Mustafá Contursi, outra criatura política palestrina que tipifica alguma coisa – nesse caso, a entropia eterna do clube e sua lógica na geração de líderes.

Não resta dúvida de que há palmeirenses que gostam de Palaia e que vão acusar este texto de ser clubista, ou asneira parecida. Afinal, se não falta gente desinteressada (e desinformada) para defender a gestão de Andre Sanchez no Corinthians, o que mais pode ser impossível? Mas eu posso garantir que o sentimento mais profundo que experimentei ao escrever essas linhas foi o de frustração, uma frustração que vai além das cores das camisas e se aninha na incapacidade de vislumbrar dias melhores para quem gosta de futebol.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.

3 Comments

  1. A melhor definição foi a do profº Belluzzo que disse na ESPN Brasil que Palaia estava “delirando”. Passou vergonha ao conquistar apenas 21 votos nas últimas eleições. Espero que tenha entendido que seu tempo já passou.

    Mas agora, com Mustafá no poder, entra em prático o projeto Palmeiras campeão do mundo de 2012, isso se o mundo não acabar primeiro…

  2. Não sendo maldoso e tal, mas torço para o tempo passar e essas figuras deixarem nosso mundo, para ver se quem sabe, as coisas melhorem.

    E que estes malas não inspirem outros a se tornarem tão ou mais malas que eles.

  3. Sinceramente é difícil de acreditar como algum torcedor palmeirense pode apoiar tanto o Palaia quanto o Mustafá, mas a tempos deixei de ter esperança no verdão, a meu ver não parece que irá se livrar do feudo que é o conselho do palmeiras, os conselheiros agem em benefício próprio e não do clube o episódio do Zico no Flamengo demonstra claramente isso, hoje, aliás, a alguns dias o Antero Greco tem postado sobre a falta de profissionalização dos clubes, dirigentes amadores, que não entendem de contratos, de clausulas juridicas… e por ae vai. Abraço

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