Um titã adormecido do futebol europeu entrou novamente em águas agitadas. O Ajax perdeu o técnico Martin Jol depois que este pôs o cargo à disposição. Jol está cotado para assumir o Newcastle e sua saída é compreensível: ele não se dava com o diretor Danny Blind (o que confirma que ex-jogadores que almejem carreiras de técnicos não podem ser diretores de futebol), queria trabalhar na Inglaterra, sofre com uma doença do Ajax similar ao ‘Fator Flamengo’, uma entropia político-administrativa que faz com que sempre se seja refém de um fantasma escondido e não teve reforços, ao contrário do PSV que se preparou bem.
A saída de Jol elevou o valor das ações do clube, o que sugere que de fato sua saída era dada como certa e como umempecilho ao futebol claudicante do clube (4 derrotas e dois empates nas últimas sete partidas). Jol não conseguiu mais a solidez na defesa da temporada passada, embora ela não tenha se alterado em termos de nomes (Stekelenburg, van der Wiel, Vertonghen, Alderweireld, Anita/Emanuelsen). O meio-campo é que não se acertou. De Jong foi o ponto fizxo, mas De Zeeuw e Enoh ou Emanuelsen não acertaram a formação. A maior crítica a Jol é a falta de força do setor, onde o atacante El Hamdaoui frequentemente compunha como terceiro homem. Contra o NEC, o Ajax teve o menor público num jogo de liga na sua história dentro do Amsterdam ArenA: 22 mil pagantes, reultado de uma dissociação da torcida.
O cheiro é de que a quantidade de jogadores que já almejam um clube maior (Suárez, De Zeeuw, van der Wiel, Vertonghen, Emanuelson) é grande demais para um time em formação. Na realidade, esta tem sido a chaga do Ajax: jogadores que cismam de sair antes de atingirem alguma maturidade (a lista é longa: van der Vaart, Mido, Sneijder, Nigel De Jong, van der Meyde, Heitinga, Babel, etc). Eles nem conseguem se firmar imediatamente no exterior (ou nunca se consolidam), nem o Ajax se aproveita do futebol deles.
A discussão no clube é a respeito de três coisas: a primeira, que é necessário dar ao novo técnico uma carta branca para impor respeito no elenco; a segunda é que, esse técnico aja com a bênção de um diretor de futebol também forte e com quem ele se dê bem; a terceira, é que o clube encontre os pequenos focos de poder que derrubaram o décimo treinador em dez anos no clube. Atendendo a uma sugestão de Johan Cruyff, o Ajax abriu espaço para a eleição de novos membros no conselho e oito ex-jogadores devem passar a ter mais voz na gerência do Ajax.
Cruyff está também no centro das esperanças da torcida: todos pedem que ele aceite o cargo de treinador (ou diretor) e que tenha carta branca para fazer o que bem entender. Dado seu histórico no clube, é bem razoável. Aqui no Brasil, trata-se Cruyff como um mero escroto que foi gênio no campo (como se Maradona fosse diferente), as o holandês é também um gênio como treinador e tático. A descrição dos problemas do Ajax em campo contra o Real Madrid é espetacular, assim como a sua avaliação do problema dentro do clube – problema esse qie fez com que ele abrisse mão do cargo no começo da “gestão” de van Basten, na qual Cruyff era o diretor de futebol
E Felipe, respondendo à pergunta do Jol, sim, ele fazia um excelente trabalho. O ponto é que o Ajax tem muito jogador caro e meia boca com poder por causa de valor/agente (como Aissati e Sulejmani). na verdade nem são ruins, mas acham que têm de ser reverenciados. O problema no Ajax é chegar um técnico com carta branca aliado a um DT com poder para reorganizar a base. Tudo isso, mais três anos de reestruturação. Tá fácil? abs
Raphael, não se trata de parear ou não com o Porto campeão. Se trata de restaurar uma tradição perdida no clube. O Ajex cria seus jogadores com uma tradição tática, treinadores que se falam entre si, buscam atletas de acordo com as necessidades dos seus times de base e etc. Hoje tudo isso está esquecido. O Ajax dificilmente voltará a ser o que já foi, mas teria condição de correr por fora pelo título da LC uma vez ou outra. Se Leverkusen, Villarreal e Monaco chegaram à final, porque não um Ajax organizado? E o PSV que fez semifinal com o Milan em 2005? Trata-se de um clube que é referência histórica em geração de jogadores. O problema – repito – é político-administrativo e não esportivo-financeiro. Grana é importante, mas como o Manchester City prova, não é a única coisa. abs
É, eu sei. Eu sempre troco o nome deles. Mas me perdoe: o cara tem um irmão que chama Dick e outro Cock. É muito mais comédia que…Martin…abs
Cassiano, eu sei que o prazo de validade do post já está passando (se é que não passou), mas é que você fez uma confusão no texto: quis citar Martin Jol e falou “Dick Jol”, o árbitro. Abraços!
Cassiano, você citou o exemplo do Porto. Aquela era uma situação atípica: tinha jogadores muito bons/eficientes em suas melhores fases, como Deco, Ricardo Carvalho, Maniche e Paulo Ferreira. E alguns coadjuvantes que se encaixavam bem, como Alenichev, Carlos Alberto e Costinha. Até o Vitor Baía estava pegando tudo. Não preciso lembrar também quem era o técnico. O mais justo em termos de comparação com aquele time teria sido lembrar do Ajax de Koeman, que também tinha promessas bastante talentosas em várias posições do campo mas ainda sem a maturidade suficiente, vide Van der Vaart, Sneijder, Van der Meyde e outros. Faltou um técnico de ponta. Se nem naquela época o Ajax pôde parear com o Porto campeão, não será agora que o fará.
O treino da seleção da catalunha é só um gesto simbólico, óbvio. O problema do Ajax, mais do que dinheiro, é de gestão. O Porto joga um campeonato igualmente tosco e venceu uma LC na última década e se não ganha, pelo menos compete. Farei uma matéria sobre o Ajax em breve, ainda não sei se para publicar no blog ou numa revista. abs
Sem romantismo. O Ajax nunca mais vai ganhar uma Liga dos Campeões. Não tem $ pra competir com os clubes ingleses, os dois espanhóis e o Milan. E nao acredito que esse cenario mude muito em poucas décadas.
Até concordo que valeu a pena.
Mas, convenhamos, trabalhar assim é meio absolutista, não?
E, quando falo que ele se coloca em uma redoma, quero dizer que, ainda que exerça uma certa influência, ele raramente age, raramente coloca a mão na massa, nos últimos tempos.
E acho que poderia fazer isso no Ajax. Seja como técnico, seja como presidente, seja como o diabo que o carregue, mas, de algum modo, ele tem de agir. Aliás, seria muito bom se ele decidisse agir também a partir da KNVB.
Pois, aí, ele faria com que o futebol holandês ocupasse o papel que merece: aquele que a Espanha ocupa hoje.
Porque treinar a seleção da Catalunha, que é mole (nem torneio oficial disputa), aí ele quer, né?
O ponto é que ele não se pôs na redoma que vc cita. Ele não aceitou continuar no Ajax porque não tem mais saco para aguentar puxassacos burocráticos que só querem defender seus feudos. Ele não esconde: topa trabalhar desde que tenha carta branca. O Braça acatou tudo o que ele sugeriu e o resultado dessa adoção de filosofia é a La Masía. Acho que valeu a pena. abs
O problema é muito mais sério do que apenas a “safra”. É gerencial e político. E mesmo entre os que vc citou, gosto muito Eriksen e De Jong e do De Zeeuw. abs
Uma pena ver um gigante europeu como o Ajax, há anos no ostracismo. Sobre o clube, acho que os jogadores saem também porque o clube não oferece atrativos/desafios, como uma equipe realmente forte, ambiente de trabalho harmonioso, uma liga que por si só hoje não é das fortes na Europa, mas que acho legal.
E pelo pouco que tinha lido sobre, e o que você escreveu, em primeirissimo lugar, eles precisam se estruturar como uma coorporação, que exista delegação de direitos e poderes, e que não seja a zona que é.
Quanto a treinador, não sei por onde anda, mas um nome que poderia ao menos ser treinador na base é Dennis Bergkamp, excelente jogador e pelo que li, estava fazendo curso para treinador.
Já sobre o elenco, acho que a equipe poderia vender algum jogador que estivesse querendo sair, para fazer caixa, mas também, com esse dinheiro, realizar boas contratações, porque o Ajax é um clube que nos últimos anos se caracterizou por realizar algumas contratações de gosto muito duvidoso e por um alto preço. Até porque é necessário investir para vencer, não só de jovens se faz um time.
O problema é material humano.
Cruyff não é um Messias capaz de fazer um meio-campo que tem como opções Enoh, De Zeeuw, De Jong, Emanuelsen e Eriksen chegar a algum lugar. a safra é medíocre!
Concordo plenamente com você, Cassiano. O Ajax precisa ter mais harmonia no futebol.
Porém, questão de ordem em relação a duas coisas:
1) Apesar dos pesares, Jol até que vinha fazendo um bom trabalho no clube. Ou não?
2) Sim, Cruyff é gênio. É o homem que fez o futebol holandês ganhar o reconhecimento que tem. Só que acho que ele deveria aproveitar esse caos do Ajax para, enfim, decidir fazer alguma coisa, e sair de uma “redoma de vidro” onde ele se colocou, apenas apontando erros aqui e ali. Digo mais: deveria fazer isso é na Holanda – que, ora bolas, é seu país. Apesar de ser, digamos, o ideólogo do estilo de futebol que faz o Barça ser decantado hoje, ele é holandês, não espanhol. E comporta-se, hoje, como sendo mais espanhol do que holandês. Na minha opinião, Cruyff deve isso ao futebol que ajudou a erigir.