São craques. Não resta dúvida. Contudo, é bom que Robinho, Alexandre Pato e principalmente Ronaldinho Gaúcho revejam sua disposição para jogar futebol caso queiram continuar como titulares no Milan. Sim, o Milan, que tem um elenco velho, está numa fase de grana curta e não pode esnobar muito. Na partida contra o Real Madrid ficou claro que o técnico Massimiliano Allegri merece ser chamado de “técnico” e para ele – como em qualquer clube italiano – futebol é grupo.
Ronaldinho contra o Real Madrid esteve apagado e Pato, morto. Os dois insistem em tentar jogar como estrelas da companhia, solistas. Dependem de lances de brilho. Até mesmo um gigante do ego como Ibrahimovic se desdobra batendo-se com os zagueiros e abrindo pelas externas para puxar a marcação. O Gaúcho e Pato deixam-se marcar.
Allegri mudou a partida quando colocou Inzaghi, claro, mas o melhor Milan veio com a alteração tática do 4-3-3 para um 4-4-2 muito robusto com Ambrosini e Boateng como externos (certamente uma escalação não convencional). Inzaghi pressionava como sempre a zaga e a linha de impedimento (um gol foi impedido não por acaso) enquanto Boateng e Ambrosini, se não eram grandes opções de linha de fundo, matavam as extremas do Real e deixavam incursões laterais para os defensores e atacantes.
Pato é o atacante brasileiro de mais talento em absoluto. É forte em todos os fundamentos, cabeceia bem, é rápido e ganhou muita força física. Contudo, às vezes dá a sensação de estar acomodado no jogo – algo que, por exemplo, jamais se vê em Wayne Rooney e muito menos em Lionel Messi (para citar jogadores realmente especiais). O Pato imprescindível tem de aparecer em jogos importantes e isso nem sempre acontece.
Falar que Robinho não se esforça o jogo todo é chover no molhado. Essa talvez seja um dos dois obstáculos mais severos entre ele e a consagração como jogador (o outro é a irregularidade em seu arremate). Robinho não tem o talento de Ronaldinho Gaúcho, mas acha que tem. Contra a Linense, ele pode ser um craque, mas na elite da Europa, precisa da 100% o tempo todo.
O caso do Gaúcho parece o mais sério. É difícil ver nele o jogador com fome de bola do Barcelona ou mesmo de alguns momentos do ano passado. Seu contrato se encerra em junho e seu status d’anima indica um jogador disposto a um contratinho com um grande clube brasileiro, onde seu futebol ainda é mais do que suficiente para brilhar, entre noitadas, celebrações e adulações. Jogando o que está, Ronaldinho não vale um quinto de seu salário milionário (cerca de R$18 milhões anuais).
Por mais que o futebol italiano esteja em baixa, para se jogar nele ainda é preciso um mix de força física, talento e aplicação tática. Na Espanha, a necessidade de aplicação é menor e na Inglaterra, é preciso de mais velocidade. Ronaldinho, Robinho e Pato têm talento para jogar em qualquer uma das ligas, mas nenhum dos três parece estar disposto a grandes sacrifícios físicos, como estão Samuel Eto’o, Wesley Sneijder ou Zlatan Ibrahimovic, para citar três “italianos”. Se a situação se agravar e um deles começar a frequentar os bancos de reserva, você verá jornalistas brasileiros com a cantilena de “preconceito” para explicar a “falta de oportunidades”. Mas é bobagem: os três estão devendo mais superação. Isso, qualquer joão-bobo pode dar.
No ótimo livro “A bola não entra por acaso” de Ferran Soriano há uma passagem que deixa evidente que o Barcelona decidiu se desfazer de Ronaldinho porque o futebol deixou de ser sua prioridade a partir do momento em que, após ganhar tudo, julgou que não precisava mais se sacrificar.
Infelizmente para o Milan, seus dirigentes apostaram que poderiam devolver a centelha que falta ao gaúcho.
Bem, quem viu as fotos de sua barriga nos dias que passou no Rio sabe que os cartolas do Milan falharam clamorosamente na missão.
Não sou chegado a fofocas sobre a vida dos jogadores extra-campo, mas minha mãe, que costuma perder tempo com os programas verpertinos da TV aberta, disse que a vida de Pato está causando inveja até aos Ronaldos. Assim fica difícil…
Gilson, a observação é quanto à postura deles. O Pato é um craque, mas recentemente tem tido variações de dedicação que sugerem um ronaldinhogauchísmo da parte dele. O Robinho não consegue jogar cinco partidas no mesmo nível (nunca conseguiu) e o Gaúcho sofre de ronaldinhogauchísmo agudo – leia-se, dissociação da vida de atleta profissional. Ele poderia ter sido o jogador a chegar mais perto do Pelé, se mantivesse o nível de até seis meses antes da Copa de 2006 por toda a carreira. Mas em vez disso, tornou-se um baladeiro. Virou um candidato a “Craque” do Brasileirão. abs
Talvez pela pressa não tenha entendido bem o contexto geral, mas, para não dizer que discordo em 100% do teu texto, tem uma ideia nele que venho defendendo desde o final da partida contra o Cesena: o Milan precisa atuar com Pirlo, Flamini (Boateng) e Ambrosini no meio-campo; Pato, Ibrahimović e Robinho no ataque.
E isso tem uma motivação básica: sem laterais capazes de propor algo decente no ataque, o certo, na minha modesta opinião, seria inserir nas pontas os dois jogadores (Pato e Robinho) que contam com o melhor mix de velocidade, técnica, habilidade e criatividade de todo o elenco.
Nessa proposta, os medianos fariam um pouco da função dos laterais, que teriam como incumbência apenas a marcação, e seriam o suporte aos atacantes das faixas laterais do gramado.
Na partida da segunda rodada até parecia que o esquema a ser adotado seria esse, mas os problemas começaram quando Ambro se contundiu. A partir daí Allegri começo com a grosseria: o sujeito de lá para cá vem inventando toda sorte de esquema.
E em todos eles a coisa emperrava por conta de dois problemas básicos: 1) tendo Gattuso como ponto de apoio na direita, Pato está tendo que jogar sozinho pela completa incapacidade do italiano em acertar um mísero passe de três metros; 2) como se isso não fosse suficiente, com Allegri insistindo na escalação de Boateng e Pirlo no meio-campo, Gattuso tem sido obrigado a cobrir inúmeros buracos que aparecem na defesa, pois os demais companheiros não são exatamente marcadores de primeira grandeza. Ao cobrir esses espaços, única coisa decente que o italiano sabe fazer, relega Pato à própria capacidade, pois o brasileiro precisa vir buscar a bola no meio-campo e fazer “apenas” 40 metros até a entrada da área inimiga – normalmente com marcação dupla.
Como se isso já não fosse um abacaxi grande o suficiente para um treinador limitadíssimo como Allegri descascar, de umas partidas para cá Ibrahimović parece estar em campanha aberta para abandonar a área adversária e virar trequartista – não por acaso ele queria a entrada do Inzaghi na equipe.
Com comportamento do sueco, Pato ultimamente – vamos recapitular: ele normalmente parte do meio-campo, pois Gattuso não apenas não consegue fazer nada decente no ataque como, em muitas partidas, aquelas contra adversários mais complicados, ainda tem a constante preocupação de não se afastar demais do meio, pois do contrário não poderá auxiliar adequadamente os defensores – depois de receber a bola e conseguir vencer dois adversários de algum modo, chega na entrada da área e quem ele vê lá dentro? Muitas vezes rigorosamente ninguém, pois Ibrahimović está na posição de trequartista elocubrando que toque genial ele dará na bola para deixar seus companheiros na cara do gol.
Em toda a minha vida, vi apenas um jogador com capacidade para fazer isso que o esquema vem exigindo do Pato: o Maradona de 86/90. Mas Dieguito foi Deus e outro como ele não vai aparecer. Logo, não posso exigir que um jogador que ainda não está pronto consiga fazer o que Dieguito fazia.
Robinho ainda tem o crédito de ter chegado agora – e em uma equipe em completa convulsão tática.
Já quanto ao Ronaldinho… bem jamais considerei o cara um craque. Jogando ao lado de Iniesta, Xavi e Eto’o até a minha avó vira fenômeno.
Quanto ao Ronaldinho e o Robinho eu não me surpreendo, mas o Pato foi acomodado demais. O cara é jogador mais rápido do time e fica parado no canto direito esperando a bola cair no pé dele? Tá de brincadeira…
Nessa sua parte do preconceito, lembrei da célebre declaração do Cicinho:
“o Ranieri não gosta de brasileiros.”
Dito isso, sobre uma Roma que é atolada de brasileiros.
uma pergunta duríssima, Cassiano.
Shearer ou Rooney?
Ibrahimovic: gigante de ego, próton de caráter. Um protótipo da era do marketing.