Richarlysson e seu destino

Richarlysson está fora do São Paulo. Na verdade, está há tempos. A torcida homofóbica do clube (que se incomoda em ser chamada de Bambi pelos adversários, como se xingo de rival importasse) já o sacou do elenco há tempos. Ele deve ir ao Fluminense (se não for louco) para jogar a Libertadores e é um reforço tecnicamente sensacional. Técnico, fortíssimo fisicamente e versátil ao extremo, precisa só ser tutelado emocionalmente por causa da perseguição sórdida da ala preconceituosa da torcida e por parte de uma imprensa igualmente homofóbica que não se cansa de publicar fotos suas em poses cotidianas que sugerem que ele seja homossexual.

Infelizmente, no Rio, Richalysson deve encontrar o mesmo ambiente hostil de São Paulo (seria muito bom descobrir que o Rio tem a capacidade de dar essa lição de civilidade em São Paulo, mas não creio). A torcida aceita e idolatra jogadores que batem nas esposas, usam drogas, andam com traficantes, espancam rivais,  recebem presentes de políticos corruptos, humilham torcedores ou qualquer outra aberração que se possa imaginar (não fosse a campanha devastadora da mídia contra o goleiro Bruno, tenho minhas dúvidas sobre se ele ainda não continuaria como ídolo do Fla). Aceita-se tudo. Menos que o jogador seja homossexual assumido (sim, porque só um imbecil imaginaria que não há gays no futebol).

Se Richarlysson está trocando de clube esperando encontrar novos ares, deveria ir para a Europa, de preferência para um país que seja civilizado o suficiente para respeitar a opção sexual das pessoas. No Fluminense, sua primeira partida ruim significará as mesmas ofensas de sempre. Acho que ele é um cara de muita coragem de aguentar o que aguenta, mas a sensação é a de que ele sempre (ou quase sempre) joga aquém de suas possibilidades dada a pressão que ele sofre sobre (ser (ou parecer) homossexual. Boa sorte para ele.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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