Se você trabalha, ganha seu salário e paga seus impostos, não adianta se trancar em casa, proteger a carteira e nem mesmo depositar seu dinheiro no banco. O anúncio escatológico dos governos estadual e municipal de São Paulo a respeito do estádio a ser construído em Itaquera é uma garantia de que você será assaltado – com a anuência e bênção do governador e do prefeito. Ah, sim, tem mais: eles chamam você de palhaço quando falam das possíveis fontes de financiamento, como a venda do nome do estádio.
Até agora, o projeto do estádio tem um custo de cerca de R$600 milhões, mas se não passar ao menos 30% disso, será um milagre. O Engenhão, monumento à criminalidade brasileira, foi orçado em R$60 milhões e saiu por quase R$400 milhões. Ainda que você queira bancar o palhaço e acredite nos valores, ninguém sabe como isso será pago. O governados Alberto Goldman e o prefeito Kassab juram que não pagarão nada. Provavelmente, a construtora Odebrecht tirará o dinheiro do seu próprio bolso ou então Nossa Senhora dos Milagres Financeiros irá ajudar com uma chuva de notas de cem dólares em Itaquera.
Andres Sanchez, o artífice da manobra por parte do Corinthians declara, desavergonhadamente, que venderá os naming rights do novo estádio por cerca de R$400 milhões – e que com esse dinheiro a construção será paga. O dirigente pode se candidatar ao prêmio de melhor vendedor do planeta. O Arsenal, cujo estádio Emirates é um projeto ultramoderno, conseguiu vender os naming rights de 15 anos do estádio por cerca de R$270 milhões, sendo que este está localizado a 9 km do centro de uma cidade que tem o metro quadrado mais caro do mundo. Imaginar que o Corinthians conseguirá um negócio quase 50% melhor, sem disputar o arquibiliardário campeonato inglês, sem disputar a Liga dos Campeões e sem ter um décimo da exposição mediática global do Arsenal é um delírio lisérgico.
Enquanto os degenerados planejam o assalto ao erário chamando a sociedade e a imprensa de imbecis, no Parque Antártica, um outro estádio corre riscos. Há no clube, uma nova corrente que para “unir” oposição e situação, propõe implodir o estádio. Seria impossível pensar numa manobra mais insana, mais irresponsável. Não é necessário dizer que as brigas políticas no clube estão arrastando-o de volta à Era Mesozóica, de onde parecem ter saído algumas das figuras da contenda política da Turiassú. O Palmeiras é capaz de entrar para a história como o único clube no mundo que dinamitou o próprio estádio sem saber de onde viria o outro. Alguém há de lembrar do São Paulo, do Morumbi e afins, mas sinceramente essa é a parte mais irrelevante da história. Se o São Paulo perdeu a chance de abrir a Copa do Mundo ou não é tão importante quanto saber se você almoçará agora ou em dez minutos. O Morumbi é um problema do São Paulo e é o clube que tem de cuidar dele.
Hoje, um jornal de São Paulo noticiou que “a parceria do Corinthians para o estádio é melhor porque permite ao clube gerenciar as próprias receitas”. A parceria do Corinthians não existe. É simplesmente uma doação criminosa com motivações eleitorais. Naturalmente que o Corinthians pode e deve levantar um estádio – mas que pague por ele, como fazem as pessoas decentes, como faz a grande maioria doa torcida do Corinthians que levanta cedo, vai trabalhar e precisa pagar as contas a duras penas. Fazer de outra forma é roubo puro e simples. Pior: roubo puro e simples com a bênção dos governantes. Lembre bem do nome dos criminosos envolvidos na história nas próximas eleições.
Se vamos ter o double dip – duplo mergulho, recessão em w ou qualquer outra balela que esses economistas inventem – ou não, o fato é que os governantes eleitos forçosamente terão que cortar gastos de agora em diante por conta de um cenário externo bem menos amistoso do que aquele que o molusco pegou durante seus oito anos.
Assim, ou a dupla Teixeira&Sanchez assalta as reservas cambiais que o governo federal possui ou então terá que ser bastante criativa para conseguir esses R$ 200 milhões que dizem faltar para a construção do estádio – se ele custar realmente R$ 600 milhões, cifra que eu também não acredito.
Eles seguramente tentarão passar essa conta para os governos, mas ninguém tem rigorosamente dinheiro sobrando para tal, mesmo com os novos limites de endividamento que o governo federal recentemente permitiu para as cidades sede da Copa- em um claro estupro à LRF.
Que investidor vai colocar dinheiro na construção de estádios no Brasil podendo ganhar milhões a mais com as taxas de juros que existem por aqui?