Dada a largada na caça a Dunga, as análises variam. Tendo como única unanimidade Felipe Melo – que uniu falta de técnica a violência e desequilíbrio – a menos de três horas do fim do jogo, já ouvi críticas e elogios (na mesma medida) a Robinho, Michel Bastos, Gilberto, Luis Fabiano, Júlio César e Kaká.Além da conclusão de que a profissão de jornalista esportivo é, com certeza, aquela que leva mais pessoas a acreditar que podem fazê-la bem, é possível deduzir o seguinte: bestiais e bestas devem dormir no mesmo quarto.
Ontem, TODAS as análise que eu vi (todas, sem exceção) apontavam o Brasil já na final. Pois, favorito como era (digamos, numa proporção de 80 a 20), a semifinal seria tão fácil que o Brasil jogaria com time misto. A cantilena de elogios se fazia para jogadores em todas as posições, de Júlio César a Luis Fabiano. A seleção holandesa “só tinha mídia”, Kuijt era “um jogador comum” e de um modo geral, criticou-se o rival até por zagueiros baterem pênaltis.
E o que aconteceu? Segue uma lista:
– Kaká, fisicamente detonado há seis meses, não conseguia andar em campo.
– Robinho, exceção feita a bola que recebeu atrás de uma zaga de última hora (a entrada de Ooijer foi inesperada), se omitiu da partida toda.
– Felipe Melo, exceção feita ao passe para Robinho (digno de um mediano épico), perdeu a cabeça.
– Luis Fabiano não recebia as bolas que precisava, uma vez que atua praticamente sozinho na área por conta da tendência que Robinho tem a procurar o canto esquerdo, de onde pode driblar melhor.
– Dunga não tirou de campo Felipe Melo quando ele já tinha falhado duas vezes em bolas fundamentais – os gols – e estava visivelmente desequilibrado.
– Dunga não tinha reservas no vanco além de Nilmar. Kléberson, Josué, Grafite e Gilberto eram absolutamente inadequados para um jogo de Seleção.
A pergunta é: o que, nessa lista é novidade?
O Brasil perdeu em duas jogadas de bola parada. Jogadas que um técnico de ofício teria treinado à exasustão. Uma matéria de Felipe Awi, do Sportv, ontem, alertava para o fato de que a Holanda colocava sempre um jogador na primeira trave, mas esse, na verdade é um fundamento do jogo. Nos treinos secretos, Dunga provavelmente não cubria o básico. A defesa se comportava bem porque os quatro jogadores sabem jogar do futebol de clube.
Claro, o Brasil também perdeu porque o time de Dunga era uma família mas não têm líderes. Lúcio e suas demonstrações de garra, normalmente ligadas a gritar muito, está tão longe disso quanto qualquer um dos 22 colegas. O primeiro gol destruiu o Brasil, a ponto do segundo ter sido praticamente uma cópia do primeiro. No primeiro, Felipe Melo fez contra; no segundo, Felipe Melo deixou Sneijder sozinho para cabecear. A história de que os times perdem e ganham juntos é falaciosa. Os dois gools tiveram falhas individuais de Felipe Melo. O grupo falhou em não reagir.
Daí em diante – omissão de Robinho à parte, porque é uma constante do jogador – toda a culpa é de Dunga. Ninguém mais pode ser culpado. Dunga abriu mão de Ronaldinho Gaúcho, Ganso, Neymar (este, ao meu ver, corretamente), Alexandre Pato, Hernanes. Esses caras poderiam ter virado o jogo. Kleberson, no auge de sua forma, com o futebol de seu melhor dia na vida, não podia. Por isso, a crítica é pertinente.
Claro que a mídia isentará a CBF. Assim como não fala de como é um acinte que São Paulo erga um estádio novo de graça para o Corinthians nem como Florianópolis tenha sido tirada da Copa em detrimento de Cuiabá ou que Brasília, cidade que tem a mesma tradição futebolística de Quixaramobim, vá receber partidas do próximo Mundial. Dunga não pode oferecer mais nada a mídia. A CBF pode. Por isso, hoje, tudo – desde o holocausto na II Guerra até o tsunami na Ásia – será culpa de Dunga. E as mesmas pessoas que ontem falavam da final entre Brasiol e Argentina hoje encontram defeitos para explicar o acontecido.
Mas, parafraseando Fernando Vannucci…o Brasil é logo ali. Fato.
Obesrvação mais do que aceita. Tentarei fazer um texto sobre a postura da imprensa na Copa. abs
Cassiano,
Não é novidade que sua posição se relaciona com a de Alberto Dines, no que tange a criticar à imprensa esportiva. Peço, então, desculpas se estou ultrapassando os limites da regra do blog e colando o link da opinião do Dines sobre a postura da imprensa sobre Dunga.
http://observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=596JDB023
Abraço,
Independentemente daqueles problemas já conhecidos no histórico do Dunga, creio que todos eles foram relembrados acima, impressiona que tudo aquilo que se dizia acerca do Brasil caiu por terra após um gol casual e contra. A equipe entrou em parafuso!
E, o mais incrível, é que parece que o Brasil perdeu por conta daqueles pontos que eram exaltados até algumas poucas horas atrás. O melhor goleiro do mundo, a melhor dupla de zaga do planeta, o contra-ataque mortal, a capacidade avassaladora de decidir as partidas etc.
Fica uma dica para o próximo trienador: além de fechar o grupo em um lugar incessível a todos, é bom proibir a internet. 😛
Há alguns dias, o jornalista Paulo Vinícius Coelho da ESPN Brasil disse que a tentativa da Globo de conseguir entrevistas exclusivas com jogadores da Seleção era a falência do jornalismo esportivo brasileiro.
Não concordo. A falência do jornalismo esportivo brasileiro está no eterno amadorismo da classe. Está no transporte do papo de botequim para os estúdios de TV e colunas de jornal. Uma falência ainda mais escancarada com a eliminação da Seleção Brasileira desta Copa do Mundo.
Como Cassiano sempre escreveu, todos sabíamos que Dunga e seus comandados seriam massacrados. Não era difícil prever a repetição de algo que sempre acontece após qualquer derrota significativa do Brasil.
Mas não imaginava que o nível da crítica seria tão baixo. Em determinadas coberturas, houve requintes de crueldade e, claro, de oportunismo. No Sportv, por exemplo, a crônica sobre a eliminação foi permeada pelas falas de Dunga na discussão com Alex Escobar. O recado estava dado.
No Linha de Passe, Juca Kfouri ironizou Dunga dizendo que seu discurso nos vestiários após o bom primeiro tempo brasileiro foi um pedido para que o time parasse de jogar bem porque aquele não era o futebol daquele time. Puro escárnio.
E o mesmo aconteceu em maior ou menor escala em sites, blogs e outros programas. Quem buscava uma análise mais fria e técnica dizendo, por exemplo, que o time levou um gol casual e não conseguiu se reencontrar em campo, ficou só na expectativa. Acho que era esperar muito.
Às vezes, as pessoas se esquecem que futebol é só um jogo e que Copa do Mundo é conquistada em partidas eliminatórias em que o imponderável está mais presente do que nunca. Bobagem tentar provar a existência de Deus – ou do Diabo – em noventa minutos. É bem mais fácil tentar entender o esporte.
Uma pesquisa mostrou que Dunga tinha 69% de aprovação antes da partida contra a Holanda. Agora não deve ter 5%. A avaliação de quatro anos de trabalho mudou em apenas 45 minutos. É óbvio que o técnico cometeu erros durante a preparação, mas, pelo menos, errou com a sua própria cabeça.
Agora, lamentável foi ver quantas opiniões se modificaram de uma hora para outra dentro de uma classe que teoricamente deveria ser neutra, mas que em diversos momentos se mostra tão míope e obtusa quanto às velhas crônicas de Nelson Rodrigues. Infelizmente, algumas coisas nunca mudam.
Abraços.
Pato foi péssimo nas oportunidades que teve. Ainda não está preparado. Quando ele estourar um Manchester United na Champions, aí sim. Por enquanto só bateu em bêbado – entenda-se Siena, Livorno, Bologna, Chievo e afins.
Cassiano,
Se você vai fazer o papel de advogado do diabo, serei o Promotor Público. Não entro no mérito ético que o faz diferente de seus colegas. Entro no mérito de ter a obrigação de ter a informação, não o mero “achismo”. Se ele é ético como jornalista, ótimo. Se ele não tem as informações necessárias de um jornalista esportivo, vá para outra área, como vários de sua posição.
Minha crítica poderia ser ligada aos jornalistas da velha guarda. Porém, esses têm data de validade. É triste constatar que a nova geração está com os mesmos costumes e frases prontas da antiga. Ele merece, sim, ser muito criticado pelo trabalho pífio nessa Copa.
Para não dizer que quero sua aposentadoria ou troca de profissão, ele apresenta bem o seu programa. O seu lado ruim é como comentarista. Péssimo.
Pior mesmo é constatar que, na mesma emissora, o comentarista André Lofredo comentou um jogo que NÃO VIU!
Acho que seu papel como “observador da imprensa esportiva” merecia mais espaço e crédito. Acho que você até poupa ao não citar nomes. Ainda bem que não sou jornalista e posso falar isso com tranquilidade. Fico feliz de não ter meu comentário apagado.
Abraço,
Caro, nao quero fazer o advogado do Diabo em relação ao Rizek, mas preciso fazer uma observação: de fato ele falou algumas impropriedades como citado, mas logo apos a derrota, ele foi o primeiro cara a sair em defesa da tese de profetizar o acontecido. Concordo com a base da sua analise, mas acho justo dizer isso dele porque certamente ele nao é maioria entre seus pares no que diz respeito de nao tacar o pau no Dunga. abs
Certamente não só ele…Pato, Marcelo, etc
Perfeito, Cassiano! Um certo ex-jogador do Corinthians, que se faz de comentarista, disse que o melhor jogador da Holanda era o Van Bomell. É incrível como nossa mídia só consegue ver qualidade em nossas equipes! As demais são times de um jogador só: é Portugal de Ronaldo (tem uns loucos afirmando que o cara é só marketing – será que viram partidas da Premier League?), Costa do Marfim de Drogba (um radialista aqui de Salvador afirmou tratar-se de um jogador meia-boca!), a Holanda de Robben.
Como vc já afirmou em outro post, futebol internacional pra esse povo é campeonato estadual que não seja do seu estado natal.
Tiveram, sim, alguns jornalistas que apontavam para um jogo dificílimo. PVC e Mauro Cezar Pereira servem como exemplos disso. Contudo, é REVOLTANTE pagar por um canal em que uma análise, sem menor estudo do adversário, da temporada de seus jogadores, escutar frases como “A seleção holandesa “só tinha mídia”, Kuijt era “um jogador comum” e de um modo geral, criticou-se o rival até por zagueiros baterem pênaltis”.
Afirmações como as de André Rizek abrem espaço para maiores reflexões sobre o jornalismo esportivo. Se ainda criticam o fim da exigência do diploma para jornalistas (eu critico), é preferível que critiquem jornalistas que estudam menos ou tem menos informação de quem está ouvindo tais baboseiras.
Mais uma vez, parabéns!
é isso mesmo, tudo será culpa do Dunga, tudo mesmo.
Perfeito. Já nem tenho mais saco para falar sobre tudo o que aconteceu. De tudo o que nós sabiamos que aconteceria em algum momento, e aconteceu hoje… Da falta de banco, da falta de cabeça dos jogadores e do técnico, da falta de variação de jogo e etc… Dunga se tivesse vencido seria o mr. Coerência, líder de um grupo de “guerreiros”, agora está na sarjeta.
“Por isso, hoje, tudo – desde o holocausto na II Guerra até o tsunami na Ásia – será culpa de Dunga.” Esta foi a melhor que li até agora! Em algum lugar, calçando um par de sandalias Nike um certo R10 talvez deva estar com um sorriso jocoso aberto!