Um time no caos

No sábado, escrevi sobre a Inter e como a Sampdoria tinhasido superior e comoum sucesso genovês no campeonato seria melhor para o futebol italiano. Daí, veio o domingo, quando o Milan jogou e não deixou nenhuma possibilidade de passar incólume de observação.

Não há, hoje, um time no Italiano jogando pior do que o Milan. Não, nem o Siena nem a Atalanta. A diferença de posições na tabela se dá porque o Milan tem jogadores individualmente muito melhores. Por exemplo, um Seedorf ou um Pirlo conseguem decidir um jogo sozinhos.Vergassola não consegue.

Quando Leonardo foi indicado para suceder Carlo Ancelotti, torci sinceramente para que ele se desse bem. É um cara inteligente, educado, entende a questão gerencial e política do futebol e não tem nada que o desabone no que toque à lisura (muito pelo contrário, até). Mas confesso que não via nele um perfil de treinador. Leonardo nunca foi um líder inconteste como jogador nem nunca aparentou entender o jogo profundamente em alguma declaração que desse.

O início de temporada do Milan confirma tais suspeitas. O time não tem elenco para ser campeão, isso é notório, mas poderia pelo menos oferecer resistência para lutar por uma vaga na Liga dos Campeões. Contudo, não tem um esquema, a preparação física parece precária e pontos cardeais do time como os já citados Seedorf e Pirlo parecem desambientados.

Leonardo pregava que queria, por causa da saída de Kaká, usar um 4-3-3 que tirasse a jogada da posição do ‘trequartista’, que paradoxalmente era um defeito do Milan. Sem Kaká ou com ele bem marcado, o time morria. Para isso, contudo, o MIlan dependeria de quatro pontos cruciais: uma zaga sólida, dois laterais com muito fôlego e técnica pra o apoio, um trio de volantes que combinasse solidez e técnica e uma combinação de atacantes com dois externos ágeis e móveis e um centroavante capaz de prender a zaga. De todos esses, só a zaga dá as caras no Milan, onde Thiago Silva e Nesta jogam um futebol “alla grande”.

Os laterais seriam fundamentais para abrir o jogo pelas extremas (cuja ausência era o maior pecado do Milan de Ancelotti), mas Zambrotta e Oddo não tem mais físico para dar conta do recado; Flamini, Gattuso e Pirlo poderiam fazer a combinação ideal no meio, se estivessem bem fisicamente, mas como não estão, a casa cai; Ronaldinho e Pato estão jogando a níveis de meio da tabela do Brasileirão e Huntelaar está visivelmente amedrontado diante de um time tão desorganizado.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.

6 Comments

  1. Essa é uma discussão longa, bem longa, e traz consigo uma série bastante razoável de questões acerca do futuro da equipe que pouquíssimas pessoas hoje podem responder adequadamente. E eu logicamente não estou entre elas. Logo, vamos ver se consigo ser conciso no que vou escrever.

    Existe muito pouca coisa a ser acrescentado ao que está escrito no texto. Assim, o que resta, na minha modesta opinião, é saber qual é a motivação do que vemos hoje. A primeira coisa que acredito é que o Leonardo é uma espécie de interventor. Talvez essa não seja exatamente a palavra mais adequada. Mas tudo indica que ele está no comando para realizar uma transição. Se é do Milan de Ancelotti para o de outro treinador, de Berlusconi para outro dono etc. eu não tenho a mais vaga noção.

    O próprio Leonardo declarou, na conferência antes da partida contra o Siena, que essa é uma experiência com data marcada para terminar. A posição dele no clube parece ser sólida. Talvez não no comando técnico da equipe, mas do organograma do clube acredito que é bem difícil o nome dele sair.

    E deve ser por esse motivo que ele, ao contrário de qualquer outro treinador, nem mesmo o Mourinho tem essa franqueza, pode falar abertamente que a equipe precisa de laterais, velocidade na transição de jogo etc. testar vários tipos de esquemas com resultados bastante modestos até aqui, imprimir uma preparação física algo cruel, definida pelo Tognaccini como a mais pesada em muito tempo, ao atual grupo de jogadores na pré-temporada etc.

    Se já é difícil para um treinador tarimbado alterar tão dramaticamente praticamente tudo em um clube desse porte, imagina alguém que está em sua primeira experiênia como treinador.

    Assim, a teoria parece indicar que uma das funções dele deve ser mostrar os limites desse pessoal para entabular a necessária reconstrução do elenco. Só que os contratos da maioria dos jogadores são longos e caros – um erro da administração. E muitos deles, como Oddo, Seedorf, Ronaldinho etc. ainda acreditam que podem render como em outros tempos.

    Restaria ao Leonardo, uma pessoa do clube, convencer, de maneira amigável, todo esse pessoal que já é hora de procurar outros ares. O Berlusconi chegou a afirmar que, por uma série de motivos, é difícil para qualquer jogador cortar os laço$ de união com o Milan. Sacchi já declarou na sua coluna na Gazzetta que um dos principais problemas da (falta de) renovação do Milan é exatamente a duração dos contratos e o valor envolvido em cada um deles.

    Parece que a transição verdadeira começará apenas quando uma parcela razoável desses contratos já não estiver mais no livro de pagamentos do clube.

    Outro dia coloquei esse ponto de vista em uma discussão sobre o futuro do clube e teve muita gente que criticou. Tem muito torcedor que acredita que a direção está completamente perdida e apenas com um novo comando o Milan poderá superar esse momento.

    Respeito esse pessoal. Mas credito que só daqui a uns dois anos poderemos ter a resposta disso. Vai ser preciso ter paciência. E é bom a diretoria errar bem pouco nas contratações que fizer daqui em diante. Erros deverão custar caro, bem caro.

  2. Olá carissimo! Acho que concordo com tudo o que vc escreveu. No meu modo de ver essas disposições ‘estáticas’ no papel são um pouco relativas. Acho que o 4-3-3 funciona sim, com as caracteristicas dos meias que vc descreveu. Mas por outro lado precisaria de ‘pontas’ com caracteristicas daquilo que você geralmente chama de ‘externos’. Por exemplo o Chelsea de José Mourinho com Robben e Joe Cole. Ainda assim, sem bola o tal 4-3-3 pode virar um 4-5-1 dada as caracteristicas dos ‘externos’ e no caso do Chelsea Drogba ficava ‘isolado’.
    Não precisa ser gênio para perceber que o Milan não possui meias com essas caracteristicas. Além do exemplo da Inter do ano passado quando Mourinho tentou esboçar um 4-3-3 que não deu certo e transformou Quaresma e Mancini em ‘elefantes brancos’ no elenco.
    Finalmente, vejo o Milan previsivel, manjado e ainda adequado ao 4-3-1-2 do Ancelotti pq os atlétas se acostumaram a tal. Ao meu ver, Pato quando chegou foi aos poucos sendo adequado a função antigamente executada por Shevchenko aberto pela direita. A diferença de lá para cá é que alguns remanescentes já estão 5 temporadas mais velhos e Kaká já não é mais o ‘1’.
    Minha leitura de jogo esta certa?
    Abs!

  3. Cassiano, não creio que a função do Leonardo envolva um desmascaramento de jogadores. Depois tento explicar isso com um pouco mais de calma. Mas o que creio é que parece claro é que o Berlusconi vai investir. Mas algumas premissas precisam ser satisfeitas. Uma dessas envolve uma redução no elenco. E algumas coisinhas mais…

  4. Gilson, um esquema nunca é o ideal. É somente o ideal para um determinado elenco. Para este elenco, certamente esse é o pior esquema possível. E de fato, o caos pode gerar o brilho…mas nesse caso, acjo que tende a gerar só mediocridade, caso não haja nenhuma intervenção. Acho difícil sair um milagre daí. abs

    PS: o Leonardo éclaramente o que se chama na Itália de “aziendalista”, ou seja, um cara que veste a camisa do empregador. Não acho que ele tenha nenhum plano maior de “desmascarar” Oddos e Jankulovski não. É que ele aceitou uma tarefa cuja realização é inexequivel. Se ele quiser salvar a própria pele, tem uma única saída: colocar o Milan para jogar como um time limitado – exatamente o que fez o Ranieri na Roma. O ponto é: permitirá Berlusconi essa admissão? Tipo um 4-4-1-1 do primeiro Rafa benitez? Não me parece…

  5. Ah, antes de ir embora, devo dizer que é sempre bom um pouco de otimismo. Como diria aquele alemão, somente aquele que carrega o caos consigo pode conceber a grande estrela.

    Mas o cara era meio doido… Talvez estivesse errado. 😀

  6. É realmente curiosa a situação do Milan – não importa a situação, como regra geral evito sempre utilizar adjetivos mais fortes, como, nesse caso, desesperadora, por exemplo. 🙂

    Tenho grande curiosidade acerca do que irá acontecer em janeiro. Se é que algo irá acontecer…

    Mas discordo de algumas observções tuas. Na minha visão o Milan tem um esquema e ele é o ideal para uma equipe do porte do Milan. O “único” problema é que ele é totalmente inadequado para o elenco – a partida contra a Inter deixou isso bastante claro -, embora ideal para uma equipe grande. E é basicamente por isso que não funciona.

    O Leonardo parece ter uma visão bastante clara do que quer e tenta fazer com que o elenco cumpra suas exigências. Só que as limitações são muitas, ele sabe disso, pois o vi falar ontem, e tudo caminha rapidamente para uma espécie de suicídio futebolístico.

    O mais inacreditável é que eu, na situação dele, faria a mesmíssima coisa. Creio que hoje, se a equipe quiser se livrar de alguns contratos, como os de Oddo e Jankulovski, por exemplo, terá que mostrar os evidentes limites atuais desse pessoal. E isso só pode ocorrer deixando que eles joguem aquilo que acham que conseguem jogar.

    Resta ver se o plano geral é esse mesmo… Pela novela envolvendo a saída do Oddo em julho, parece que é.

    O lado bom disso, ou ruim, é que com a contratação de dois laterais e um meia – gente que imprima velocidade, mas muita velocidade ao jogo -, e um pouco de sorte, o Milan fatalmente irá lutar por uma vaga direta na próxima CL.

    Mas esse pessoal, obviamente, deverá ter um certo talento.

    O nível da atual edição da Serie A é fraco. Basta dizer que já espero alguém lançar a primeira pedra dizendo que o Storari é um goleiro world class. Ainda vai acontecer. Talvez neste ano.

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