Hoje no La Repubblica, o VP do Milan, Adriano Galliani, declarou que está preocupado com a possibilidade da Itália perder uma das quatro vagas na Liga dos Campeões em 2012. Como a quantidade de vagas é definida pelo rendimento dos times de cada país no torneio num espaço de cinco anos (veja o ranking no post anterior), a derrocada dos clubes italianos pós-escândalo do Calciocaos deixou sua marca.
As recuperações da Juventus e Milan e mesmo a supremacia da Internazionale são absolutamente relativas. A Itália era o campeonato mais forte e difícil do mundo, mas hoje foi ultrapassado por Inglaterra e Espanha – com larga margem – e pela Alemanha, e a diferença se refletirá na quantidade de vagas na LC em 2012.
Galliani fala com propriedade que o maior estrago à Itália é causado pelo mau rendimento dos clubes do país na Copa Uefa/Europa League. A pontuação para efeitos de ranking é ligeiramente menor e os clubes médios italianos só tomam bucha na Europa. E o que tem isso a ver com o escândalo?
Simples: Juventus, Inter e Milan são os tratores do futebol italiano em termos de dinheiro. Quando os três pararam de comprar jogadores dos clubes menores, menos dinheiro passou a entrar no sistema. Por consequência, menos jogadores vieram de países como Brasil e Argentina, mais jogadores consagrados deixaram o país e mais fracos tecnicamente ficaram os times – todos eles.
Não é coincidência que os clubes que mais se reforçaram na Série A tenham sido Genoa e Napoli, além da Inter. Os dois clubes vivem dos seus mecenas, que tiram o dinheiro de seus bolsos. A Juventus voltou a investir neste ano, mas porque “poupou” nos últimos três. Os clubes italianos em geral gastam muito com salários e não têm estádios. Ou seja: gastam mais e ganham menos que seus rivais anglo-hispânico-teutônicos.
A reação dos clubes italianos levará, no mínimo, cinco anos para acontecer. A Série A passou a ser dirigida por um profissional de marketing e a tendência é que em dois anos o faturamento comece a aumentar. Até lá, o futebol inglês deve diminuir sua supremacia (que é cíclica) e o alemão deve crescer em grana e técnica.
Os italianos seguramente não ficarão na pasmaceira atual por muito tempo. Mas é altamente improvável que algum dia voltem a mandar no futebol mundial como fizeram por quase uma década entre 1987/1996. Pelo menos não sozinhos.
Para isso é realmente fundamental a diversificação das receitas, algo além do binômio mecenato (Berlusconi, Moratti, Della Valle etc.) + televisão que prevalece até hoje.
Um pouco de sorte também serve. Resta esperar e ver o que a nova Lega Calcio está preparando.
Concordo que o futebol é cíclico e que em determinado momento os britânicos terão que pagar a conta, mas ainda tenho dúvidas sobre a recuperação plena (entenda-se ocupar o topo do futebol mundial) dos italianos. Muitas coisas vão ter que mudar e melhorar.
Abraços.
Caro, as fases são cíclicas e o futebol inglês terá uma queda dentro de alguns anos, assim como teve no fim da década de 80. É bem natural. Grande prazer tê-los de novo aqui. Abs
A preocupação dos italianos é justa e penso que já passou da hora de se moverem em busca da ampliação de suas receitas.
Estão devagar, mas é bom saber que o Novo Delle Alpi logo estará pronto(apesar de considerar pouco 40,5 mil de capacidade para a maior torcida do país) e que a Inter pode construir um novo e moderno estádio.
Quando alguém pega os números que o United contabiliza por temporada com o Old Trafford (115 milhões de euros) e compara com os números do Milan, por exemplo, fica evidente que alguma coisa está errada.
Por sorte, apesar da lentidão dos italianos, acho que os alemães não estão vindo com tanta força assim. Pelo menos não dentro de campo.
Abraços e é bom estar de volta aos comentários.
Gilson, não é exatamente assim. A Itália é a 7a economia do mundo (é é de ponta em vários setores de alta tecnologia, como telecomunicações, automóveis, pneus, etc), com um PIB de mais de US$ 2 trilhões. Certamente há um engessamento estatal, mas isso esta longe de significar que a Italia nao tem mais o dinheiro. Quanto à safra, é uma coisa do ovo e da galinha: se ninguem investe em divisao de base, o jogador vem de onde? Mas tb concordo que a atual safra de jovens não é a mais fantástica.
E a proposta do Galliani não é de os times da Europa League receberem mais dinheiro da Uefa: ele acha que a Lega Calcio deve dar mais do dinheiro que ela recebe como estímulo aos clubes para irem bem na Europa. E obrigado pela visita! Abração
É um ponto de vista interessante. Pode ser que seja mesmo por aí, mas ainda acredito que a economia italiana é pouquíssimo diversificada – parou na mozzarella, vinho, turismo etc. – e por conta disso não aproveitou o boom dos últimos anos. E ajuda também o fato da safra atual de jogadores jovens ser a pior em muito tempo – pela primeira vez vejo que os caras não contam com ao menos um zagueiro de excelente nível.
Mesmo com boa vontade dos clubes grandes, não sobra muita gente para contratar.
E acho que é certa a perda dessa vaga para os alemães. Basta ter paciência. Não é por nada que, segundo consta, o Galliani está propondo que os clubes da Europa League recebam dinheiro pelo desempenho.