Candidatíssimo

Uns meses atrás, escrevi um post sobre o fato do Corinthians não ser o melhor time do mundo. Não, não é brincadeira. Essa era uma discussão corrente. O Timão tinha vencido a Copa do Brasil, Ronaldo fazia chover mesmo beirando os 90 kg e como os campeonatos europeus estavam de folga, a referência era distante.

Ou seja, para um radialista de São Paulo, Flavio Prado, argumentava que “talvez não fosse melhor que o Barcelona, mas certamente era melhor que o Real Madrid e por isso, ficaria com pelo menor o vice espanhol”.

Bem, Ronaldo parou de jogar por contusão – dificilmente algo inesperado para alguém com bom senso – e o Corinthians escorreu para o meio da tabela, numa posição coerente com a qualidade do time hoje. O fato nem é a discussão da qualidade do time – Mano Menezes e os próprios jogadores parecem ter finalmente saído da negação e admitido que o título está fora de discussão. O ponto é a insistência da imprensa.

Vamos imaginar. Peguemos um time qualquer: por exemplo, o Vitória, time imediatamente abaixo do clube do Parque São Jorge na tabela. Se os baianos tivessem vencido três jogos dos últimos nove e perdessem em casa para o Goiás, falaria-se na possibilidade do título ir para o Barradão? Não creio. Mas a situação descrita não é hipotética. É exatamente o retrato do Corinthians.

Vamos lá: em todo o mundo, a imprensa bajula times de massa. Badalar o Timão dá zilhões de vezes mais ibope que badalar o Santos ou o Botafogo. Faz-se isso com o Barcelo,a Manchester United ou Porto. É igual. Mas acredito que a imprensa séria do exterior não tem medo de dizer a verdade quando necessário.

O Corinthians pode vencer o campeonato? Naturalmente. Tem sete pontos a menos que o líder e 39 pontos a disputar. Isso falando do ponto de vista matemático. Na vida real, apostar no campeão paulista não é sério. Alguns jornalistas insistem em fazer isso por a) demagogia, b)falta de preparo, c) os dois. Mas é triste.

Não vou fazer uma análise técnica do Corinthians porque não é esse o objetivo da discussão. O clube deixa claro que está se lixando para o Brasileiro e vai botar seus esforços todos é em vencer a Libertadores – um título que será o título mais importante já vencido por um clube de futebol no Brasil, pela sua expectativa, ou um cataclisma, pela mesma razão. A observação é de como a crônica e alguns colegas cronistas insistem em erros que eram admissíveis no começo do século passado, quando jornalistas eram árbitros ou dirigentes. Hoje não.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.

12 Comments

  1. Vixe… Agradeço o convite, embora de palpite eu ande bem mal. Outro dia disse que achava bem difícil o São Paulo bobear contra o Santo André. Pois é… 🙂 Como diria o outro, “que fase!”. Mas depois arranjo um tempinho e passo por lá.

  2. Michel, ele ainda é um grande. O cartão contra a Inter é só um exemplo de como o Milan está perdido. E era exatamente em relação ao Atlantico que eu falava…:)

    abs

  3. Cassiano e Gílson,

    Me perdoem, mas não posso deixar a piada passar: “há um oceano entre esses três e o Guiñazu” Claro que há. É o Atlântico! 🙂
    Falando sério, quando fiz a comparação entre os três e o Guiñazu quis dizer que o trio não é valorizado por sua qualidade técnica e, sim, por outros valores. E é dessa forma que eu vejo o argentino do Inter também.
    Quanto ao número de falhas do Gattuso, não me lembro de muitas, mas as que me lembro foram decisivas, como a citada contra o Liverpool, contra o Deportivo na UCL 03/04 e no último derby de Milão, quando sepultou as poucas chances do Milan ao cometer uma falta desnecessária no meio-campo.
    Mas eu gosto dele. No auge, foi um dos melhores marcadores do mundo.

    No mais, gostaria de convidar os dois para palpitarem no meu blog sobre os favoritos para os campeonatos espanhol, inglês, italiano, alemão, francês, português e UCL.

    Um abraço.

  4. Michel, posso falar algo em favor do Gattuso, pois acompanho mais de perto a carreira do italiano. Embora o critique bastante em algumas ocasiões, não sei exatamente se ele é valorizado como deveria. Ele já disputou pelo menos três dúzias de partidas decisivas, bem mais do que o confronto envolvendo o colorado e os mineiros, e falhou de maneira grosseira poucas vezes.

    Naquelas ocasiões em que comete uma falha bizarra em uma partida importante, como entregar a bola nos pés do Gerrard na decisão em Atenas, alguém – naquele caso o Dida – sempre salvou a situação.

    Sorte também faz parte da vida. Mas foram poucas, bem poucas, as bobagens que Gattuso cometeu em partidas importantes. Honestamente lembro de bem poucas.

  5. Meu caro, com todo o respeito, há um oceano entre esses três e o Guiñazu. Não fosse esse o caso, e ele não teria sido um fiasco total no Perugia e Saturn – dificilmente equipes com grande concorrência. Claro, não se discute a sua opinião, mas não vejo como comparar o argentino com qualquer um dos tres – que não por acaso têm mercado entre os maiores times da Europa.

  6. Guiñazu.
    Concordo que ele não é nenhuma sumidade, mas é raçudo demais e um jogador utilíssimo.
    Além disso, fico imaginando porque jogadores limitados tecnicamente como Gattuso, Sissoko e M. Diarra são tão valorizados então? Não é pela mesma razão que o argentino do Inter?
    Abraço.

  7. Existem duas explicações para essa abordagem da imprensa.
    A primeira, honesta, é avaliar que mesmo o Corinthians passando por um período de reconstrução, é um time que tem um ótimo treinador, um elenco ainda superior ao de alguns times que estão à sua frente e que ainda restam rodadas suficientes para uma (improvável) reação.
    A segunda, comercial e oportunista, sabe que descartar o Corinthians de qualquer objetivo no campeonato neste momento é arriscar perder uma audiência que os meios de comunicação não querem perder.
    A segunda opção é detestável, mas é bastante explicável.

  8. Diogo, acho ele determinado, sem dúvida, mas tendo a desconfiar de volantes que querem mostrar que são raçudos (Cristian ex-Corinthians, Paulo Almeida ex-Santos etc). Gostava mais dele quando não era decantado. Pensava mais em jogar o jogo, e menos para a torcida…abraço

  9. Gilson, você teve o azar de ver uma das piores partidas do Guiñazú nos últimos tempos.Ele não é o deus da raça propalado pelos colorados, mas é um jogador aplicado taticamente, marca bem e tal. E tem uma virtude comum entre argentinos, mas raríssima entre brasileiros: não se omite do jogo.

  10. Guiñazu! Com todo o respeito, não consigo entender o que alguém vê nele. Não é um mau jogador, ok, mas já vi gente comparando-o com Mascherano, Cambiasso, etc. É simplesmente uma bobagem. Claro que cada um tem direito à sua opinião, masnem sempre a opinião é desinteressada…

  11. Discussão realmente espinhosa. O problema, como foi bem delimitado no post, é a persistência no erro, o que me leva a acreditar que uma parte bastante razoável da imprensa esportiva acredita que o público não passa de antas domesticadas, acríticas.

    Tenho um outro exemplo que é também recente. Passei boa parte da semana retrasada em Porto Alegre e aproveitei o pouco tempo vago para conversar sobre futebol e a vida em geral com taxistas, o pessoal do hotel, colegas etc. E pude ouvir a Gaúcha em algumas oportunidades. E fiquei bem impressionado com o tratamento por eles dispensado ao Guiñazu – chamado de Super Homem.

    Na partida contra o Cruzeiro, os mineiros marcaram duas vezes em erros inacreditáveis, verdadeiramente grosseiros!, do argentino. E os caras da Gaúcha, para o meu gosto particular, mal tocaram no assunto…

    E contra o Cruzeiro, na minha modesta opinião, não foi a primeira performance ruim dele no atual Brasileirão.

    Errar faz parte de qualquer atividade. Todo mundo erra. O problema é que alguns não reconhecem, empurram tudo para debaixo do tapete e continuam a posar de sumidades. Aí é mole… Até eu.

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