Num ano em que o planeta é acossado pela pior crise econômica do pós-guerra, o mercado do futebol assiste às suas transações mais astronômicas, com quebras de recorde seguidas nas compras, salários irreais e um time desafiando a lógica ao gastar centenas de milhões de euros enquanto outros – não menores – não têm um punhado de moedas.
A troca entre Inter e Barça envolvendo Eto’o e Ibrahimovic certamente é o golpe mais esperado depois da montagem da Armada Espanhola do Real. Dois atleas de ponta, com salários que passam os €10 milhões anuais e um histórico de insuportabilidade pessoal, além de um talento incontestável. Mas quem fez o melhor negócio?
Vejamos: o Barcelona ganhou uma estrela, um cara que quer ser o melhor do mundo mais do que tudo na vida. Ou melhor: quer ser considerado o melhor do Mundo (porque ele mesmo já se acha há tempos). “Zlatan” (como ele se refere a si mesmo) foi campeão por onde passou. Vale lembrar que o sueco foi o único jogador a conquistar os últimos cinco títulos italianos como titular (PatrickVieira também, mas no banco). Atacante habilíssimo e forte, pode atuar como centroavante, segundo atacante, pivô ou ponta – e sempre bem. O sueco não é um “match winner”. Em toda a sua carreira, só foi decisivo no jogo contra o Parma que deu à Inter o título italiano na temporada passada. Nas cinco Ligas dos Campeões que disputou na Itália, sempre se escondeu quando a batata estava assando.
Eto’o tem um currículo mais rico. Nunca foi o astro inconteste do time, mas foi fundamental para o Barcelona nas duas Ligas dos Campeões conquistadas pelos catalães. É menos versátil que Ibra, preferindo atuar longe da áreapelos flancos, mas sempre se aproxima do gol. Drible fácil, visão e arremate estão no seu repertório. Seu lado negativo é o gênio do cão e um histórico de “pipocar” com a seleção de Camarões.
Por mais que Ibra possa parecer um jogador mais promissor, o negócio foi indiscutivelmente melhor para a Inter. É possível discutir que o sueco seja melhor que o camaronês, mas a diferença é marginal. Os mais de €40 milhões pagos pelo Barcelona como diferença cobrem o mercado da Inter dos últimos dois anos sem prejudicar em nada o corpo técnico do time. Aliás, até melhora: com Ibra, o técnico José Mourinho ficava com três homens de frente centroavantes de origem (Ibra, Milito e Balotelli), tendo de forçar adaptações. Agora, pode escolher entre o argentino e o italiano, dependendo das necessidades, já que o papel de Eto’o é preferencialmente o de externo.
Como negócio, a única argumentação pró-Barcelona é a de uma resposta “mediática” para o Real Madrid, já que o Barça tem o time multiplatinado e vencedor de tudo. Sem dúvida, um ataque com Ibra, Messi e Henry é de tirar o chapéu, mas não é tão melhor do que o do ano passado. A Inter, que pertence a um milionário do petróleo, nem precisava de dinheiro, mas recebeu um presente de bandeja.
Concordo com sua análise, Cassiano.
Só faltou dizer que a situação de Eto'o no Barça já estava se arrastando, já que não havia mais clima para o camaronês no vestiário barcelonista. Além disso, o seu contrato terminaria em 2010 e o atacante não pretendia renovar.
Quanto a adaptação na Inter, acho que ela pode ser mais simples do que se imagina, visto que se trata de uma equipe que tem nos contragolpes – algo ideal para ele – boa parte de sua força.
Abraços.
Essa é uma discussão realmente interessante. E os treinadores brasileiros devem acompanhar atentamente os desdobramentos dessa negociação. O Muricy, ao longo de todo o período em que esteve no Morumbi, sempre disse que é fácil a vida de treinador na Europa, pois os caras montam a equipe e depois vão preenchendo as lacunas. Aqui, pela falta de grana, essa brincadeira de fill in the blanks é bem mais complicada.
O Mano Menezes, cerca de duas ou três semanas atrás, declarou no programa do Cléber Machado que ele aceita perder atletas agora – sabe que esse é o jogo do mercado -, mas não em janeiro. Caso perca alguém no início do ano que vem, teria pouco tempo para reformular a equipe.
E é exatamente esse o desafio do Mourinho a partir de agora: reformular totalmente o esquema da Inter com a temporada já bastante próxima. A equipe criada por Mancini, que tinha no sueco a base de todo seu jogo, desde o final dessa negociação já não existe mais.
Será bem interessante ver se o cara fará justiça aos milhões que ganha.
Eto’o, em função do atraso na preparação física e dos compromissos da equipe, como a disputa da Supercopa, em Pequim, terá pouco mais de uma semana para se entrosar com os novos companheiros no gramado.
Se financeiramente o negócio foi espetacular para os nerazzurri – o seicco bianco, nas palavras do Sr. Confalonieri, entabulou um negócio realmente espetacular -, esportivamente será preciso esperar um pouco mais para saber se no campo Eto’o poderá de fato suprir a ausência do sueco e ser o centro do jogo da equipe de Mourinho.
No Barça, o camaronês sempre foi aquele coadjuvante que rouba a cena em alguns momentos. As estrelas maiores no período em que esteve na Catalunha sempre foram Ronaldinho e, depois, Messi.
Não discuto o talento do cara, mas essa transição de coadjuvante para estrela principal da companhia nem sempre é simples.
A única certeza absoluta que eu tenho nessa brincadeira é que o Ibrahimovic se deu muitíssimo bem nela. Por conta do ótimo toque de bola e da versatilidade do sueco, a integração dele ao jogo do Barça será fácil. Basicamente vai oferecer à equipe o jogo físico que faltava no ataque.
Além disso, o cara vai olhar para um lado e ver o Messi, olha para o outro dá de cara com o Henry, se resolver olhar para trás irá enxergar Xavi, Iniesta e Daniel Alves.
Deve estar se perguntando até agora se é isso mesmo.
PS: Não te esquece do M. City. São duas as equipes desafiando a lógica atual do mercado. Os caras já gastaram cerca de € 100 milhões no mercado.
Olá carissimo, seu último paragrafo resume bem o que pensei!
Grande abraço!