Eu sei que é notícia velha, mas o tempo impediu que eu comentasse o assunto antes. Finalmente, depois de três anos de luta (nos quais Muricy ganhou três títulos brasileiros), o diretor Carlos Eduardo Barros e Silva, o Leco, finalmente conseguiu o que queria: sacar o treinador do São Paulo unica e exclusivamente para provar o seu poder.
Não é preciso dizer que o clube vai se arrepender da decisão, assim como a parte da torcida que queria a cabeça do tricampeão. Não só porque Muricy certamente vai para o Internacional (onde será tetracampeão com toda certeza), mas também porque a aposta em Ricardo Gomes é perdida desde o minuto zero. Ricardo teve uma temporada boa na carreira, no Bordeaux, em 2007. Antes e depois disso, fracassou retumbantemente.
Leco é um remanescente da política tricolor anterior à chegada de Juvenal Juvêncio. Era o diretor de futebol do presidente Marcelo Portugal Gouveia e como não demonstrou a menor competência para o cargo, foi substituído pelo próprio Juvenal que, posteriormente, viria a ser o presidente. Os argumentos e Leco em relação a Muricy sempre foram dignos de dó. É impossível acusar um treinador tricampeão (que não é tetra porque comprovadamente o Corinthians ficou com um título forjado na corrupção) de qualquer coisa ligada à incapacidade. Muricy não tem o perfil de jogar bem torneios de mata-mata, é verdade. Mas num time como o São Paulo, que não é brilhante, jogadores como Hernanes, Jorge Wagner, Dagoberto e Miranda despencam de produção, não existe possibilidade de que não se decline. Ademais, todos os clubes apresentam momentos de reorganização depois de sequencias vitoriosas. Esse ano seria o do São Paulo.
Mas não será. Isso porque Ricardo Gomes – salvo um grande engano da minha parte – não chegará ao final do Brasileiro. Ele não tem nem fibra para suportar a pressão nem inventividade tática para rearrumar o time O elenco é razoável para os padrões brasileiros (nada além disso), jogadores como Washington claramente criaram uma cisão no grupo e o motor do time nas últimas três temporadas, a defesa impenetrável, ruiu. O São Paulo perdeu as jogadas pelas laterais e por isso, Washington virou um jogador burocrático. Nomes fundamentais do elenco, como Richarlyson, Dagoberto, Zé Luis, além dos já citados Hernanes e Jorge Wagner, estão jogando com 10% da capacidade. Borges encerra seu contrato em dezembro e ao que parece, não há uma grande sequencia de contratações para chegar ao Morumbi. Leco pode ir dormir tranquilo. Conseguiu fazer com que o São Paulo retornasse aos padrões gerenciais falimentares de sua gestão. Pode até ser que, graças à sua incrível visão e perspicácia, o São Paulo consiga uma vaga na Copa Sulamericana. Já será um grande feito, dados os seus limites.
Nada mais errado do que demitir Muricy agora. Não havia nenhum grande treinador disponível no mercado e historicamente o ex-treinador consertava o time ao longo do ano. Além disso, mantê-lo era 'correr o risco' de ser tetracampeão brasileiro.
Quem sabe uma volta à Copa do Brasil não é suficiente para a diretoria perceber que o SPFC não é o gigante europeu perdido na América do Sul que imaginam?
Concordo contigo. E acrescentaria uma coisa a mais: na época em que escrevia aquela coluna semanal às terças, uma vez li uma avaliação sobre o que acontecia com o Palermo – acho que isso foi uns dois anos atrás. Não lembro ao certo. Costumava passar pela tua coluna com um "certo" atraso e não raro era obrigado a ler duas ou até mesmo três de uma vez – que acredito que se aplique ao atual Tricolor. Na tua análise de então, a constatação era de que o Zamparini havia perdido a hora correta de negociar jogadores como Barzagli e Amauri e isso estava influenciando negativamente a performance da equipe. No São Paulo atual, parece que alguns jogadores já deveriam ter sido negociados. Se o Manchester United, no meio de um ciclo vitorioso, negociou C. Ronaldo com a galáxia, por que o São Paulo deve ficar prendendo seus jogadores com mercado indefinidamente por aqui? Mas pega leve com o Ricardo Gomes. O cara parece ser honesto e ter muito bom caráter. E hoje essas são qualidades altamente invulgares. No futebol então… Se fizer bobagem, aí é outra conversa.