…e o erro do Flamengo

Diretoria, mídia e torcida flamenguista demitiram Caio Júnior com uma certeza: seus erros tiraram o clube de um título brasileiro certo. (Ao leitor que estranhou a menção à mídia como um dos participantes da demissão de Caio, não estranhe – não é por acaso). Sem ele (talvez com o “Professor Joel”), o Fla teria conquistado seu sexto título brasileiro e não teria sido passado pelo São Paulo. Certo?

Não. O Flamengo tinha um time bom nesta temporada, é fato, mas nem de longe era superior aos seus concorrentes diretos que, não coinidentemente, ficaram com as vagas para a Libertadores. Exemplos: Léo Moura e Juan são bons laterais, mas Eltinho e Luizinho ainda não existem. Dos oito atacantes flamenguistas, nenhum estava à altura do posto com um deles, Josiel, ficando em situação constrangedora pela deficiência técnica.

Caio Júnior não foi o maior culpado (embora tenha suas responsabilidades) pelo quinto lugar do Flamengo (e não, não foi um fracasso, porque o Fla não é melhor que os quatro primeiros do Brasileiro 2008), mas deixemos isso para lá. Uma vez demitido, qual o perfil do técnico seguinte? Certamente um nome com personalidade fortíssima (para controlar elenco e mídia), virtude mais importante até do que a capacidade tática, já que na Gávea, o extra-campo é muito mais problemático do que o que acontece no gramado.

O nome natural era o de Renato Gaúcho. Não sou fã da fanfarronice de Renato, mas admito que nos clubes em que passou ele soube desenhar taticamente seus times e colocou os jogadores na coleira. Além disso, a derrota na Libertadores há de ter ensinado a ele algumas lições sobre como controlar a língua para não se transformar numa vítima dela.

Ao invés disso, é Cuca, provavelmente o treinador mais fragilizado emocionalmente no Hemisfério Sul, o encarregado de comandar o Fla a vencer o seu primeiro título em 16 anos (não, estaduais e Mercosul não estão à altura do Flamengo). Esse jejum faz (ou deveria fazer ) pensar. Se o clube é tão superior, porque tanto tempo sem ganhar?

O clube da Gávea, nos últimos anos, deu sinais de amadurecimento e profissionalismo, mas também deu – como nos inúmeros episódios que levaram às escorregadas no Brasileiro – mostras das velhas presepadas originadas em fanfarronice mediática. Cuca foi um erro da direção do Flamengo e o Flamengo foi um erro de escolha de Cuca. Se algo positivo sair daí, será uma surpresa. A melhor chance do Fla neste ano é a Copa do Brasil, único torneio que pode dar ao técnico a energia para superar as próprias limitações e a pressão rubro-negra.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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