“Adriano, te peço, resista: me expus muito e agora temos de fechar este negócio de qualquer maneira”. Você não vai ouvir uma frase que denote tanta fragilidade atribuída muitas vezes a Silvio Berlusconi, premiê italiano e dono do Milan, muitas vezes, mas foi isso que ele disse durante as negociações para levar Ronaldinho ao Milan na semana passada. E o administrador delegado do clube, Adriano Galliani, entendeu o recado.
A contratação do brasileiro pelos italianos teve um caráter político e de posição. Berlusconi é fã confesso de Ronaldinho, mas queria levá-lo a Milão por uma série de compromissos assumidos por ele durante a campanha eleitoral, especialmente junto à torcida milanista.
Com a contratação de Ronaldinho, o Milan e Berlusconi cumprem a promessa de fazer uma contratação de peso por setor do time (há controvérsias sobre se a promessa incluiria também um goleiro, mas é uma discussão menor). Com Zambrotta (defesa), Flamini (meio-campo) e Ronaldinho (ataque), o clube aposta que refaz o seu elenco, inclusive pelas várias chegadas de jovens como Antonini, Darmián e Abbiati.
Nenhum outro clube contratou tantos jogadores importantes de outras ligas fortes. A Juve se reforçou com Amauri, mas ele estava no Palermo, assim como a Inter fez com Mancini (Roma). A Roma fechou com Riise, mas o norueguês estava em baixa no seu clube. Justamente por causa do efeito mediático das contratações milanistas é que a Inter se sente forçada a fazer uma negociação de peso como com Lampard (Chelsea), por exemplo.
O posicionamento do Milan, igualmente mediático, também é o de se confirmar como um time que predica o futebol-espetáculo, a exemplo do Manchester United na Inglaterra e do Barcelona na Espanha. Em uma semana, o Milan vendeu mais de 10 mil carnês para o próximo campeonato, juntou 40 mil torcedores para receber seu novo craque e ganhou as manchetes no mundo todo. Ronaldinho vai dar certo no Milan? Em campo, é muito provável. Como investimento, já deu.
Atalanta punida
Pouca gente deu atenção no Brasil. Afinal, quem se interessa por um jogo como Atalanta e Livorno? Só que um bate-boca aparentemente normal na saída do jogo entre os dois times levou o procurador federal Stefano Palazzi a pedir três anos de suspensão ao defensor atalantino Bellini e para o livornese Balleri e cinco meses para cada um dos gêmeos Antonio e Emanuele Filippini, além uma punição de seis pontos à Atalanta e Livorno nos próximos campeonatos de A e B, além de €100 mil de multa.
A Justiça esportiva italiana já tinha distribuído 13 rodadas de suspensão entre cinco jogadores (cinco só para Grandoni, do Livorno), mas uma frase de Balleri a Bellini teria sido decisiva para o rigor de Pallazzi: “Quando vocês pediram para empatar, nós deixamos, seu pedaço de merda”.
A fria mão da…falência
Nove clubes italianos não verão o sol nascer nesta temporada. Ou melhor: com sorte, talvez o vejam de uma divisão menor. Dos 17 clubes que estavam com dificuldades para conseguir a licença da Covisoc (a comissão que avalia as finanças dos clubes e autoriza-os a jogar a primeira divisão), somente sete se safaram.
Entre os exterminados, estão o Messina (que estava na Série B), Lucchese, Massese e Spezia (C1), Torres, Nuorese, Martina, Teramo e Castelnuovo (C2). A medida levou a Lega Calcio a sustentar a diminuição na quantidade de clubes da Série B. “Estamos em 22 na segunda divisão para deixar todo mundo feliz, mas o fato é que fica todo mundo junto e mal”, disse Antonio Matarrese, presidente da entidade. Seu argumento é forte: dos 132 clubes profissionais italianos, 41 tiveram problemas em conseguir a licença da Covisoc.
A dura lei de Mourinho
“Até eu fiquei com medo de me atrasar no primeiro dia”. A frase é do presidente da Inter de Milão, Massimo Moratti, em relação à disciplina draconiana que já começou a vigorar em Appiano Gentile com José Mourinho. Os dias de “night club” acabaram.
O português disse que não tolerará atrasos de nenhuma duração e que não aplicará multas. “Multas são uma piada para jogadores que ganham milhões”. Sua punição será feita com o banco, tribuna e afastamento do elenco, numa escala de graduação. Adriano está avisado.
Mourinho já avisou também que é bom que os jogadores comecem a ter paciência com a preparação dos jogos. Antes de cada partida, ele exibirá um video de 25 minutos sobre os adversários (ele sustenta que é o máximo que um jogador consegue assistir concentrado). Treinos táticos terão a precedência nas primeiras semanas e é onde a exigência será maior.
Já se cogita o quanto levará para alguém bater de frente com Mourinho e muitos apostam que o brasileiro Adriano será o primeiro. Nesta semana, ele atrasou para a apresentação, mas Mourinho fez vista grossa. Mas pode ter certeza: essa foi a última vez.
Processos GEA
A GEA, principal eixo do escândalo que abalou o futebol italiano há duas temporadas, voltou ás manchetes na semana passada por duas razões – nenhuma delas elogiável, e com certeza, nem um pouco positiva para o espetáculo.
A primeira delas vem do lateral Cassetti, hoje na Roma. O jogador disse na investigação que quando ele estava no Lecce, em 2004, a Inter tentou contratá-lo mas impôs uma condição: que ele deixasse de ser empresariado por Alessandro Moggi, filho de Luciano e um dos sócios da GEA. Outro jogador, Nicola Lai, afirmou ter sofrido pressão semelhante do Cagliari para deixar a GEA onde era empresariado por outro dos sócios, Franco Zavaglia.
Assim como a primeira, a outra também é favorável á empresa. A Corte Federal recusou um recurso de prorrogação de prazo para a conclusão de 600 inquéritos na esfera esportiva, permitindo apenas que aqueles estabelecidos depois de abril deste ano permanecessem abertos. Isso porque a legislação estipula que os casos têm obrigatoriamente de ser resolvidos até o final da temporada seguinte.
Com isso, a GEA passa a ficar passível de punição só no âmbito legal da Justiça italiana, onde ainda corre o processo contra seus sócios (Moggi, Zavaglia, Davide Lippi, Franco Ceravolo e Pasquale Gallo). Mas sinceramente, ninguém espera muito disso,
Passaportópolis, mais uma vez
Quando estourou a onda de falsificação de passaportes italianos por volta do ano 2000, a sensação geral era que a farra não duraria muito. Afinal, a falsificação de documentos cabe ao governo e por mais corrupto que ele fosse, não se prestaria ao festim, diabólico bancado por clubes e empresários.
Doce ilusão. Passados oito anos, a Itália segue nas manchetes policiais graças às máfias de falsificação de documentos, movimentadas principalmente pela gula dos empresários de colocar jogadores extracomunitários no mercado europeu. Na semana passada, novamente um grupo envolvido com o caso foi pego em flagrante.
Aconteceu na Argentina. Uma grande operação da polícia dos nossos vizinhos quebrou um esquema montado em um consulado italiano naquele país. Um funcionário do consulado de Buenos Aires fazia o serviço e contava com a ajuda de diversas pessoas. Mais de 40 pessoas foram presas, sendo que 32 mulheres, e mais de 150 pessoas envolvidas ao todo. Por cerca de €30 mil, o interessado podia passar a ter cidadania italiana, mesmo que tivesse nascido em Bornéu.
Uma série de clubes da Série A ficou atenta ao caso. Jogadores como o goleiro Carrizo (Lazio), o volante Pablo Ledesma (Catania) e o atacante Germán Denis (Napoli) estavam com seus nomes na investigação, que contava também com empresários de luxo como Gustavo Mascardi (Pablo Aimar), Fernando Hidalgo (Verón) e Jorge Czysterpiller (Julio Cruz). Além desses, vários jogadores argentinos tinham seus nomes nas listas de clientes como Gabriel Paletta, Jesus Datolo, Mauro Boselli e Sebastian Alberto Battaglia.
A Justiça argentina decidiu enviar o juiz responsável pelas investigações, Norberto Oyarbide, à Itália. Oyarbide está certo de que houve ajuda de outros funcionários públicos italianos na Europa. Ledesma, Denis e Carrizo entraram na Série A como extracomunitários (provavelmente porque não confiavam tanto na origem de seus passaportes), mas é possível que novas contratações vindas da Argentina fiquem suspensas até segunda ordem.
– O Cagliari apresentou o projeto de seu novo estádio, que começará a ser construído em julho de 2009 e terá 30 mil lugares.
– E Ronaldinho usará a camisa número 80 no Milan. Ferro nos falsificadores que apostaram no 10 ou no 11.
– Até esta segunda-feira, já são 27 os “novos” estrangeiros da Série A.