Roma, primeiro ato

Três jogos, três vitórias, sete gols feitos, nenhum sofrido e a liderança isolada após quatro rodadas. Não, a campanha romanista até aqui não quer dizer que a Roma agora seja a favorita para vencer a Série A e que Inter e Milan sejam cartas fora do baralho. Só que é o suficiente para deixar o torcedor da Roma confiante – com razão.

A Roma tem nesta temporada um time muito entrosado. Até aí, nada de novo: o esquema azeitado de Luciano Spalletti já traz frutos da temporada passada. A Roma, tendo somente Totti como craque incontestável, tem uma defesa sólida mas que sabe atacar sempre que pode. Em outras palavras, faz gols e não toma. Siena, Palermo e Reggina não são três adversários fáceis de bater (o Milan que o diga).

O curto retrospecto da atual temporada quer dizer que a Roma fez o mínimo: não perdeu o que já tinha de bom. Pode-se dizer que a primeira missão do time ‘giallorosso’ neste campeonato já está completa.

Uma avaliação mais precisa de onde a Roma pode chegar de verdade só poderá ser feita no momento da temporada em que os titulares do time – e Totti em especial – começarem a ficar ausentes por contusão ou suspensão. O modo como novos nomes como o volante ganês Barusso, o meio-campista romeno Pit e o atacante Esposito renderão será determinante para o alcance do time.

Além da inserção de novos nomes, a Roma precisa também encontrar uma maneira de jogar que não seja o 4-2-3-1 preferido por Spalletti. Senão, corre o risco de ficar como o Milan que tem dificuldades para jogar num esquema diferente do 4-3-1-2 (4-3-2-1).

Spalletti já montou times com diferentes esquemas na sua carreira e não deveria ter problemas para achar alternativas, usando por exemplo um 4-4-2 com dois externos que avancem bastante (Cicinho e Taddei, por exemplo) ou um 3-4-1-2 com Totti na função que o consagrou no título de 2001. Mas, claro, depende de como os novos nomes vão se encaixar. De qualquer maneira, a Roma começa bem: o primeiro ato foi encerrado com méritos.

Milan: sem terminais

Bastaram dois jogos do campeonato para ficar claro que, pelo segundo ano consecutivo, o Milan errou a mão no mercado de verão. Desta vez, a defesa parece no lugar, mas o gol e o ataque deixam um oceano de dúvidas na cabeça de Carlo Ancelotti e da torcida.

No gol, Dida definitivamente parece ter passado seu melhor momento. Seu velho problema de sair mal do gol fez-se claríssimo na última partida, contra o Siena, onde ele saiu de maneira patética do gol, não foi ajudado por um furo do zagueiro Kaladze e deixou a bola livre para Maccarone abrir o marcador para o clube toscano.

Na frente, a escolha de enfrentar o campeonato com somentre três atacantes (mais Pato chegando em janeiro) já parecia temerária. Com Ronaldo parado por pelo menos um mês, Ancelotti ficou encurralado na escolha entre Gilardino e Inzaghi, com o primeiro em péssima fase (um pouco longa já, diga-se de passagem) e o segundo com 34 anos e sem poder jogar duas vezes por semana.

Já se fala em reparos no elenco em janeiro, coma chegada de outro atacante além de Pato (Shevchenko?) e um goleiro para fazer sombra a Dida. Seria a lógica. A questão que fica é: por que cargas d’água o Milan, com um potencial econômico tão grande, não foi atrás de nomes para preencher tais lacunas antes de 31 de agosto? Seja como for, já começou o desafio de manter-se vivo no campeonato até janeiro. E com a Liga dos Campeões correndo.

Olho nela, a Atalanta

Dificilmente um campeonato começa na Itália com a Atalanta podendo olhar para algo além de se salvar. Maior time de uma cidade localizada em uma região cheia de concorrentes (Brescia, Cremonese e Mantova, além dos gigantes Milan e Inter), o clube de Bérgamo tem de depender de revelações feitas em casa e planejamento. Neste ano, as prespectivas animadoras da pré-temporada dão sinais de confirmação.

Com um elenco sempre calcado em suas divisões de base (nove dos 26 nomes do elenco profissional vieram do ‘vivaio’ atalantino), O técnico Luigi Del Neri já começa a dar ao seu time uma cara semelhante àquele Chievo que fez sucesso cino temporadas atrás, com muito toque de bola e um futebol ofensivo mesmo com um único atacante.

No jogo contra a Fiorentina, em Florença, a Atalanta protagonizou uma belíssima partida com um duelo sensacional entre os dois meio-campos. Del Neri continua armando seu 4-4-2, mas ao invés de uma dupla de ataque, encosta um ‘fantasista’ (Cristiano Doni) atrás do atacante (Zampagna). No mais, o time é igual ao Chievo: dois medianos centrais que fazem a interdição, dois externos que apóiam muito e uma linha defensiva muito sólida.

Devemos prestar atenção a esta Atalanta. Além de ser um time ‘pequeno’ que parte com chances de embolar a frente da tabela, a equipe bergamasca tem várias promessas que podem empolgar, como o zagueiro Capelli, o atacante Marino e mais jovens que ainda estão na equipe ‘Primavera’, como o meia Tissone (que já vem sendo convocado para o time principal) e o atacante Gueye.

Mais: se mantiver Del Neri, a Atalanta pode ser a surpresa do campeonato e fazer uma sequencia de anos mais tranquilos, revelando nomes na divisão de base em cima de um time sólido. O único problema aparente que pode perturbar isso é o fato de esta edição da Série A estar se anunciando como uma temporada dura demais. Mais do que nunca, os bergamascos devem apostar na manutenção para colher bons frutos.

Curtas

Esta é a seleção Trivela da 3a rodada do Italiano:

Coppola (Atalanta); Juan (Roma), Barzagli (Palermo) Nesta (Milan) e César (Inter); Simplício (Palermo), Hamsik (Napoli), Recoba (Torino); Zampagna (Atalanta), Crespo (Inter) e Borriello (Genoa)

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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