Lá vem o Pato

Tá, vamos deixar para lá a ladainha de “fim da Era Pato” que tomou conta da mídia com a venda de Alexandre Pato para o Milan. Não dá para levar a sério quem quer dizer que um jogador com 27 jogos como profissional possa ter deixado uma marca na história de um clube da envergadura do Colorado, mesmo que ele tenha participado de uma conquista épica. A saída dele do Beira-Rio era certa, ainda que tenha sido apressada pelo modo ufanista como a mídia o tratou.

Não resta dúvida que Pato tem tudo – mas tudo mesmo – para se tornar um craque de primeira grandeza. Ele parece ter uma boa estrutura familiar, tem um estilo de jogo que pode se adequar ao futebol moderno e mesmo sendo colocado em algumas fogueiras como a responsabilidade de carregar o Inter e a Seleção Sub-20 nas costas, conseguiu sair razoavelmente incólume.

A sorte ajudou Pato em sua ida para a Europa. Ele terá praticamente um semestre livre para se adaptar à vida em Milão (só estréia em janeiro), além de encontrar um Milan preparado para protegê-lo – desde o legendário capitão Maldini até o presidente Berlusconi. Isso, fora a colônia brasileira instalada em Milanello que não se restringe ao campo, mas também à diretoria, onde Leonardo ainda é figura importante.

Com 17 anos, Pato terá tempo para conhecer o jogo italiano sem ter de mostrar serviço de cara. Não se deve descartar a possibilidade de que ele seja emprestado para um clube menor para ganhar rodagem, mas mesmo que fique em Milão, pode se dar ao luxo de só entrar na boa, já que tem Kaká, Ronaldo, Inzaghi e Gilardino com a responsabilidade de fazer gols. Carlo Ancelotti deve colocar o garoto em campo só quando necessário.

“Mas e desde quando Kaká tem de fazer gols?”. Bem, na verdade, depois da sua temporada passada, ele poderia dormir na Piazza Duomo o ano inteiro e a torcida ainda o aplaudiria. Mas dada a sua performance devastadora (18 gols na temporada; 10 só na LC), Ancelotti está inclinado a escalá-lo quase como um segundo atacante, avançando Seedorf para a posição de ‘trequartista’ e reforçando o meio-campo com Ambrosini.

Nessa situação, Pato, teoricamente, tem ainda menos espaço. Mas na prática, a teoria é outra. Para poupar Kaká, Ancelotti poderia usar o novo reforço em parceria com Inzaghi ou Gilardino num 4-4-2 tradicional, ou ainda com Ronaldo no ataque e Kaká às suas costas. Como Pato não é um centroavante nato, sua utilização fica mais simples, até porque o Milan está bem coberto na posição de “matador”.

No Milan, Pato se livrou da pressão que afligiu Robinho no Real Madrid ou que perturba Adriano na Inter. Pode-se argumentar que talvez fosse melhor para ele ter ido para um clube menor, onde ele teria mais espaço de cara. De fato: tal opção seria mais indicada para ele ganhar cancha. Só que, aparentemente, nem o jogador nem o Internacional estavam dispostos a ganhar um pouco menos e a escolha do destino restringiu-se a um time milionário. Nesse cenário, dificilmente Pato poderia ter apostado melhor as suas fichas. Agora, o negócio é torcer.

LIVORNO

Nome do Clube: Associazione Sportiva Livorno Calcio
Estádio: Armando Picchi (18.200 pessoas)
Principal jogador: Francesco Tavano (atacante).
Fique de olho: Alfonso De Lucia (goleiro).
Competição continental que disputa: nenhuma.
Contratações: De Lucia (goleiro, Parma); Loviso (meio-campista, Sambenedettese), Giannichedda (meio-campista, Juventus), E. Filippini (meio-campista, Bologna), Dhorasoo (meio-campista, Paris SG – FRA), Pulzetti (meio-campista, Verona); Rossini (atacante, Catania), Tavano (atacante, Valencia), Diamanti (atacante, Prato), Volpe (atacante, Ravenna), Tristan (atacante, Maiorca – ESP).
Quem saiu: Kuffour (defensor, Roma), Pfertzel (defensor, Bochum – ALE), Fiore (meio-campista, Valencia – ESP), Cesar (meio-campista, Inter), Coppola (meio-campista, Messina), Passoni (meio-campista, Mantova), Giallombardo (meio-campista, Ascoli), Gambadori (meio-campista, Pistoiese), Morrone (meio-campista, Parma); Paulinho (atacante, Grosseto), Lucarelli (atacante, Shakhtar Donetsk – UCR)
Técnico: Fernando Orsi.
Objetivo na temporada: evitar o rebaixamento.

Não fosse pela contratação do atacante Tavano e Giannichedda, esta coluna vaticinaria que o Livorno lutará para não cair ao final desta temporada. A presença de um técnico novato (Orsi), a venda consumada de Lucarelli e a venda quase certa do goleiro Amelia enfraqueceram sobremaneira um elenco que já não era muito forte.

Tavano e Giannichedda, no entanto, têm potencial para darem corpo a um time que deve se dedicar muito á marcação. Além do ex-juventino de 33 anos, o Livorno contratou o meio-campista Emanuele Filippini, que volta a fazer a dupla com seu irmão Antonio, famosa nos tempos de Brescia. A escalação dos três juntos assegura um meio-campo muito fechado.

É aí que se espera muito de Tavano. Astro do Empoli de duas temporadas atrás, o atacante está acostumado a se bater com zagueiros duros e não acha ruim. A incógnita da equação é a presença do espanhol Tristán, importado do Maiorca. Nome freqüente da Liga dos Campeões até pouco tempo atrás, Tristán tanto pode dar um toque de qualidade ao time toscano – e lançá-lo à luta de uma vaga Uefa – como virar um peso morto. E a bem da verdade, essa variação pode ser mesmo o que decidirá a sorte do time ‘amaranto’ na Série A.

PARMA

Nome do Clube: Parma Football Club
Estádio: Ennio Tardini (28.783 pessoas)
Principal jogador: Domenico Morfeo (meia-atacante).
Fique de olho (promessa): Daniele Dessena (meio-campista).
Competição continental que disputa: nenhuma.
Contratações: Pavarini (goleiro, Siena); Falcone (defensor, Sampdoria), M. Rossi (defensor, Modena.), Savi (meio-campista, Monza), Morrone (meio-campista, Livorno), Reginaldo (atacante, Fiorentina).
Quem saiu: De Lucia (goleiro, Livorno), Perna (defensor, Modena), Grella (meio-campista, Torino); Muslimovic (atacante, Udinese), G. Rossi (atacante, Manchester Utd – ING.), Kutuzov (atacante, Pisa).
Técnico: Domenico Di Carlo
Objetivo na temporada: evitar o rebaixamento.

O sofrimento passado pelo Parma para se salvar na última temporada deve ter servido de lição. Se não serviu, deveria. O clube pela primeira vez desde o escândalo da Parmalat começa uma temporada sem a incerteza econômica proveniente da situação. É um bom augúrio.

Apesar de ter perdido o bom técnico Ranieri para a Juventus, o Parma fez uma campanha de reforços correta. Correta, mas arriscada. O treinador Di Carlo foi a sensação da Série B passada, com o Mantova – mas Série A é outra história. E além disso, ainda que não venda almoço para comprar janta, o clube não fez nenhuma contratação de peso.

Di Carlo deveria montar o seu Parma em torno do talento de Morfeo, realmente um jogador capaz de decidir partidas. Contudo, ele não gosta de jogar com um ‘trequartista’ atrás dos atacantes, preferindo abrir dois homens pelas pontas (ao menos é o que indica a pré-temporada). Como Morfeo tem um temperamento forte, daí pode sair um atrito,

Sem Morfeo no time, o Parma deve ter em Gasbarroni e Morrone os dois regentes (o segundo um pouco mais recuado). A defesa parmigiana deve ser bastante sólida e avançar pouco, com Cigarini (da Sub-20 italiana) e Parravicini encarregados do combate e tendo o brasileiro Reginaldo (ex-Fiorentina) e Budan perto da área.

O trunfo do Parma é a quantidade de jovens promissores: Ferronetti (defesa), Dessena, Cigarini, Paci, Savi (meio-campo), Moretti e Paponi (ataque) são atletas que realmente podem cavar o seu espaço. A dúvida é a mesma das últimas temporadas: num momento mais difícil, será que eles podem segurar uma bronca?

CATANIA

Nome do Clube: Calcio Catania
Estádio: Angelo Massimino (28.806 pessoas)
Principal jogador: Christian Terlizzi (zagueiro).
Fique de olho: Mariano Izco (meio-campista).
Competição continental que disputa: nenhuma.
Contratações: Bizzarri (goleiro, Gimnastic – ESP); Terlizzi (defensor, Sampdoria), Giacomo Tedesco (meio-campista, Reggina), Gazzola (meio-campista, Torres), Llama (meio-campista, Arsenal – ARG); Falconieri (atacante, Brindisi), Del Core (atacante, Cesena), Babù (atacante, Verona), Jorge Martinez (atacante, Nacional – URU).
Quem saiu: A. Tedesco (defensor, Gela), Cesar (defensor, Chievo), Bucolo (meio-campista, Gela), Danucci (meio-campista, Ternana); Falconieri (atacante, Gela), Iannelli (atacante, Gela), Monastra (atacante, Gela), Rossini (atacante, Livorno), Corona (atacante, Mantova).
Técnico: Silvio Baldini.
Objetivo na temporada: evitar o rebaixamento.

Se um time começa esta temporada namorando o rebaixamento, este time é o Catania. Por quê? Bem, na verdade, não ter caído nesta temporada já foi um feito e não fosse uma campanha digna de vaga na LC no começo do torneio, o time siciliano teria embarcado para a Série B.

Para contradizer a tese podemos citar a campanha de contratações do clube, que foi muito bem-feita. O zagueiro Terlizzi e o meio-campista Tedesco prometem um time bastante seguro, que deve jogar só com um atacante na frente – Spinesi – o que liga a performance deste ex-avante do Bari ao rendimento do time do Massimino no torneio.

Outros pontos favoráveis ao Catania são a volta do mando de campo (tem uma torcida fanática) e o treinador Silvio Baldini, experiente em manter times pequenos longe do rebaixamento. Ainda assim, com tudo na balança, o fato de terem subido três clubes de peso para a Série A (Juve, Genoa e Napoli) torna uma aposta no Catania bastante perigosa.

REGGINA

Nome do Clube: Reggina Calcio
Estádio: Oreste Granillo (27.763 pessoas)
Principal jogador: Francesco Cozza (meio-campista).
Fique de olho: Simone Missiroli (atacante).
Competição continental que disputa: nenhuma.
Contratações: Kovacsik (goleiro, Ferencvaros – HUN); Cherubin (defensor, Cittadella), Alvarez (defensor, Nacional – URU), Miguel Garcia (defensor, Sporting – POR), Collacchioni (defensor, Pistoiese), Valdez (defensor, Treviso); Pettinari (meio-campista, Fiorentina), Preklet (meio-campista, Gyori – HUN), Cozza (meio-campista, Siena), Cascione (meio-campista, Rimini), Barreto (meio-campista, NEC – HOL), Montiel (meio-campista, Udinese); Joelson (atacante, AlbinoLeffe), Halfredsson (atacante, Lyn – NOR).
Quem saiu: Puggioni (goleiro, Perugia), Lucarelli (defensor, Siena); Mesto (meio-campista, Udinese), Amerini (meio-campista, Frosinone), Di Dio (meio-campista, Ternana), Esteves (meio-campista, Marítimo), Giacomo Tedesco (meio-campista, Catania), Foggia (meio-campista, Cagliari), Veron (meio-campista, Siena), Gazzi (meio-campista, Bari); Bianchi (atacante, Man City – ING).
Técnico: Massimo Ficcadenti.
Objetivo na temporada: evitar o rebaixamento.

A última campanha da Reggina foi épica. Salvar-se numa Série A com 11 pontos de punição sem ter um porte avantajado é um feito. Comemorada a permanência, é hora de abrir os olhos, porque os arquitetos do feito – o técnico Mazzarri e o atacante Bianchi – não ficaram em Reggio Calabria.

No lugar de Mazzarri, chegou Ficcadenti, um nome que é uma aposta, mas que tem boas chances de dar certo. Apreciador de um jogo ofensivo, ele pode fazer com que a Reggina tenha um fôlego maior nesta temporada, sim. Mas também pode transformar o time do ‘Granillo’ um alvo fácil para ataques velozes.

Sua receita para conter isso é um meio-campo muito pegador, com três volantes (entre eles Vigiani, já há alguns anos no clube) e um armador, Cozza, atleta que tem grande identificação com a torcida. Para o lugar de Bianchi a aposta é no brasileiro Joelson, que chamou a atenção no microscópico Albinoleffe, fazendo até gol na Juventus. A zaga ‘amaranto’ deve ser o ponto forte do time. Aronica, Modesto e Lanzaro já estão entrosados e a chegada do defensor Valdez (ex-Treviso) não deve causar grandes transtornos.

Entre as apostas, o dinamarquês Nielsen e o atacante ‘da casa’ Missiroli podem revelar-se úteis na disputa de uma Série A que será dificílima para os clubes que querem fugir do rebaixamento. Empurrada por uma das torcidas mais entusiasmadas da Itália, a Reggina só precisa de um pouco de sorte e de um bom começo de campeonato para garantir uma permanência segura.

SIENA

Nome do Clube: Associazione Calcio Siena.
Estádio: Artemio Franchi (13.500 pessoas).
Principal jogador: Mário Frick (meia-atacante).
Fique de olho: Leandro Grimi (lateral-esquerdo).
Competição continental que disputa: nenhuma.
Contratações: Eleftheropoulos (goleiro, Ascoli), A. Lucarelli (defensor, Reggina), Loria (defensor, Atalanta), Grimi (defensor, Milan), Ficagna (defensor, Cesena), Veron (meio-campista, Reggina), Caetano (meio-campista, Ipatinga – BRA), Jarolim (meio-campista, Slavia Praga), De Ceglie (meio-campista, Juventus), Guadalupi (meio-campista, Perugia), Bettega (meio-campista, Juventus), Forestieri (atacante, Genoa).
Quem saiu: Pavarini (goleiro, Parma), Molinaro (defensor, Juventus), Gastaldello (defensor, Sampdoria), Rinaudo (defensor, Palermo), Cozza (meio-campista, Reggina), Antonini (meio-campista, Empoli), Konko (meio-campista, Genoa), Eremenko (meio-campista, Udinese).
Técnico: Andrea Mandorlini
Objetivo na temporada: evitar o rebaixamento.

Mais um time que se salvou na bacia das almas – e mais um que corre para não cair. Sem dinheiro, sem seu histórico presidente De Luca (que tinha boas relações com o esquema Moggi), falecido e sem uma torcida gigante, o Siena terá de rebolar muito para conseguir a proeza desta temporada.

Um dos primeiros ‘problemas’ é Andrea Mandorlini. O treinador é competente, mas prega um jogo muito ofensivo que custou seu emprego na Atalanta de três anos atrás. Na Série A, times pequenos que arriscam muito costumam se dar mal. O risco é grande, mas se pensarmos bem, o Siena só pode pensar em termos de risco, já que não tem de onde tirar forças.

Duas chegadas na defesa são entusiasmantes: o zagueiro Lucarelli (irmão do atacante que hoje está no Shakhtar) e o lateral Grimi, do Milan, que terá um ano para adaptar-se ao futebol italiano. Com o bom goleiro austríaco Manninger na meta, os dois contarão com a ajuda do tinhoso Codrea e do rodado Vergassola na contenção do meio-campo.

A armação ficará mais a cargo do atacante Frick, que atua pela ala, mas terá o auxíliio do velho Chiesa pelo meio. Maccarone, outro atacante que sai muito da área, completa o setor que, exceção feita ao italiano veterano, terá de correr muito para auxiliar na defesa – ou tudo irá por água abaixo. Pode dar certo? Sem dúvida. Assim como no caso da Reggina, o que se precisa de sorte e um bom começo de campeonato. Só que um pouco mais de cada um dos dois.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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