Na semana passada, Francesco Totti encerrou um mistério que vinha desde a final da Copa do Mundo. O jogador decidiu que não vai mais jogar pela seleção, privilegiando as suas performances na Roma. Como argumento, Totti disse que não tem mais a condição física ideal.
O romanista tomou a decisão que a maioria das pessoas imaginava que ele tomaria, mas as razões não são exatamente as que ele deu. Sim, é verdade: jogar pela Itália exige mais do físico do atleta (e o rendimento no clube freqüentemente é prejudicado), mas a parada de Totti é menos altruísta.
Totti queria do técnico Roberto Donadoni um status de “jogador principal” na seleção. Ele não queria mais ter de submeter a esquemas diferentes dos que tem na Roma, onde pode render o máximo de seu futebol. Na Roma, Totti é um jogador decisivo em quase todos os jogos; na Itália, não raro ele joga com o nome, já que quando tem de se dedicar a papéis de marcação ele perde rendimento.
Como Donadoni não deu sinais de garantir um tratamento preferenciado, o romanista se “aposentou”. Até porque ele sabe que as chances de Donadoni ser ejetado do comando da seleção não são pequenas (especialmente depois da partida com a França, em setembro), o que possibilitaria uma “mudança de idéia”.
De uma maneira mais ou menos velada, a decisão do jogador foi criticada. Isso porque claramente ele só está pensando na sua própria imagem, uma vez que não tem problemas físicos que impeçam a sua participação em dois frontes – clube e seleção. “Na minha época, quando não se era convocado se chorava”, criticou o ex-atacante Givi Riva; “Respeito a decisão dele”, amaciou o ex-técnico da Itália, Marcello Lippi.
Como fica a Itália sem Totti? Para ser sincero, muda bem pouco sob o ponto de vista tático. O capitão da Roma nunca jogou em sua posição natural e não raro sumia na partida. Donadoni deve abdicar de uma vez por todas de usar um ‘trequartista’ para reforçar o meio-campo. O nó para ser desfeito por Donadoni é o de descobrir como fazer o bom grupo de atacantes da Itália possa render o tanto que se espera dele. Agora, definitivamente, sem Totti.
Roma
Destaque: Francesco Totti (meia/atacante)
Classificação final: vice-campeã (vaga na Liga dos Campeões)
Resultados na Europa: quartas-de-final (eliminada pelo Manchester United)
Copa Itália: Campeã
Por um lado, a temporada da Roma poderia ser considerada bastante produtiva – sem um investimento de peso no elenco, o time de Luciano Spaletti conseguiu um titulo, uma vaga da LC e apresentar em determinados momentos o melhor futebol na Itália.
Só que por outro lado, a Roma deixou passar um campeonato no qual só tinha a Inter como rival e não passou de uma Copa Itália. Alem disso, sofreu um humilhante massacre em Old Trafford que jamais será apagado, dando adeus à competição de um modo que deixou claríssimo como a Roma está um nível abaixo mesmo da elite européia.
Parte disso é a mega-dependência de Totti e quando ele não faz chover, a Roma dificilmente tem recursos para peitar gigantes. Spaletti tira o máximo de seu elenco, mas apesar de contar com jovens de talento e uma ótima defesa, não teve banco de reservas.
Sampdoria
Destaque: Fabio Quagliarella (atacante).
Classificação final: 9o lugar.
Resultados na Europa:
Copa Itália: eliminada nas semifinais pela Inter.
Apesar de ter um grupo de jogadores considerável e a presença de Quagliarella, o destaque da temporada italiana, a Sampdoria encerrou de maneira frustrante o ciclo de Walter Novellino no Luigi Ferraris (ele acertou com o Torino).
Muito irregular, o time ‘blucerchiato’ quase não venceu nenhum grande (só bateu a Lazio em oito confrontos com Lazio, Fiorentina, Milan e Inter) e tropeçou diante de vários pequenos (Catania, Atalanta, Chievo e Empoli, por exemplo).
Seguindo a linha de valorizar jogadores italianos, a Samp revelou bons nomes ao confirmar no primeiro time, como Gennaro Delvecchio, Angelo Palombo e Andrea Parola. O ponto baixo foi a suspensão de Flachi pelo uso de cocaína, que privou o time de um jogador importante.
Siena
Destaque:
Classificação final: 15o lugar
Resultados na Europa: não disputou.
Copa Itália: eliminado no 2o turno pela Triestina.
A temporada do Siena foi quase totalmente obscura e só não acabou num rebaixamento porque o time teve uma reação espetacular nas últimas rodadas, ganhando jogos difíceis como Lazio, Reggina, Empoli e Torino.
Um dos times mais envolvidos no esquema de poder de Luciano Moggi, a punição do Siena poderia ter sido maior. Seu elenco é uma colcha de retalhos e exceção feita ao goleiro Manninger (realmente vital em uma série de partidas), não há um grande destaque. Se tivesse caído, não faria a menor falta.
Torino
Destaque: Alessandro Rosina (meio-campista).
Classificação final: 17o lugar.
Resultados na Europa: não disputou.
Copa Itália: eliminado pelo Crotone no 2o turno.
Um ano tão especial, como o que viu pela primeira vez a arqui-inimiga Juventus na segunda divisão, merecia uma campanha melhor. Mas graças a mudanças no comando, ausência de um atacante eficiente(o melhor foi Stellone, com quatro gols) e uma dependência de um jovem ainda irregular como Rosina fizeram o Torino sofrer até o último minuto para garantir seu lugar na Série A que começa em agosto.
Rosina, o artilheiro do time com nove gols, foi a única coisa que o ‘Toro’ pode tirar de satisfatório dessa temporada – ainda que ele tenha demonstrado que seu temperamento não é dos melhores. Alem dele, Lazetic também poderia entrar na lista dos melhores, mas sem um grande entusiasmo.
Udinese
Destaque: Cristian Zapata (zagueiro).
Classificação final: 10o lugar.
Resultados na Europa:
Copa Itália: eliminada pelo Arezzo no 3o turno.
Nada a se comemorar – mas também nada a celebrar. Ficando na metade da tabela, a Udinese fez mais uma daquelas temporadas nas quais mostra que é muito mais um estacionamento de jogadores de empresários do que um clube.
Alem do colombiano Zapata – desejado por vários dos grandes italianos – a Udinese teve uma temporada de relacionamento difícil com vários de seus astros – De Sanctis, Muntari, Iaquinta, Natali – que acabaram todos saindo no fim do torneio. Atenção aos tcecos Zapotocny e Sivok, que podem ganhar espaço de titulares na nova temporada.
Amor à camisa também paga mais
Será que Vieri ficou mais rico do que Maldini ao trocar mais de dez vezes de clube? Valeu a pena para Ronaldo deixar a Inter pelo Real e depois Madri pelo Milan? Luis Figo se deu bem a rasgar sua camisa do Barcelona e ir ao Barnabeu? Contrariando o que se podia pensar, a resposta é não – para todas as questões acima.
Numa época na qual os jogadores mentem desavergonhadamente ao declarar amor pelo primeiro clube que ofereça mais, uma boa notícia para os torcedores: uma pesquisa mostrou que os craques que não trocam de camisa a 3 x 4 são os mais valorizados.
De acordo com uma pesquisa feita por uma consultoria de marketing, o valor que os jogadores ganham ficando muito tempo em um mesmo clube é mais negócio na hora de fechar um contrato de publicidade – mesmo em relação aos torcedores de outros times.
Encabeçando a lista dos jogadores “mais valiosos” estão Francesco Totti (Roma), Alessandro Del Piero (Juventus) e Paolo Maldini (Milan), todos jogadores de uma camisa só (exceção feita à temporada de Del Piero no Padova, ainda muito jovem) – alem da camisa da seleção.
O estudo mostrou que, sim, os jogadores que ganham mais títulos valorizam sua imagem, mas o apego verdadeiro a um clube se reflete – também – em ganhos financeiros.
Curtas
– O Real Madrid de Bernd Schuster deu um importante sinal para Cassano deixando-o de fora da pré-temporada do clube.
– Um retorno dele à Itália é iminente – e parece a única possibilidade de salvar sua carreira.
– Em uma longa entrevista à Sky Itália, Luca de Montezemolo, presidente da Ferrari e ligadíssimo à Juventus rasgou elogios à Kaká.
– “Totti e Del Piero também são grandes, mas como o brasileiro – dentro e fora de campo – não há nenhum”.
– Início de temporada meio assim para a Roma.
– A torcida hostilizou Chivu pelo seu “namoro” com Barcelona e Real Madrid e no primeiro amistoso de verdade, os romanos encaçaparam 4 a 0 de um nada espetacular Dortmund.
– A Itália venceu o Campeonato Europeu de Jogadores Desempregados, batendo a Eslovênia, por 2 a 1.
– Com a média de idade mais alta entre os participantes (35 anos), os italianos conquistaram o título com um gol do veterano Beppe Signori, ex-Lazio, Sampdoria e Bologna.
– A imprensa de Florença dá como certa a ruptura de Bojinov com a Fiorentina; para o defensor tcheco Ujfalusi, continua a se negociar.