Não dá para reclamar

Se a última competição de seleções que a Itália concluiu deixou o país ensandecido em festa, um ano depois, o clima passa a ser de frustração. Para a Itália, pelo menos resta o consolo de que o Europeu Sub-21 não é a Copa do Mundo e então é possível falar em danos limitados. Mas o gosto de derrota está lá.

A campanha italiana no Europeu foi medíocre. Quatro pontos ganhos em três partidas seriam uma má performance até para uma seleção com pretensões menores. Para quem se julgava favoritíssima então, nem se fala. E este é o caso dos “Azzurrini” de Pierluigi Casiraghi.

Vamos por partes: o elenco desta que é um esboço da seleção italiana do futuro, é bastante respeitável. Não há nenhuma posição na qual os italianos tivessem uma carência crônica e a boa lista de nomes viabilizava até mesmo esquemas diferentes em campo. De Chiellini a Pazzini, passando por Aquilani e Montolivo, Casiraghi tinha muitos jogadores que já tem experiência de sobra em times importantes como Roma, Juventus e Fiorentina.

O problema que a Itália jovem sofreu na Holanda é que o time simplesmente não jogou. A partida empolgante da abertura de Wembley contra a Inglaterra mostrou um time; o Europeu, um outro totalmente diferente. O meio-campo forte e criativo de Wembley, composto por Nocerino, Aquilani e Montolivo, esteve desinteressado, para dizer o mínimo. Somente no jogo final, contra a República Tcheca, a Itália entrou disposta a alguma coisa. Mas aí já era tarde.

É bem verdade que o nível técnico geral do torneio foi muito fraco. Muitos dos protagonistas chegaram cansados e sem estímulos à Holanda. Na Itália, os nomes de Pazzini, Montolivo, Aquilani e Giuseppe Rossi eram decantados em prosa e verso. Destes, somente Aquilani – e só na derradeira partida – jogou como pode em algum momento.

Sob o ponto de vista de grupo, o pecado da Itália foi a de chegar à competição com o salto alto típico de quem se acha. Campeã mundial, a seleção italiana – com a ampla aprovação da imprensa e de seus dirigentes – já coroara os jovens ‘Azzurri’ como uma cepa de vencedores, desconsiderando que todo o trabalho ainda estava apor vir.

Taticamente, a Itália sentiu falta de um mediano marcador (como Gattuso ou De Rossi em seleções anteriores) e de zagueiros com mais personalidade para transformar técnica em performance. Mantovani, Canini, Criscito e Andreolli têm – os quatro – muito futuro, mas ainda precisam da tutela de nomes mais experientes.

Se tivesse um ou dois medianos de peso para o meio, Montolivo e Rosina (por exemplo) poderiam ter jogado com Rossi e Pazzini à frente num grupo bastante temível. Com um trio de meio-campistas formado por Nocerino, Montolivo e Aquilani (mais Rosina e Palladino como atacantes agregados), o setor ficou sem pegada e constantemente Pazzini batia cabeça contra zagas bem postadas.

Esta safra certamente tem muito futuro se aprender a mesurar o que pode fazer com a vontade que tem de ser aplicada para chegar a bons resultados. Quase todos os convocados têm potencial para ter carreiras na Série A, mas precisam vencer a síndrome do “Já Ganhou” que muitos deles têm por jogarem em times grandes. Casiraghi não soa como o nome mais indicado para a Sub-21 mas também seria exagero colocar a culpa do fracasso em suas costas. O negócio agora é olhar para o futuro.

Eco-estádio no Friuli

A onda de construção de estádios que tem atingido clubes por toda a Europa deve conseguir mais um adepto na atual Série A. A Udinese, clube da rica região do Friuli, no norte da Itália, apresentou nesta semana um projeto para fazer um novo estádio que trabalha com cifras bem razoáveis e tem um apelo que tem tudo a ver com o mundo atual: é ecologicamente correto.

De acordo com os planos do clube, a nova arena custaria cerca de €100 milhões – uma soma alta, claro, mas bem menor do que a de outros projetos (menor inclusive do que o do Engenhão, construído para o Pan 2007). O valor seria arrebanhado entre empresários locais que veriam suas marcas atreladas a um empreendimento que ganharia a simpatia da população e mídia pelas suas preocupações ambientais.

O estádio estaria adequado aos limites propostos pelo IPCC (grupo da ONU para as mudanças climáticas), cuja data limite é 2030. Para combater as emissões de carbono, o estádio teria painéis de células fotoelétricas. A idéia surgiu fomentada por um projeto da Fifa (“Green Goal”) que estimula o desenvolvimento de novos projetos futebolísticos que visem a economia de água e energia.

O estádio seria muntifuncional e construído em áreas urbanas e teria maior integração com as vizinhanças, proporcionando a utilização do estádio durante sete dias por semana, Apesar da declararação de intenções da Udinese, não há uma previsão de que tamanho teria o novo estádio.

Ascoli

Destaque: Dimitrios Eleftheropoulos (goleiro)
Classificação final: 19o lugar (rebaixado para a Série B)
Resultados na Europa: não participou.
Copa Itália: eliminado no 2o turno pelo Napoli.

O Ascoli fez uma campanha à altura das expectativas de todos. Sem dinheiro para levar jogadores experientes para o Marche, precisava de algum trunfo para repetir o bom trabalho de Marco Giampaolo, que foi para o Cagliari. Tentou Attilio Tesser que acabou demitido e substituído por Nedo Sonetti. As trocas de técnico foram o que mais chamou a atenção na temporada dos ‘Picchi’. Sem elenco, dinheiro nem torcida, o clube atravessou a temporada em uma longa agonia que terminou da maneira mais óbvia.

Atalanta

Destaque: Cristiano Doni (meio-campista).
Classificação final: 8o lugar.
Resultados na Europa: não participou.
Copa Itália: eliminada no 3o turno pela Triestina.

Se não tinha dinheiro, a Atalanta, como sempre, pôde contar com a sua inexaurível divisão de base para encher as suas fileiras. Massimo Donati, Cristiano Doni e Gianpaolo Bellini foram alguns dos jogadores-chave do esquema de Stefano Colantuono, o treinador-revelação do campeonato (contratado pelo Palermo). Com um 4-4-2 versátil, Colantuono fez um time muito duro de bater, capitaneado por um excelente Doni e com Ventola e Zampagna em excelente forma no ataque. Não ficou com uma vaga na Copa Uefa por muito pouco.

Cagliari

Destaque: David Suazo (atacante).
Classificação final: 16o lugar.
Resultados na Europa: não participou.
Copa Itália: eliminada no 3o turno pelo Brescia.

Um bom elenco, um excelente atacante e um treinador que tinha sido considerado a revelação do campeonato anterior. Talvez soe como a fórmula de uma temporada de sucesso, mas se tratava do Cagliari, que é presidido por Massimo Cellino, um milionário boca-dura que adora demitir treinadores. Marco Giampaolo – o técnico – acabou pagando o pato, substituído por Franco Colomba. Quando a barca estava afundando de vez, Cellino chamou Giampaolo e volta, mas era tarde para qualquer coisa que não fosse tentar escapar do rebaixamento – isso apesar de um Suazo em forma excepcional. Graças aos gols do hondurenho e à volta de Giampaolo, os sardos se salvaram na bacia das almas.

– Nem ganhando a Chuteira de Ouro européia (pela segunda vez consecutiva), Francesco Totti voltou a ser unanimidade da Itália.

– O capitão romanista recebeu os cumprimentos do presidente da Federcalcio, mas uma espetada de Demetrio Albertini, ex-volante do Milan, hoje dirigente da entidade.

– “Estamos esperando a ajuda dele; ele poderia ter dado uma ajuda antes”, disse Albertini.

– O Milan saiu da moita e anunciou que Eto’o é mesmo seu alvo de mercado; segundo a imprensa italiana, Shevchenko é a segunda opção.

– A Sampdoria conseguiu vencer a concorrência da Roma e contratou Belluci, meia-atacante do Bologna

– A Samp também levou o defensor Domizzi de volta ao Luigi Ferraris.

– A Roma participa de outra disputa: com a Juventus, por Craig Bellamy.

– Fabio Bazzani, atacante da Samp que tinha acertado com o Livorno, mas foi recusado pela torcida por ser politicamente de direita, fechou com o Brescia de Serse Cosmi.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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