Talvez a Reggina não consiga emplacar o próximo campeonato na Série A, mas isso se deverá somente à penalização de 11 pontos que o time calabrês sofreu na esteira do escândalo de ‘Calciopoli’. Ainda assim, o clube ‘amaranto’ terá conquistado o respeito dos adversários, dado o futebol de qualidade que têm mostrado em todo o torneio.
O mais surpreendente é que a Reggina, ao saber, em junho, da punição, vendeu alguns de seus principais atletas para se livrar de salários mais onerosos, já que o rebaixamento era dado como certo. E a aposta em jogadores da divisão de base – que já é uma prática do clube – foi mais obrigada do que uma escolha.
A sete rodadas do final do torneio, mesmo com a punição de 11 pontos, a Reggina ainda luta com chances concretíssimas de se salvar. O dado realmente impressionante é que desde a chegada de Walter Mazzarri ao clube, em 2004, a ‘horta’ calabresa já lançou nada menos que 26 jogadores – na maioria italianos – para o time profissional.
Mazzarri resolveu desfrutar de uma estrutura que a Reggina já dispunha e o clube é o maior beneficiado. A diferença se faz sentir na contagem de estrangeiros do grupo. Entre os 24 profissionais, somente quatro não são italianos e doze foram formados na divisão de base do clube.
É bem verdade que não há na Reggina nenhum jogador pelo qual o Manchester United esteja disposto a pagar cem milhões de euros, mas também é fato que o elenco comandado por Mazzarri é bastante homogêneo. E além disso, nomes como os dos defensores Aronica e Giosa e dos meias Mesto e Missiroli estão sempre sendo cotados para se transferir para outros clubes da Série A.
Nas duas categorias imediatamente inferiores à profissional, a ‘Primavera’ e a ‘Allievi’, a Reggina ostenta um quarto lugar e a liderança, respectivamente. O ex-jogador Simone Giachetta tem recebido elogios pelo trabalho, especialmente da diretoria do clube, que tem economizado fortunas servindo-se de suas divisões inferiores. Apesar de modesta para os padrões da Série A, a Reggina dispõe de um CT com seis campos oficiais (sendo um deles sintético de acordo com os padrões da Uefa), onde as divisões inferiores também treinam.
Guidolin por um fio
Assim que o Palermo perdeu a sua partida no final de semana para o Cagliari, o presidente Maurizio Zamparini não podia deixar de dar uma entrevista. “Francesco Guidolin não é mais técnico do Palermo. Decido no substituto na segunda”, revelou o ‘capo’ palermitano. Minutos depois, menos irado, o dirigente admitiu que “pensaria nisso na segunda-feira” e hoje disse que o clube segue com o treinador. Só que não se sabe até quando.
A fritura de Guidolin começou na verdade quando ele aceitou o cargo no começo do ano. Zamparini só não demitiria seu treinador caso fosse campeão italiano e nem o torcedor ‘rosanero’ mais fantático haveria de acreditar em um Palermo favorito para vencer o Italiano.
Depois do começo promissor, o Palermo deu suas patinadas e degringolou mesmo quando perdeu o atacante brasileiro Amauri. Nenhum dos outros quatro atacantes (Brienza, Caracciolo, Curiale e Di Michele) conseguiu dar conta da ausência de Amauri e Zamparini precisou ir ao mercado para se reforçar – trouxe Cavani e Matusiak – que até melhoraram o setor ofensivo, mas aí já era tarde.
Por que razão esse tom de ‘Guidolin demitido’ nesta coluna? Porque não há ninguém capaz de apostar numa permanência dele para o campeonato que vem. Além de não haver mais clima entre Zamparini e o técnico, a única coisa que asseguraria sua vaga seria uma vaga na Liga dos Campeões – onde Milan e Empoli (leia abaixo) mostram muito mais fôlego.
Guidolin não foi demitido nesta semana porque não há nenhuma alternativa minimamente aceitável. A indicação de um assistente técnico que já esteja no clube é a única possibilidade a treinadores-tampão. Guidolin, por bem ou por mal, ainda pode assegurar uma vaga numa competição continental – mesmo que ninguém creia muito nisso.
Mais um resultado negativo e ele está fora. Pelas rodadas restantes, o chamado seria Carlo Mazzone, que fez o mesmo papel no Livorno do ano passado e se saiu muito mal (assumindo o cargo de Roberto Donadoni, hoje na seleção italiana). Para a próxima temporada, diz-se que Zamparini quer Domenico Di Carlo, que faz boa campanha no Mantova, e que tem um passado de jogador na Sicília. Beppe Iachini, do Piacenza, seria uma alternativa.
Milan vê a LC…do ano que vem
Pela primeira vez na temporada o Milan tem a Liga dos Campeões realmente na sua alça de mira. Graças a uma partida excelente de Gilardino e Ronaldo – os dois que não viajam a Munique para pegar o Bayern – o clube de Via Turati jogou bem e convenceu contra o Empoli ficando a somente um ponto do Palermo pela vaga.
A Fiorentina é o único “grande” no caminho do Milan até o fim do torneio, enquanto o Palermo tem Inter e Roma em seu caminho – sendo que a Inter é na próxima rodada, antes do título estar garantido. Inter e Roma, aliás, que também são adversários da Lazio terceira colocada – mas que conta com sete pontos de vantagem sobre os sicilianos.
A classificação para a LC é vital para a maioria das pretensões milanistas para a próxima temporada, incluídas aí a manutenção do técnico Carlo Ancelotti e Ronaldo, a chance de atrair jogadores de peso (como Ronaldinho, por exemplo) e de evitar a saída de seu astro maior inconteste, Kaká, que é cortejado pelo Real Madrid 24 horas por dia.
Infelizmente para os milanistas, há menos convicção no que diz respeito a desclassificar o Bayern nesta edição do torneio. Pippo Inzaghi será o único atacante – mesmo fora de sua melhor forma – e um pífio Ricardo Oliveira como única alternativa. Na Roma, a outra italiana nas quartas-de-finais da LC, o ânimo é maior para se classificar. E a paz, é maior, porque a vaga na competição continental é certa.
– Eis a lista dos jogadores lançados por Mazzarri na Reggina:
– 2004/2005: Piccolo, Soviero, Cannarsa, Zeytulaev, Missiroli, Ganci e Esteves.
– 2005/2006: Biondini, Carobbio, Giosa, Ceravolo, L. Rigoni, Castiglia, Saviano, Zoppetti, Barilla, Ungaro, Lança e Modesto.
– 2006/2007: Puggioni, Di Dio, Gazzi, Nardini, Nielsen e Tognozzi.
– Desses, Zeytulaev, Missiroli, Ganci, Esteves, Biondini, Ceravolo, L. Rigoni, Castiglia, Saviano, Barillá, Ungaro, Puggioni, Di Dio, Gazzi, Nielsen e Tognozzi foram profissionalizados pelas divisões de base do clube.
– Esta coluna agradece a colaboração do leitor Rodrigo Aragão, que apontou erros na lista de nomes “profissionalizados” por Mazzarri na Reggina.
– A Fiorentina bateu a concorrência e contratou o promissor senegalês Pape Moussa Diakhaté, de 17 anos.
– Diakhaté chamou a atenção jogando com o AS De Camberene durante o torneio de Viareggio deste ano.
– Depois da vitória sobre o Torino, o atacante Bonazzoli, da Sampdoria, deu uma explicação incomum:
– “Tenho de dar mais entrevistas; nas últimas quatro partidas, dei quatro coletivas e fiz quatro gols”.
– Esta é a seleção Trivela da 31a rodada:
– Calderoni (Atalanta); Negro (Siena), Aronica (Reggina), Stendardo (Lazio) e Mesto (Reggina); Mudingayi (Lazio), Koman (Sampdoria) e Montolivo (Fiorentina); Ronaldo (Milan), Suazo (Cagliari) e Cavani (Palermo)