Pizza, pizza, pizza

Você achava que a pizzaria Itália tinha fechado? Nada disso. Não só fez uma outra rodada semanas atrás, quando diminuiu as penas de Juventus, Lazio e Fiorentina, como está esticando a massa para mais uma, que vai tirar a espada de cima da cabeça dos agentes “nepotistas”.

O problema é o seguinte: uma das obscenidades que aconteciam no futebol italiano (e ainda amplamente difundido em outros países, como a Inglaterra) é a presença de filhos de diretores e técnicos entre os empresários de atletas. Os casos mais notórios são os dos filhos de Luciano Moggi, ex-diretor da Juventus (Alessandro Moggi), Marcello Lippi, ex-treinador da ‘Azzurra’ e da Juventus (Davide Lippi) e Calisto Tanzi, ex-dono da Parmalat e do Parma (Francesca Tanzi). Mas eles não eram os únicos.

O que acontecia o leitor já pode imaginar: em certas situações o empresário do jogador ‘discutia’ os termos do contrato ou da venda de um atleta com seu pai. Mais ou menos como o comprador também ser o caixa do supermercado – mas com o dinheiro de terceiros.

A indecência atingia seus píncaros na GEA, empresa de Alessandro Moggi, que tinha as contas da maioria dos jogadores da Juventus, controlava o mercado de pelo menos cinco outras equipes e ‘roubava’ atletas de empresários chantageando os jogadores com uma ’impossibilidade’ de atuar pelos maiores clubes do país.

Pois bem: o responsável pela investigação da ramificação ‘Agentes’ do escândalo do futebol italiano, Antonio Catricala, presidente da entidade anti-truste da Itália, foi pedir conselhos a Marcello Lippi, pai de um dos maiores envolvidos no caso. Depois, saiu-se com a ‘dica’ de como seria a nova legislação: “Severa, mas não exagerada”.

Ao invés de proibir a atividade de agentes que tenham parentes envolvidos no esporte, eles só não poderão negociar ‘diretamente’ com esses parentes. Ou seja: nada impedirá que dois agentes trabalhem juntos, por exemplo, com contatos próximos em mais de um clube. Na verdade, isso era exatamente o que acontecia na malfadada GEA. Pode esperar mais lama, porque o que surgia como uma “Operação Mãos Limpas” deve acabar embebida da lama mais fétida possível. E ainda, pagando de inocente…

A Azzurra de Totti

Houve um tempo no qual a seleção nacional era o objetivo de todo jogador. Jogava-se no clube com um olho na convocação do treinador, ou o ‘dirigente técnico’, como se chama na Itália. Hoje, tudo mudou.

O problema não é exclusivo da Itália. Também os brasileiros adoram inventar uma dorzinha repentina para evitar um amistoso contra o Burundi. Mas a questão na Itália está chegando a um ponto tal que o treinador Roberto Donadoni não consegue mais fazer suas convocações. Um dos maiores sinais de como a ‘Azzurra’ está desvalorizada é a presença – ou não – de Francesco Totti na seleção.

Não resta dúvida de que Totti tenha espaço no time titular da seleção italiana. Contudo, a discussão em torno da ‘Azzurra’ desde que acabou a Copa do Mundo é sobre se o italiano dará ou não o ar de sua graça e quando ele acabará com a agonia da torcida.

A performance de Totti na Roma é uma indiscutível. O capitão não é o maior artilheiro da história do clube à toa. Com uma visão ímpar, precisão no arremate, personalidade, Totti é o nome que carrega a Roma há anos, em fases difíceis ou gloriosas.

Com a camisa azul, no entanto, Totti nunca foi o jogador do Olímpico, por uma série de razões. Não sente a confiança que sente em Roma, dificilmente joga com a mesma liberdade que seus treinadores lhe dão no time. Na ‘Azzurra’, poucas vezes Totti foi além de um bom jogador.

Depois da Copa, no entanto, Totti e sua possível aposentadoria tornaram-se uma espécie de obsessão. Logo após o torneio, o capitão romanista afirmou que precisaria estudar a possibilidade de se aposentar, e mesmo quando Roberto Donadoni foi indicado, ainda relutou.

Agora, compreensivelmente, Donadoni também não está com pressa de chamá-lo de volta. E a pressão da mídia por um determinado nome (como tivemos no Brasil por Romário, Robinho, ou o R de plantão) pode tornar-se uma neurose – como parece estar acontecendo neste caso.

O fato é que a Itália precisa de Totti, sim, mas não é a mesma dependência que a Argentina tinha de Maradona, o Brasil de Pelé ou a França de Zidane. Totti é um ícone na Roma, mas não na seleção. O frenesi atual é mediático E muito pouco além disso.

Esta é a convocação de Roberto Donadoni para o jogo contra a Turquia.

Goleiros: Buffon (Juventus) e Amelia (Livorno);

Defensores: Cannavaro (Real Madrid), Barzagli (Palermo), Zaccardo
(Palermo), Zambrotta (Barcellona), Oddo (Lazio), Materazzi (Inter),
Pasqual (Fiorentina);

Meio-campistas: Camoranesi (Juventus), De Rossi (Roma), Mauri
(Udinese), Aquilani (Roma), Brocchi (Milan), Palombo (Sampdoria),
Barone (Torino);

Atacantes: Iaquinta (Udinese), Di Natale (Udinese), Gilardino
(Milan), Rocchi (Lazio).

Seleção Trivela da 12a rodada:

De Lucia (Parma); Brocchi (Milan), Iuliano (Messina) Oddo (Lazio); Buscé (Empoli), Rosina (Torino), Palombo (Samp), Simplício (Palermo) e Mauri (Lazio); Totti (Roma); Rocchi (Lazio)

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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