“Siamo pronti!”

A Alemanha tem sido motivo de risada e chacota para muita gente. Klinsmann é criticado até pela cor das meias de sua prima e para muita gente, os anfitriões estarão de férias já depois da fase de grupo. Ninguém se lembra de como o Brasil era igualmente achincalhado há exatos quatro anos.

Mesmo assim, a Itália encarou os alemães com a seriedade que eles merecem. Sim, o jogo do Artemio Franchi foi um amistoso, mas pela primeira vez em muitíssimo tempo, os jogadores vestiram a camisa azul com o sangue na garganta e num clima de Copa do Mundo. O resultado foi qe quanfo o árbitro espanhol Mejuto Gonzalez apitou o final do primeiro tempo, a “Azzurra” saiu de campo ovacionada com um agradável placar de 3 a 0.

O trabalho de Marcello Lippi parece ter começado a surtir efeito na hora certa. Depois de quase dois anos sem muita graça, a Itália jogou um futebol envolvente, preciso, objetivo. Isso sem contar com Zambrotta, Totti e Gattuso, titulares praticamente certos.

Os engraçadalhos hão de chacotear Gattuso da mesma forma que fazem com a Alemanha, mas ignoram solenemente que o buldogue milanista é o jogador que mais faz desarmes na Série A (o que não é pouco) e tem um histórico de suspensões mínimo para a sua posição.

O molde de seleção que Lippi vem montando conta com um meio-campo espinhoso. Justamente neste setor que a Itália finalizou a Alemanha. Mesmo com teoricamente um homem a menos (4-3-3 contra 4-4-2), o time de Lippi manteve a Alemanha longe da bola com um bom passe e uma grande movimentação dos jogadores de faixa lateral (Zaccardo-Grosso na defesa e Del Piero-Glardino no ataque) para assegurar maioridade numérica.

O grande problema da Itália há tempos é a falta de um armador. Lippi tem, aparentemente, uma solução para o problema com Pirlo (bem com a Itália, mas mal no Milan). Com Gattuso para cobrir seus espaços (De Rossi, no amistoso contra a Alemanha), mais as incursões de Camoranesi e Zambrotta, os italianos têm sim como agredir e municiar atacantes inegavelmente talentosos.

O resultado de 4 a 1 é o que menos importa para Lippi. Talvez seja relevante em relação à paz que a imprensa deve proporcionar, mas o realmente valioso é que a Itália se deu conta de que pode ser de fato um time perigoso. Ainda ‘e cedo para um veredicto, mas tudo leva a crer que o grupo italiano que vai à Copa deve ser o melhor desde 1994.

ITALIA-ALEMANHA 4-1 (primeiro tempo 3-0)
Gols: Gilardino aos 4′, Toni aos 7′, De Rossi aos 39′ p.t.; Del Piero aos 12′, Huth (Alemanha) aos 37′ s.t.

ITALIA (4-3-3): Buffon; Zaccardo, Nesta (36′ s.t. Materazzi), Cannavaro, Grosso; Camoranesi (44′ s.t. Pasqual), Pirlo (29′ s.t. Barone), De Rossi; Gilardino (19′ s.t. Perrotta), Toni, Del Piero (36′ s.t. Iaquinta).

ALEMANHA (4-4-2): Lehmann; Friedrich, Huth, Mertesacker (1′ s.t. Metzelder), Lahm; Deisler, Frings (23′ s.t. Borowski), Ballack, Schneider (23′ s.t. Schweinsteiger); Podolski (1′ s.t. Asamoah), Klose.

A Inter quer Benitez. Sério…

O fracasso da próxima temporada interista começa a se desenhar agora. Não, o leitor não leu errado. O fracasso da próxima temporada. A Inter já fez contato com os agentes do treinador do Liverpool, Rafa Benítez, para tê-lo ao comando do clube a partir de julho deste ano.

A referência à próxima temporada não é puro pessimismo. Mais uma vez o clube de Appiano Gentile se volta para o caminho da mudança de técnico/jogadores para tentar voltar a vencer alguma coisa que não seja a Copa Itália. E por melhor que Benitez seja, vencer na Inter é uma tarefa muito mais dura do que em qualquer outro clube do G14.

Bastidores: Benitez exige do clube inglês um orçamento de cerca de £30 milhões (€43,7 milhões) para continuar no clube no ano que vem. Pode parecer muita folga, visto que o técnico tem contrato por mais cinco anos em Anfield, mas é que o espanhol está ciente de que além da Inter, também o Real Madrid está interessado. E assim, mesmo sob contrato, a ‘chantagem’ tem seu espaço.

Lembrete 1: o interesse interista lembra muito a situação de Hector Cuper no Valencia, com dois detalhes diferentes. O primeiro é que Cuper tinha “só” chegado à final da Liga dos Campeões duas vezes seguidas com o Valencia, enquanto Benitez venceu a LC com o Liverpool. A segunda diferença é que os ‘Reds’ não querem deixar Benitez ir, enquanto o Valencia não estava feliz com Cuper. Isso à parte, o perfil dos dois treinadores é bastante semelhante.

Lembrete 2: mesmo sem estar fazendo uma campanha dos sonhos, vale lembrar que esta temporada é a melhor da Inter desde a primeira de Cuper, quando o time foi vice-campeão ao perder para a Lazio no Olímpico. O técnico Roberto Mancini não se revelou um gênio sagrado, mas o fato é que ninguém poderia competir com uma Juventus que viaja numa velocidade supersônica.

Lembrete 3: a Inter ainda precisa jogar bola para se garantir na próxima LC, visto que Fiorentina e Roma têm times competitivos. Não ajuda em nada o fato dos jogadores saberem que o treinador está na corda bamba. É notório que jogadores de futebol não têm muitos escrúpulos para fazer corpo mole quando querem torrificar treinadores que não lhes aprazem. Se Mancini tiver muitos inimigos no vestiário da Inter, é bom começar a fazer a sua malinha.

Bem-vindo de volta, Zeman

Zdenek Zeman está de volta ao futebol. O treinador mais corajoso do futebol italiano foi contratado pelo Brescia, atualmente quinto colocado na Série B, para conduzir o clube de volta à Série A. Zeman assume o lugar de Rolando Maran, retornando depois de ter deixado o Lecce no final da temporada anterior.

Para alguns, Zeman é um treinador de nível inferior. As quantidades assombrosas de gols que seus times sofrem fazem dele uma presa fácil para seus críticos, especialmente na Itália. Apóstolo radical do futebol ofensivo, Zeman não liga para sofrer sete gols se seu time fizer oito. E defende suas convicções com argumentos técnicos muito claros e sólidos, sem apelar para presepadas do tipo “futebol alegre”, “dibre (sic) no meio de campo” ou “virilidade”.

Mas a maior virtude de Zeman, na modesta opinião desta coluna, é a sua coragem para desafiar o ‘establishment’ de peito aberto do futebol italiano. O treinador tcheco não se acovarda em fazer suas acusações em público, como a grande maioria dos jogadores e técnicos, que falam em “off”, mas depois desmentem tudo vigorosamente.

Zeman foi o responsável por falar em público algo que todo mundo já comentava no futebol – o doping. E uma posterior investigação provou que o futebol está mergulhado no doping – não só na Itália. As punições só não ocorreram porque os envolvidos realmente têm muito poder. Que seja bem-vindo.

– O volante Pazienza, da Udinese e emprestado à Fiorentina, ficará cerca de seis meses afastado dos gramados, lesionado no joelho.

– Zdenek Zeman revelou que estava acertado para ir para o Parma caso o clube emiliano fosse mesmo vendido.

– Esta é a seleção da 28ª rodada do campeonato italiano.

– Bucci (Parma); Saviano (Reggina), Mexes (Roma) e Kaladze (Milan); Mancini (Roma), De Rossi (Roma), Tiribocchi (Chievo), Emerson (Juventus), Nedved (Juventus); Figo (Inter) e Filippo Inzaghi (Milan).

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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